São Paulo, segunda-feira, 04 de novembro de 2002

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JOGO QUALQUER

No ABC, nem ambulante fatura

DA REPORTAGEM LOCAL

No mundo real, as coisas são diferentes. Muito diferentes.
A começar pela chegada ao estádio. Nas ruas e avenidas que dão acesso ao Anacleto Campanella, em São Caetano, nenhuma indicação, nenhum policial orientando veículos e torcedores.
Na hora de parar o carro, são duas as opções. Pagar R$ 5 para estacionar na garagem de uma das casas vizinhas ou ficar na mão dos flanelinhas: "Deixa R$ 2 aí, doutor". Estacionamento credenciado é um sonho distante.
A informalidade em torno do estádio fica por aí. E não é mérito da polícia ou da fiscalização. É um sintoma da falta de torcida.
Eram 16h10, ontem, sol a pino no ABC, pouco menos de uma hora para o início de São Caetano x Juventude. Com movimento fraco, não havia uma única barraquinha em torno do estádio.
No comércio oficial, no entanto, havia algumas opções gastronômicas para os torcedores de estômago forte. E todas bem distintas daquelas do jogo modelo.
Na padaria diante do estádio, a menos de 50 m do portão principal, uma costela de porco exposta no balcão era, digamos, curiosa. O sanduíche de pernil, a R$ 3,20, certamente não havia passado pelo crivo da vigilância sanitária.
E era ali que acontecia uma verdadeira festa da cerveja. Desrespeitando a lei que proíbe venda de bebidas alcoólicas a menos de 200 m do estádio, a tal padaria estava lotada de torcedores.
Bebidas destiladas também eram vendidas sem restrições -um copo com dois dedinhos de cachaça saía por R$ 1,50.
Repetindo uma cena vista no Pacaembu, os cambistas deram as caras em São Caetano. Sob vista grossa da PM, ofereciam ingressos para quem se dirigia aos portões do Anacleto Campanella.
O resultado financeiro, porém, foi bem diferente. Ontem, no ABC, eles amargaram prejuízo: as filas nas bilheterias eram pequenas, sobraram lugares no estádio, e os cambistas tiveram que vender entradas abaixo do preço.
Dentro do estádio, as diferenças com o jogo modelo do Ministério dos Esportes continuavam.
Não há, por exemplo, como numerar as cadeiras do Anacleto Campanella. Simplesmente porque o estádio não tem cadeiras.
Apesar de o domingo no ABC ter sido diferente daquele planejado pelo ministério, os torcedores não reclamaram. Para Fernando Palma Canepa, o Cabelo, presidente da torcida organizada Sangue Azul, tudo estava ótimo.
"O que a gente quer é que a Consul [patrocinadora do time" sorteie umas geladeiras e uns fogões de segunda linha aqui no estádio. Aí, quem sabe, a torcida não aumenta?" (FSX)


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