São Paulo, sábado, 04 de setembro de 2004

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FUTEBOL

Espelho invertido

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

O "Guia do Segundo Turno do Brasileirão 2004", editado pela revista "Placar", traz uma relação impressionante: a dos 112 jogadores que deixaram seus clubes no decorrer do atual campeonato. Dava para formar dez times com eles. A grande maioria foi para equipes do exterior.
Sempre lamentamos, com razão, essa debandada dos melhores futebolistas do país. Mas é possível ver a questão pelo ângulo reverso: como seria bom que profissionais brasileiros de outras categorias (engenheiros, cineastas, metalúrgicos, técnicos em eletrônica e um extenso etc.) fossem disputados no exterior a peso de ouro, ou melhor, de euro.
O êxito do futebolista brasileiro lança uma luz incômoda sobre nosso fracasso em quase todas as outras áreas, com poucas exceções (uma delas é a música, em que o talento nacional é muito valorizado).
Virou lugar-comum dizer que o futebol brasileiro é um espelho do país. Só que, nesse caso específico, é um espelho invertido.
 
A simpática visita da seleção feminina de futebol à concentração da seleção masculina em Teresópolis produziu uma situação curiosa. Por um lado, as moças estavam diante de seus ídolos, os craques que encarnam o ponto mais alto a que se chegou no futebol mundial. Por outro lado, os marmanjos não escondiam a inveja da medalha de prata que elas ostentavam -um prêmio que muitos deles tiveram condições de ganhar, mas fracassaram no meio do caminho.
De qualquer modo, foi uma confraternização bonita. Uma aproximação entre o time feminino e o masculino só pode ser positiva para ambos.
As mulheres ganham porque, por mais que tenham evoluído nos últimos anos, ainda têm muito a aprender com os homens em termos de técnica e experiência. Os homens talvez ganhem um pouco do espírito de luta e de solidariedade ao lembrar, vendo as jogadoras, os tempos em que precisavam batalhar muito para ganhar o seu pão de cada dia.
 
Muito desagradável essa história de Ronaldo apoiar a CBF e criticar seus companheiros de profissão que não atuaram na partida festiva contra o Haiti. Como a Soninha bem lembrou, o próprio Ronaldo passou por uma situação semelhante alguns anos atrás, por ocasião de uma partida da seleção em Sydney.
Ronaldo goza há muitos anos de uma situação privilegiada na seleção. Nenhum outro jogador, nem mesmo Pelé, teve as prerrogativas que ele teve, entre elas a de manter a posição de titular absoluto mesmo quando estava sem jogar havia muitos meses.
Talvez essas deferências todas tenham distanciado Ronaldo de seus colegas, dando-lhe a sensação de pertencer a uma categoria à parte. Mas, dentro de campo, quem vai construir as jogadas para que ele brilhe? Ricardo Teixeira? Agnelo Queiroz? Lula? Ou Dida, Cafu, Kaká, Zé Roberto?

Leão tricolor
O São Paulo, ao que parece, tem elenco para produzir um futebol melhor do que o que vem apresentando. A missão de Leão é essa: desatar os nós que estão emperrando o rendimento do time. Tem grandes chances, não por ser um "disciplinador" (afinal, Cuca não policiava os atletas até na vida privada?), mas simplesmente porque é um ótimo treinador.

Santos de Ricardinho
A vitória do Santos sobre o Juventude em Caxias foi importante não apenas pelos pontos conquistados contra um concorrente direto mas também por mostrar que o time não é assim tão dependente do talento de Robinho. E a melhor notícia é a volta de Ricardinho ao esplêndido futebol de seus tempos de Corinthians.

E-mail jgcouto@uol.com.br


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