UOL


São Paulo, quarta-feira, 05 de fevereiro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL

Futuro craque mundial

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Com algumas exceções, os times pequenos dos campeonatos de São Paulo e do Rio estão muito fracos. Não assisti os de Minas, já que o campeonato não passa nem na TV paga, mas, certamente, estão no mesmo nível. São Paulo, que sempre se vangloriou de ter ótimas equipes no interior, vive nova realidade. Aliás, o regulamento do Paulista, em que o nono da primeira fase não se classifica, nem joga o torneio dos possíveis rebaixados, ou seja, desaparece, é uma grande piada.
As idiossincrasias não param por aí. Se o horário das 21h40 é péssimo para o torcedor que vai ao campo, o das 11h é horrível para os jogadores. No jogo entre São Paulo e Inter de Limeira fiquei preocupado com a saúde do veterano Válber, que se arrastava em campo desde o início do jogo, sob um fortíssimo calor. Para alívio de todos, Válber contundiu o tornozelo e deixou o campo no início do segundo tempo.
O grande destaque individual do Paulista é Kaká. Desde 2002, é o melhor jogador brasileiro. Se fosse fazer uma análise rigorosa, não deveria ainda chamá-lo de craque, mas Kaká é exceção. Não porque seja bonitinho, e sim porque joga demais. Já é um craque.
Kaká une muita força física e velocidade com bastante habilidade, técnica e inteligência. É um jogador vibrante, determinado, disciplinado e ambicioso, características de um profissional de sucesso, em qualquer atividade.
Porém, há sempre um porém, Kaká precisa aproveitar a sua altura nas jogadas aéreas. Ele também não adquiriu a lucidez de saber o instante exato de tentar a jogada individual e o de passar a bola para o companheiro, como fez no último jogo. Não era o que acontecia. Kaká não precisa ficar ansioso para fazer um belíssimo gol. O grande craque espera o momento certo para brilhar.
Preocupa-me que transformem Kaká em um exemplar mauricinho, num despersonalizado garoto-propaganda, refém do mercado e do sucesso. Além dos riscos de atrapalhar o seu futebol, ele não será um bom exemplo para parte expressiva de jovens que pensam e contestam.
Kaká ainda não é, mas tem tudo para se tornar um fora-de-série, como os dois Ronaldinhos, Rivaldo e Roberto Carlos. O Brasil é pentacampeão não porque produz um grande número de bons e excelentes jogadores, e sim porque revela um pequeno número de craques. São esses que fazem a diferença. Numa Copa do Mundo, o Brasil é favorito porque tem sempre três a quatro excepcionais. As outras principais seleções têm um, no máximo dois.
Antes do Mundial, disse que Kaká já estava pronto para brilhar na Copa. Imaginei que ele seria titular no lugar do Ronaldinho Gaúcho, que não estava bem no Paris St. Germain. Enganei-me. No meio de craques, Ronaldinho confirmou que também é craque. Pelo que vi nos treinos na Ásia, Kaká ainda não estava pronto. O mesmo aconteceu com o jovem Ronaldo na Copa de 94.
Se Kaká se transferir para um dos times mais famosos da Europa, o que parece inevitável, terá boa chance de se tornar um ídolo mundial e de ganhar o título de melhor do ano do mundo.

Quase craque
Athirson é o melhor jogador do Estadual do Rio. É extremamente habilidoso, veloz e tem boa técnica. Porém, sou escravo do porém, depois de tantos anos ainda não descobriu a sua posição em campo. Vai aonde a bola está. É um grande peladeiro. Quase craque.
Diferentemente de outros excelentes laterais-esquerdos que avançam no momento certo, como Roberto Carlos, Kléber, Júnior, Fábio Aurélio e Silvinho, Athirson está sempre fora da posição, mesmo quando não vai receber a bola.
O Flamengo joga com um lateral-direito, dois zagueiros e ninguém na esquerda. Deve ser uma tática inovadora. A justificativa de que o volante ou o zagueiro vai fazer a cobertura não funciona porque não dá tempo, ou a ausência do lateral passa despercebida contra fraquíssimas equipes. Para aproveitar a sua habilidade, Athirson deveria atuar de ala no sistema com três zagueiros ou de meia-esquerda no 4-4-2.
Em todas as épocas, com raras exceções, o grande craque só demonstra o seu talento quando atua numa equipe organizada e descobre a sua melhor posição em campo. Até o imprevisível Garrincha sabia que o seu lugar era na ponta. Só ia para o meio no instante certo, para decidir o jogo.
O mito de que os peladeiros fizeram a história do futebol brasileiro aconteceu na literatura, não dentro de campo.

E-mail
tostao.folha@uol.com.br


Texto Anterior: Tênis - Régis Andaku: Ele, ele... E ele
Próximo Texto: Futebol: Santos volta virgem para a Libertadores
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.