|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUTEBOL
O "Reizinho do Parque"
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Sei que o assunto do dia é o
clássico SanSão, definindo
quem vai avançar e quem vai
continuar comendo poeira na
tentativa de se aproximar do líder
Cruzeiro.
Mas não resisto a comentar um
fato de peso simbólico muito
maior: a volta de Rivellino ao
Parque São Jorge, depois de três
décadas de exílio.
Nos anos 60, quando minha infância se confundia com o futebol,
cada time tinha uma cara muito
precisa, que correspondia a seu
craque principal.
O Santos, obviamente, era Pelé,
ou seja, um futebol majestoso,
completo, sem jaça.
O Palmeiras da Academia se
confundia com o rosto sereno e os
pés de veludo de Ademir da Guia,
imobilizando os adversários com
o ritmo do pesadelo, como cantou
o poeta João Cabral de Melo Neto.
E o Corinthians era Rivellino:
genioso, explosivo, ciclotímico. O
antípoda perfeito do divino Ademir. Se o estilo do maestro palmeirense era o do ritmo constante, do deslizar macio e sem sobressaltos, o "Reizinho do Parque"
era todo arestas e faíscas.
Movido pela eletricidade de
seus rompantes, Rivellino era capaz de desconcertar os adversários com seus dribles vertiginosos
e de furar as redes com seus petardos de canhota.
Mas podia também consumir-se em seu próprio calor e, na fase
depressiva do ciclo, cair numa dolorosa impotência.
Os dois craques, os dois estilos,
enfrentaram-se num momento
crucial para a história que agora
fecha seu círculo: a final do Campeonato Paulista de 1974.
O Corinthians amargava 20
anos de fila. O Palmeiras, ao contrário, havia sido campeão estadual dois anos antes. Era o único
clube paulista capaz de desafiar
ocasionalmente a hegemonia do
Santos.
O Corinthians tinha vencido o
primeiro turno, mas entrara em
decadência e acabara o returno
em oitavo. Imagem perfeita da
instabilidade da equipe, Rivellino
tinha ficado suspenso por cinco
jogos por agressão a um bandeirinha. O Palmeiras, ao contrário,
estava em ascensão e era o favorito para vencer a grande final.
O primeiro confronto terminou
em 1 a 1 e empurrou a decisão para o segundo. Na tarde de 22 de
dezembro, no Morumbi lotado
por 120 mil torcedores, a Fiel viu
seu Corinthians, enredado pela
câmera lenta de Ademir, ser liquidado por um voleio do obscuro Ronaldo.
Tenso e sem inspiração como
todo o time corintiano, Rivellino
acabou injustamente responsabilizado pelo fracasso. Magoado, foi
jogar no Fluminense, onde integrou um esquadrão inesquecível,
ao lado de Carlos Alberto Torres,
Edinho, Paulo César Caju, Pintinho e Doval.
Na semifinal do Nacional de
1976, na célebre "invasão corintiana" do Maracanã, Rivellino
encarou seu ex-clube e perdeu. No
meio da torcida alvinegra abriu-se uma faixa: "Chora, Rivellino".
Se Rivellino chorou, não sei. Sei
que agora, tantos anos depois, está de volta a seu reino para juntar
as pontas dessa história singular.
Tarefa difícil
Ainda sobre o Corinthians: é
impossível prever o que Júnior
poderá fazer como técnico pelo
time. Dentro de campo, ele foi
um craque indiscutível. Como
comentarista, também é muito
bom. Sabe tudo de bola. Mas
um treinador depende sobretudo do elenco à disposição. E o
do Corinthians está no osso.
Segunda fila
Santos e São Paulo se enfrentam hoje no Brasileirão, no Morumbi, embalados pela classificação à próxima fase da Sul-Americana. O Santos tem um
time mais coeso e um futebol
mais fluente, mas o São Paulo,
aos trancos e barrancos, acaba
às vezes sendo mais eficiente. O
Cruzeiro e o Coritiba assistem
ao jogo de camarote, torcendo
por um empate que faça os dois
paulistas marcarem passo.
E-mail jgcouto@uol.com.br
Texto Anterior: Motor - José Henrique Mariante: Autoflagelação Próximo Texto: Futebol: Penta rendeu R$ 374 mil a tio de Teixeira Índice
|