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MOTOR
Autoflagelação
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE
Barrichello teve um dia de
cão em Indianápolis. A reconstrução parcial desse dia vem
a seguir e evidencia a situação em
que ele se colocou no momento
em que trocou o papel de piloto de
F-1 para o de piloto da Ferrari.
A classificação do sábado rende
páginas e páginas a Kimi Raikkonen, mas poucos centímetros à situação mais interessante do grid,
Barrichello, em segundo, exatamente à frente de Montoya. Schumacher, em sétimo, parece hipótese improvável. Enfim, o mundo
da F-1 amanhece e toma o café
imaginando que a largada do GP
dos EUA será decidida entre três
pilotos, mas não os três que decidem o título. Ou seja, Barrichello
está sob enorme pressão.
Já no autódromo, procura
Montoya e mantém com ele uma
conversa reservada. O piloto brasileiro está lá para dar satisfações,
não apenas ao colega colombiano, um amigo, mas indiretamente para a Williams, sua única opção de mercado -já ouviu um
"chegou tarde" da McLaren, alusivo à contratação de Montoya.
Luzes vermelhas acesas e apagadas. Barrichello larga mal,
Montoya também. Estavam do
lado sujo da pista, ficam para
trás, Schumacher e outros ultrapassam fácil. É o suficiente para o
Galvão pergunta no ar se a Ferrari teria tido a coragem de fazer jogo de equipe logo na largada.
Pouco depois, chama a atenção
também uma manobra estranha.
Barrichello abre descaradamente
para Coulthard e recoloca sua
Ferrari no trilho exatamente à
frente de Montoya. O duelo, mais
do que interessante para o campeonato, dura pouco. Em ritmo
de desespero, Montoya toca em
Barrichello, e este sai da pista.
Da caixa de brita onde seu carro ficou até os boxes da Ferrari,
cumpre a distância correndo, sem
parar e sem tirar o capacete. Parece ter pressa de falar com a escuderia. Demora mais que o de
costume por lá, sai e fala à TV:
"Câmbio... segunda marcha engasgou... tive que abrir... dei espaço suficiente para Montoya". Jogo
de equipe na largada? "Não me
colocaria jamais nessa situação."
Em seguida, é a vez de o colega
Fábio Seixas perguntar: "Alguma
bronca do Montoya?". Não há
resposta. Pouco depois, sem microfone, Barrichello discute rispidamente com o repórter. Por quê?
Barrichello soube se controlar
ao falar da largada, mas, por alguma razão, explodiu ao ser
questionado pelo acidente. Naquele momento, talvez não soubesse que a imagem da TV afastava especulações. Pecou pela boca.
Barrichello tinha ordens, como
todos tinham desde os briefings
da manhã. Pode até não tê-las
cumprido, mas deixou o carro
achando que o mundo achava
que havia feito isso ou aquilo. E,
no momento de cobrar o time pela situação em que imaginou ter
se colocado, foi surpreendido por
uma reprimenda, não ter cumprido seu trabalho, não ter se preservado em um GP de sobrevivência.
Barrichello não fez nada de tão
grave em Indianápolis, mas se
achou fazendo e, devido à sua atitude, será cobrado por quem acha
que fez e por quem não acha.
O último domingo foi mesmo
um dia de cão para Barrichello.
Mas quem apertou a coleira?
Reflexo 1
Espetacular, a vitória de Schumacher caiu como um tijolo na cabeça
de muita gente na F-1, não apenas na de Barrichello. Na de Montoya,
evidente, mas também na de Ralf, que resolveu falar de um suposto
erro de pit da Williams e levou bronca da BMW. Talvez seja cedo para falar isso, mas é bem provável que muito do que aconteceu nos
EUA terá enorme reflexo na composição do próximo campeonato.
Reflexo 2
O formato proposto pelos times, matar a sexta e engordar o sábado,
nada mais é que reflexo da profunda crise que se instalou na categoria. Pelo menos não levaram a sério a idéia de Ecclestone, que queria
a classificação no domingo. Agora, uma pergunta: será que a TV vai
transmitir uma hora e meia de classificação na manhã de sábado?
E-mail mariante@uol.com.br
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