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São Paulo, sábado, 04 de outubro de 2003

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FUTEBOL

O "Reizinho do Parque"

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Sei que o assunto do dia é o clássico SanSão, definindo quem vai avançar e quem vai continuar comendo poeira na tentativa de se aproximar do líder Cruzeiro.
Mas não resisto a comentar um fato de peso simbólico muito maior: a volta de Rivellino ao Parque São Jorge, depois de três décadas de exílio.
Nos anos 60, quando minha infância se confundia com o futebol, cada time tinha uma cara muito precisa, que correspondia a seu craque principal.
O Santos, obviamente, era Pelé, ou seja, um futebol majestoso, completo, sem jaça.
O Palmeiras da Academia se confundia com o rosto sereno e os pés de veludo de Ademir da Guia, imobilizando os adversários com o ritmo do pesadelo, como cantou o poeta João Cabral de Melo Neto.
E o Corinthians era Rivellino: genioso, explosivo, ciclotímico. O antípoda perfeito do divino Ademir. Se o estilo do maestro palmeirense era o do ritmo constante, do deslizar macio e sem sobressaltos, o "Reizinho do Parque" era todo arestas e faíscas.
Movido pela eletricidade de seus rompantes, Rivellino era capaz de desconcertar os adversários com seus dribles vertiginosos e de furar as redes com seus petardos de canhota.
Mas podia também consumir-se em seu próprio calor e, na fase depressiva do ciclo, cair numa dolorosa impotência.
Os dois craques, os dois estilos, enfrentaram-se num momento crucial para a história que agora fecha seu círculo: a final do Campeonato Paulista de 1974.
O Corinthians amargava 20 anos de fila. O Palmeiras, ao contrário, havia sido campeão estadual dois anos antes. Era o único clube paulista capaz de desafiar ocasionalmente a hegemonia do Santos.
O Corinthians tinha vencido o primeiro turno, mas entrara em decadência e acabara o returno em oitavo. Imagem perfeita da instabilidade da equipe, Rivellino tinha ficado suspenso por cinco jogos por agressão a um bandeirinha. O Palmeiras, ao contrário, estava em ascensão e era o favorito para vencer a grande final.
O primeiro confronto terminou em 1 a 1 e empurrou a decisão para o segundo. Na tarde de 22 de dezembro, no Morumbi lotado por 120 mil torcedores, a Fiel viu seu Corinthians, enredado pela câmera lenta de Ademir, ser liquidado por um voleio do obscuro Ronaldo.
Tenso e sem inspiração como todo o time corintiano, Rivellino acabou injustamente responsabilizado pelo fracasso. Magoado, foi jogar no Fluminense, onde integrou um esquadrão inesquecível, ao lado de Carlos Alberto Torres, Edinho, Paulo César Caju, Pintinho e Doval.
Na semifinal do Nacional de 1976, na célebre "invasão corintiana" do Maracanã, Rivellino encarou seu ex-clube e perdeu. No meio da torcida alvinegra abriu-se uma faixa: "Chora, Rivellino".
Se Rivellino chorou, não sei. Sei que agora, tantos anos depois, está de volta a seu reino para juntar as pontas dessa história singular.

Tarefa difícil
Ainda sobre o Corinthians: é impossível prever o que Júnior poderá fazer como técnico pelo time. Dentro de campo, ele foi um craque indiscutível. Como comentarista, também é muito bom. Sabe tudo de bola. Mas um treinador depende sobretudo do elenco à disposição. E o do Corinthians está no osso.

Segunda fila
Santos e São Paulo se enfrentam hoje no Brasileirão, no Morumbi, embalados pela classificação à próxima fase da Sul-Americana. O Santos tem um time mais coeso e um futebol mais fluente, mas o São Paulo, aos trancos e barrancos, acaba às vezes sendo mais eficiente. O Cruzeiro e o Coritiba assistem ao jogo de camarote, torcendo por um empate que faça os dois paulistas marcarem passo.

E-mail jgcouto@uol.com.br


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