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FUTEBOL
Vocação para o opaco
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Corinthians 2 x 0 Ponte
Preta valeu pelo segundo
tempo, repleto de chances de gol
para ambos os times. A primeira
etapa foi burocrática, sem imaginação e truncada por faltas no
meio de campo.
O placar final foi cruel demais
para a Ponte, pois a partida foi
equilibrada.
O time campineiro marcou
bem, quase anulando Marcelinho e Ricardinho, mas atacou
errado, sobretudo no primeiro
tempo, quando insistia em jogadas pelo meio.
Só quando já estava com dois
gols de desvantagem no placar,
o que a obrigou a partir mais incisivamente para o ataque, a
Ponte abriu brechas para os
contra-ataques corintianos. Se
Ewerthon estivesse numa tarde
mais feliz, a vantagem corintiana poderia ter sido ainda maior.
Sei que nada está definido,
mas está pintando uma final
entre Corinthians e Grêmio na
Copa do Brasil.
Na última vez que aconteceu
isso, em 95, deu Corinthians.
Nos elencos atuais dos dois times, salvo engano, só o gremista
Danrlei e o corintiano Marcelinho disputaram aquela final.
Marcelinho, aliás, fez gols nos
dois jogos.
Escrevi acima que o primeiro
tempo de Corinthians x Ponte
foi burocrático e sem imaginação. Mas, comparado com o empate sem gols entre Brasil e Canadá, a partida de Rio Preto foi
uma montanha-russa de emoções.
Confesso que só assisti à partida do Brasil em VT e imagino a
raiva de quem acordou cedo para ver "aquilo".
O time de Leão não chegou a
jogar mal. Foi apenas medíocre,
anódino, chocho. A cara, em suma, do técnico e da maioria de
seus convocados.
Evito falar mal do trabalho do
treinador, levando em conta os
problemas que enfrenta -pouco tempo para treinar, resistência dos clubes, dificuldade de
contar com os melhores-, mas
começo a achar que ele não é
mesmo o homem talhado para
comandar a seleção.
Embora tenha falado em "futebol bailarino", Leão parece estar confirmando uma certa vocação para a mediocridade.
Nos clubes pelos quais passou,
com elenco permanente e tempo
para treinar, montou equipes
aguerridas e competitivas, mas
pouco brilhantes.
Na seleção, é preciso mais do
que isso. Se "não existe mais
ninguém bobo no futebol", como reza o clichê, a hora não é de
nivelar por baixo, mas justamente do contrário: buscar sair
do lugar-comum, usar a criatividade, inventar, ousar.
Ao deixar no banco um jogador como Vampeta, só porque
foi mal no primeiro tempo da
partida contra Camarões, e colocar em seu lugar o limitado
Leomar, Leão demonstrou preferir, em vez do risco, um futebol
opaco e previsível.
Em outras palavras: de um
Vampeta, por pior fase em que
esteja, dá para esperar alguma
coisa; de um Leomar, não.
Isso é ainda mais grave quando se pensa que o jogo era contra o modestíssimo Canadá,
pior time do torneio e 71º colocado no ranking da Fifa.
Leão mostrou também sua
veia autoritária ao criticar os
torcedores japoneses por não
irem em massa ver as partidas
do Brasil. Ora, se alguém tem
que se desculpar é a seleção, pelo
pífio espetáculo oferecido aos
torcedores.
Drama no escuro
Se o gol mais cruel da semana passada foi o de Petkovic, no
apagar das luzes de Fla x Vasco, o de ontem foi o de Alessandro,
do América-MG, que fez o Atlético morrer na praia após ter revertido a vantagem de três gols do rival no primeiro jogo. Foi
uma final sui generis: começou com quase meia hora de atraso,
teve confusão desde antes do pontapé inicial e terminou, literalmente, no escuro. Um retrato perfeito do Brasil atual.
Revolta dekasegui
A melhor definição da seleção brasileira -ou, pelo menos, a
mais saborosa- não foi dada por nenhum técnico, jogador ou
jornalista esportivo, mas por uma torcedora de 16 anos, a paulista Daniela Takeda, que viu "in loco" o melancólico empate
com o Canadá. "Bando de cuecão de couro", desabafou ela ao
enviado da Folha Fabio Victor. Grande garota. Nem tudo está
perdido.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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