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BASQUETE
O chaveiro
MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE
O Brasil deixou ontem a
Croácia com muito mais do
que o fantástico vice-campeonato
mundial sub-21 na bagagem.
As 12 meninas e a comissão técnica de Paulo Bassul abriram
uma nova picada. Provaram que
também um time brasileiro pode
ser competitivo sem apostar em
grandes talentos individuais.
Há tempos o país não formava
uma seleção tão polimorfa. Pelo
menos 10 das 12 convocadas entraram em quadra a cada jogo.
As titulares (Ana Flávia, Nathália, Silvia Cristina, Flávia e
Érika) não atuaram 24 minutos
por partida. No (envelhecido) time-base do Mundial-02 adulto,
por exemplo, a média superou 28.
Ao longo da campanha (6v e
2d), o Brasil elegeu quatro cestinhas e três reboteiras diferentes.
Flávia, o destaque do país nos
rankings individuais, não emplacou o "top ten" da artilharia.
A idéia de girar não surgiu do
acaso. Bassul admite ter errado
no torneio juvenil anterior, disputado na República Tcheca.
O Brasil de dois anos atrás concentrava o ataque em Iziane, Silvia Cristina e Érika. O resto da
equipe, alienado, dava com os
ombros. Quando o trio perdeu fôlego, o time empacou e acabou no
modesto 7º lugar (4v e 3d).
Ciente de que o Mundial da
Croácia espremeria oito jogos em
dez dias, Bassul distribuiu mais, e
melhor, as responsabilidades.
Contribuíram, ainda, para a
sua decisão as três "más notícias"
que precederam a competição:
A ausência da ala Iziane, a
mais cintilante desta geração, que
preferiu se firmar na WNBA. A
falta de intercâmbio do grupo,
que desconhecia os rivais. E o
azar de cair na "chave da morte"
na fase inicial, com República
Tcheca (campeã), EUA (potência), França (o melhor campeonato europeu) e Croácia (sede).
O Brasil de 2003 optou, assim,
por cautela e feijão-com-arroz.
A defesa buscava o adversário.
As individualidades tinham sinal
verde só nos contra-ataques. Nas
ações ofensivas de meia quadra,
prevaleciam quatro ou cinco jogadas ensaiadas no garrafão
-com economia nos corta-luzes,
para poupar energia. As armadoras priorizavam o balanço defensivo e evitavam as infiltrações.
De especial, apenas o posicionamento das pivôs. Boa arremessadora, Flávia (ou Kátia Regina)
sacudia o perímetro e abria espaços perto da tabela para os músculos de Érika (ou Graziane).
Nada muito excitante, não?
Pois era no troca-troca que o
Brasil garantia as fagulhas.
Oxigenada, a equipe só não ganhou o último quarto uma vez. E
foi no segundo tempo que obteve
o triunfo mais importante, diante
da Rússia, nas quartas-de-final.
(Não à toa, o Mundial premiou
a outra seleção com perfil mutante, os EUA. Já a Letônia, com a
cestinha e a melhor reboteira, invicta na etapa de classificação,
tropeçou três vezes nos mata-matas e amargou a 8ª posição.)
Bassul, qual consultor de recursos humanos, diz que o Brasil brilhou justamente porque "trancou
o eu na gaveta". Embora tais frases costumem me dar arrepios,
vou baixar a guarda ante a lógica
do pódio, bater palmas e convidar
todos para a festa do cadeado.
Super-21 1
A seleção juvenil tem 1,83 m de altura média, apenas um centímetro a
menos do que a seleção principal, que caiu ontem diante dos EUA no
Pan. As pivôs Flávia, Kátia Regina e Graziane, na avaliação reservada
da comissão técnica, foram as boas surpresas na Croácia.
Super-21 2
Bassul atribui a inédita medalha ao êxodo das principais jogadoras
brasileiras para o basquete europeu e a WNBA. Isso acelerou a maturação das novatas, chamadas a preencher as lacunas nos clubes.
Super-21 3
A prata pertence também aos heróicos centros que trabalham a base:
São Caetano, Santo André, Osasco, Jundiaí, Americana, Ourinhos...
E-mail melk@uol.com.br
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