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FUTEBOL
Espelho invertido
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
O "Guia do Segundo Turno
do Brasileirão 2004", editado pela revista "Placar", traz uma
relação impressionante: a dos 112
jogadores que deixaram seus clubes no decorrer do atual campeonato. Dava para formar dez times
com eles. A grande maioria foi
para equipes do exterior.
Sempre lamentamos, com razão, essa debandada dos melhores futebolistas do país. Mas é possível ver a questão pelo ângulo reverso: como seria bom que profissionais brasileiros de outras categorias (engenheiros, cineastas,
metalúrgicos, técnicos em eletrônica e um extenso etc.) fossem disputados no exterior a peso de ouro, ou melhor, de euro.
O êxito do futebolista brasileiro
lança uma luz incômoda sobre
nosso fracasso em quase todas as
outras áreas, com poucas exceções (uma delas é a música, em
que o talento nacional é muito
valorizado).
Virou lugar-comum dizer que o
futebol brasileiro é um espelho do
país. Só que, nesse caso específico,
é um espelho invertido.
A simpática visita da seleção feminina de futebol à concentração
da seleção masculina em Teresópolis produziu uma situação curiosa. Por um lado, as moças estavam diante de seus ídolos, os craques que encarnam o ponto mais
alto a que se chegou no futebol
mundial. Por outro lado, os marmanjos não escondiam a inveja
da medalha de prata que elas ostentavam -um prêmio que muitos deles tiveram condições de ganhar, mas fracassaram no meio
do caminho.
De qualquer modo, foi uma
confraternização bonita. Uma
aproximação entre o time feminino e o masculino só pode ser positiva para ambos.
As mulheres ganham porque,
por mais que tenham evoluído
nos últimos anos, ainda têm muito a aprender com os homens em
termos de técnica e experiência.
Os homens talvez ganhem um
pouco do espírito de luta e de solidariedade ao lembrar, vendo as
jogadoras, os tempos em que precisavam batalhar muito para ganhar o seu pão de cada dia.
Muito desagradável essa história de Ronaldo apoiar a CBF e
criticar seus companheiros de
profissão que não atuaram na
partida festiva contra o Haiti. Como a Soninha bem lembrou, o
próprio Ronaldo passou por uma
situação semelhante alguns anos
atrás, por ocasião de uma partida
da seleção em Sydney.
Ronaldo goza há muitos anos
de uma situação privilegiada na
seleção. Nenhum outro jogador,
nem mesmo Pelé, teve as prerrogativas que ele teve, entre elas a
de manter a posição de titular absoluto mesmo quando estava sem
jogar havia muitos meses.
Talvez essas deferências todas
tenham distanciado Ronaldo de
seus colegas, dando-lhe a sensação de pertencer a uma categoria
à parte. Mas, dentro de campo,
quem vai construir as jogadas para que ele brilhe? Ricardo Teixeira? Agnelo Queiroz? Lula? Ou Dida, Cafu, Kaká, Zé Roberto?
Leão tricolor
O São Paulo, ao que parece, tem
elenco para produzir um futebol melhor do que o que vem
apresentando. A missão de
Leão é essa: desatar os nós que
estão emperrando o rendimento do time. Tem grandes chances, não por ser um "disciplinador" (afinal, Cuca não policiava os atletas até na vida privada?),
mas simplesmente porque é
um ótimo treinador.
Santos de Ricardinho
A vitória do Santos sobre o Juventude em Caxias foi importante não apenas pelos pontos
conquistados contra um concorrente direto mas também
por mostrar que o time não é
assim tão dependente do talento de Robinho. E a melhor notícia é a volta de Ricardinho ao
esplêndido futebol de seus tempos de Corinthians.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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