São Paulo, sábado, 04 de maio de 2002

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Manifestantes cercam o treinador no centro do Rio e chutam seu carro

Torcida encurrala Scolari por Romário

SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO

Às vésperas da convocação para a Copa do Mundo, a campanha em favor do atacante Romário ficou mais agressiva.
Ontem à tarde, o técnico da seleção brasileira, Luiz Felipe Scolari, quase foi agredido por cerca de 50 torcedores que promoveram uma manifestação pró-Romário em frente à sede da Confederação Brasileira de Futebol, no Rio.
Ao deixar o prédio da entidade, onde a comissão técnica se reuniu, ele foi cercado pelos manifestantes, que o hostilizaram e pediram a convocação do jogador.
Protegido apenas por integrantes da comissão técnica, o treinador teve dificuldades para percorrer um trajeto de 30 metros entre a portaria e a avenida Rio Branco, onde um carro o aguardava.
A avenida é um dos pontos mais movimentados do centro carioca.
Depois de gritarem por Romário, os torcedores deram socos e chutes no carro que levou Scolari para o aeroporto. De lá, ele seguiu para Porto Alegre.
O jogador condenou a atitude da torcida na porta da CBF.
""Uma manifestação de carinho sempre é bem vinda, desde que não tenha violência. Se for para ser assim, é melhor que não exista", afirmou Romário.
A reação da torcida surpreendeu a comissão técnica e a CBF. Scolari ficou cerca de uma hora na sede da entidade esperando a situação acalmar para sair.
Nenhum dirigente da entidade apareceu na portaria para ajudar o treinador, que teve que ir até a avenida Rio Branco com a escolta improvisada de três companheiros de comissão técnica: Flávio Teixeira, auxiliar técnico, Paulo Paixão, preparador físico, e o roupeiro Rogelson Barreto.
Em entrevistas recentes, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, já declarou que é a favor da convocação do atacante Romário, do Vasco, para a Copa do Mundo.
Scolari, que esteve na entidade para acertar os últimos detalhes da lista de convocados para a Copa do Mundo, que será anunciada na segunda-feira, não comentou a reação dos torcedores. Na quinta-feira, ele já havia adiantado que, ontem, não daria entrevista.
"Queria mostrar toda a minha indignação com a ausência do Romário da seleção brasileira. Acho que eu consegui", comemorava o estudante de teatro Gerônimo Castro Neto, 26, que decidiu ir até a porta da CBF para protestar depois de ouvir no rádio que o treinador estaria no Rio.
"O Felipão ficou impressionado. Na saída da CBF, ele disse que tínhamos que ter paciência, que tudo tem a sua hora. Depois que viu a coisa preta, ele ficou calado e apressou o passo", acrescentou o estudante, morador de Itaboraí, município a 45 km do Rio.
A manifestação em favor de Romário foi espontânea. ""Eu estava fazendo uma entrega aqui por perto. Quando entrei nesta rua fiquei sabendo que o Felipão estava ali e não resisti. Peguei a foto do Romário que fica na minha bolsa e me juntei à galera. Ele sentiu a pressão. Agora, acho que o Romário será chamado", disse o motoboy Luciano Silva, 40, que torce pelo Botafogo.
Apesar do lobby, o jogador dificilmente será chamado para disputar a Copa deste ano.
O atacante do Vasco só foi chamado uma vez por Scolari, que assumiu a seleção em 12 de junho do ano passado. Romário atuou na estréia do treinador na equipe, em julho de 2001. Na ocasião, a seleção perdeu para o Uruguai por 1 a 0, em Montevidéu, pelas eliminatórias do Mundial. Desde então, Romário não foi mais convocado por Scolari.
Problemas extra-campo entre o treinador e o atacante ocorreram no Uruguai. Mesmo fora dos planos do treinador, o lobby em favor da convocação do jogador é forte. Até o presidente Fernando Henrique Cardoso já disse que gostaria de ver Romário na Copa.



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