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São Paulo, terça-feira, 05 de agosto de 2003

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BASQUETE

O chaveiro

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

O Brasil deixou ontem a Croácia com muito mais do que o fantástico vice-campeonato mundial sub-21 na bagagem.
As 12 meninas e a comissão técnica de Paulo Bassul abriram uma nova picada. Provaram que também um time brasileiro pode ser competitivo sem apostar em grandes talentos individuais.
Há tempos o país não formava uma seleção tão polimorfa. Pelo menos 10 das 12 convocadas entraram em quadra a cada jogo.
As titulares (Ana Flávia, Nathália, Silvia Cristina, Flávia e Érika) não atuaram 24 minutos por partida. No (envelhecido) time-base do Mundial-02 adulto, por exemplo, a média superou 28.
Ao longo da campanha (6v e 2d), o Brasil elegeu quatro cestinhas e três reboteiras diferentes. Flávia, o destaque do país nos rankings individuais, não emplacou o "top ten" da artilharia.
A idéia de girar não surgiu do acaso. Bassul admite ter errado no torneio juvenil anterior, disputado na República Tcheca.
O Brasil de dois anos atrás concentrava o ataque em Iziane, Silvia Cristina e Érika. O resto da equipe, alienado, dava com os ombros. Quando o trio perdeu fôlego, o time empacou e acabou no modesto 7º lugar (4v e 3d).
Ciente de que o Mundial da Croácia espremeria oito jogos em dez dias, Bassul distribuiu mais, e melhor, as responsabilidades.
Contribuíram, ainda, para a sua decisão as três "más notícias" que precederam a competição:
A ausência da ala Iziane, a mais cintilante desta geração, que preferiu se firmar na WNBA. A falta de intercâmbio do grupo, que desconhecia os rivais. E o azar de cair na "chave da morte" na fase inicial, com República Tcheca (campeã), EUA (potência), França (o melhor campeonato europeu) e Croácia (sede).
O Brasil de 2003 optou, assim, por cautela e feijão-com-arroz.
A defesa buscava o adversário. As individualidades tinham sinal verde só nos contra-ataques. Nas ações ofensivas de meia quadra, prevaleciam quatro ou cinco jogadas ensaiadas no garrafão -com economia nos corta-luzes, para poupar energia. As armadoras priorizavam o balanço defensivo e evitavam as infiltrações.
De especial, apenas o posicionamento das pivôs. Boa arremessadora, Flávia (ou Kátia Regina) sacudia o perímetro e abria espaços perto da tabela para os músculos de Érika (ou Graziane).
Nada muito excitante, não?
Pois era no troca-troca que o Brasil garantia as fagulhas.
Oxigenada, a equipe só não ganhou o último quarto uma vez. E foi no segundo tempo que obteve o triunfo mais importante, diante da Rússia, nas quartas-de-final.
(Não à toa, o Mundial premiou a outra seleção com perfil mutante, os EUA. Já a Letônia, com a cestinha e a melhor reboteira, invicta na etapa de classificação, tropeçou três vezes nos mata-matas e amargou a 8ª posição.)
Bassul, qual consultor de recursos humanos, diz que o Brasil brilhou justamente porque "trancou o eu na gaveta". Embora tais frases costumem me dar arrepios, vou baixar a guarda ante a lógica do pódio, bater palmas e convidar todos para a festa do cadeado.

Super-21 1
A seleção juvenil tem 1,83 m de altura média, apenas um centímetro a menos do que a seleção principal, que caiu ontem diante dos EUA no Pan. As pivôs Flávia, Kátia Regina e Graziane, na avaliação reservada da comissão técnica, foram as boas surpresas na Croácia.

Super-21 2
Bassul atribui a inédita medalha ao êxodo das principais jogadoras brasileiras para o basquete europeu e a WNBA. Isso acelerou a maturação das novatas, chamadas a preencher as lacunas nos clubes.

Super-21 3
A prata pertence também aos heróicos centros que trabalham a base: São Caetano, Santo André, Osasco, Jundiaí, Americana, Ourinhos...

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