São Paulo, segunda-feira, 04 de junho de 2001

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FUTEBOL
Vocação para o opaco

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Corinthians 2 x 0 Ponte Preta valeu pelo segundo tempo, repleto de chances de gol para ambos os times. A primeira etapa foi burocrática, sem imaginação e truncada por faltas no meio de campo.
O placar final foi cruel demais para a Ponte, pois a partida foi equilibrada.
O time campineiro marcou bem, quase anulando Marcelinho e Ricardinho, mas atacou errado, sobretudo no primeiro tempo, quando insistia em jogadas pelo meio.
Só quando já estava com dois gols de desvantagem no placar, o que a obrigou a partir mais incisivamente para o ataque, a Ponte abriu brechas para os contra-ataques corintianos. Se Ewerthon estivesse numa tarde mais feliz, a vantagem corintiana poderia ter sido ainda maior.
Sei que nada está definido, mas está pintando uma final entre Corinthians e Grêmio na Copa do Brasil.
Na última vez que aconteceu isso, em 95, deu Corinthians. Nos elencos atuais dos dois times, salvo engano, só o gremista Danrlei e o corintiano Marcelinho disputaram aquela final. Marcelinho, aliás, fez gols nos dois jogos.
Escrevi acima que o primeiro tempo de Corinthians x Ponte foi burocrático e sem imaginação. Mas, comparado com o empate sem gols entre Brasil e Canadá, a partida de Rio Preto foi uma montanha-russa de emoções.
Confesso que só assisti à partida do Brasil em VT e imagino a raiva de quem acordou cedo para ver "aquilo".
O time de Leão não chegou a jogar mal. Foi apenas medíocre, anódino, chocho. A cara, em suma, do técnico e da maioria de seus convocados.
Evito falar mal do trabalho do treinador, levando em conta os problemas que enfrenta -pouco tempo para treinar, resistência dos clubes, dificuldade de contar com os melhores-, mas começo a achar que ele não é mesmo o homem talhado para comandar a seleção.
Embora tenha falado em "futebol bailarino", Leão parece estar confirmando uma certa vocação para a mediocridade.
Nos clubes pelos quais passou, com elenco permanente e tempo para treinar, montou equipes aguerridas e competitivas, mas pouco brilhantes.
Na seleção, é preciso mais do que isso. Se "não existe mais ninguém bobo no futebol", como reza o clichê, a hora não é de nivelar por baixo, mas justamente do contrário: buscar sair do lugar-comum, usar a criatividade, inventar, ousar.
Ao deixar no banco um jogador como Vampeta, só porque foi mal no primeiro tempo da partida contra Camarões, e colocar em seu lugar o limitado Leomar, Leão demonstrou preferir, em vez do risco, um futebol opaco e previsível.
Em outras palavras: de um Vampeta, por pior fase em que esteja, dá para esperar alguma coisa; de um Leomar, não.
Isso é ainda mais grave quando se pensa que o jogo era contra o modestíssimo Canadá, pior time do torneio e 71º colocado no ranking da Fifa.
Leão mostrou também sua veia autoritária ao criticar os torcedores japoneses por não irem em massa ver as partidas do Brasil. Ora, se alguém tem que se desculpar é a seleção, pelo pífio espetáculo oferecido aos torcedores.

Drama no escuro
Se o gol mais cruel da semana passada foi o de Petkovic, no apagar das luzes de Fla x Vasco, o de ontem foi o de Alessandro, do América-MG, que fez o Atlético morrer na praia após ter revertido a vantagem de três gols do rival no primeiro jogo. Foi uma final sui generis: começou com quase meia hora de atraso, teve confusão desde antes do pontapé inicial e terminou, literalmente, no escuro. Um retrato perfeito do Brasil atual.


Revolta dekasegui
A melhor definição da seleção brasileira -ou, pelo menos, a mais saborosa- não foi dada por nenhum técnico, jogador ou jornalista esportivo, mas por uma torcedora de 16 anos, a paulista Daniela Takeda, que viu "in loco" o melancólico empate com o Canadá. "Bando de cuecão de couro", desabafou ela ao enviado da Folha Fabio Victor. Grande garota. Nem tudo está perdido.
E-mail jgcouto@uol.com.br



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