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FUTEBOL
Futuro craque mundial
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Com algumas exceções, os
times pequenos dos campeonatos de São Paulo e do Rio estão
muito fracos. Não assisti os de Minas, já que o campeonato não
passa nem na TV paga, mas, certamente, estão no mesmo nível.
São Paulo, que sempre se vangloriou de ter ótimas equipes no interior, vive nova realidade. Aliás, o
regulamento do Paulista, em que
o nono da primeira fase não se
classifica, nem joga o torneio dos
possíveis rebaixados, ou seja, desaparece, é uma grande piada.
As idiossincrasias não param
por aí. Se o horário das 21h40 é
péssimo para o torcedor que vai
ao campo, o das 11h é horrível para os jogadores. No jogo entre São
Paulo e Inter de Limeira fiquei
preocupado com a saúde do veterano Válber, que se arrastava em
campo desde o início do jogo, sob
um fortíssimo calor. Para alívio
de todos, Válber contundiu o tornozelo e deixou o campo no início
do segundo tempo.
O grande destaque individual
do Paulista é Kaká. Desde 2002, é
o melhor jogador brasileiro. Se
fosse fazer uma análise rigorosa,
não deveria ainda chamá-lo de
craque, mas Kaká é exceção. Não
porque seja bonitinho, e sim porque joga demais. Já é um craque.
Kaká une muita força física e
velocidade com bastante habilidade, técnica e inteligência. É um
jogador vibrante, determinado,
disciplinado e ambicioso, características de um profissional de sucesso, em qualquer atividade.
Porém, há sempre um porém,
Kaká precisa aproveitar a sua altura nas jogadas aéreas. Ele também não adquiriu a lucidez de saber o instante exato de tentar a
jogada individual e o de passar a
bola para o companheiro, como
fez no último jogo. Não era o que
acontecia. Kaká não precisa ficar
ansioso para fazer um belíssimo
gol. O grande craque espera o momento certo para brilhar.
Preocupa-me que transformem
Kaká em um exemplar mauricinho, num despersonalizado garoto-propaganda, refém do mercado e do sucesso. Além dos riscos de
atrapalhar o seu futebol, ele não
será um bom exemplo para parte
expressiva de jovens que pensam
e contestam.
Kaká ainda não é, mas tem tudo para se tornar um fora-de-série, como os dois Ronaldinhos, Rivaldo e Roberto Carlos. O Brasil é
pentacampeão não porque produz um grande número de bons e
excelentes jogadores, e sim porque revela um pequeno número
de craques. São esses que fazem a
diferença. Numa Copa do Mundo, o Brasil é favorito porque tem
sempre três a quatro excepcionais. As outras principais seleções
têm um, no máximo dois.
Antes do Mundial, disse que
Kaká já estava pronto para brilhar na Copa. Imaginei que ele seria titular no lugar do Ronaldinho Gaúcho, que não estava bem
no Paris St. Germain. Enganei-me. No meio de craques, Ronaldinho confirmou que também é
craque. Pelo que vi nos treinos na
Ásia, Kaká ainda não estava
pronto. O mesmo aconteceu com
o jovem Ronaldo na Copa de 94.
Se Kaká se transferir para um
dos times mais famosos da Europa, o que parece inevitável, terá
boa chance de se tornar um ídolo
mundial e de ganhar o título de
melhor do ano do mundo.
Quase craque
Athirson é o melhor jogador do
Estadual do Rio. É extremamente
habilidoso, veloz e tem boa técnica. Porém, sou escravo do porém,
depois de tantos anos ainda não
descobriu a sua posição em campo. Vai aonde a bola está. É um
grande peladeiro. Quase craque.
Diferentemente de outros excelentes laterais-esquerdos que
avançam no momento certo, como Roberto Carlos, Kléber, Júnior, Fábio Aurélio e Silvinho,
Athirson está sempre fora da posição, mesmo quando não vai receber a bola.
O Flamengo joga com um lateral-direito, dois zagueiros e ninguém na esquerda. Deve ser uma
tática inovadora. A justificativa
de que o volante ou o zagueiro vai
fazer a cobertura não funciona
porque não dá tempo, ou a ausência do lateral passa despercebida contra fraquíssimas equipes.
Para aproveitar a sua habilidade,
Athirson deveria atuar de ala no
sistema com três zagueiros ou de
meia-esquerda no 4-4-2.
Em todas as épocas, com raras
exceções, o grande craque só demonstra o seu talento quando
atua numa equipe organizada e
descobre a sua melhor posição em
campo. Até o imprevisível Garrincha sabia que o seu lugar era na
ponta. Só ia para o meio no instante certo, para decidir o jogo.
O mito de que os peladeiros fizeram a história do futebol brasileiro aconteceu na literatura, não
dentro de campo.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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