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BOXE
De vilão a herói
EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL
No mundo dos esportes, não
houve maior vítima dos ataques terroristas de 11 de setembro
de 2001 do que o australiano Anthony "The Man" Mundine.
Por causa dos atentados, mesmo que indiretamente, é verdade,
o muçulmano Mundine quase
viu sua carreira ser encerrada.
De súbito, Mundine se transformou em alvo de insultos em inúmeros sites da internet. Ele chegou até a ser expulso do ranking
do Conselho Mundial de Boxe.
Seu pecado? Ter uma frase ["A
América provocou os ataques terroristas"] retirada do contexto.
Essa explicação não colou. E,
para muitos, o episódio se tornou
uma questão pessoal, com repórteres de sites (norte-americanos,
obviamente) chamando Mundine de "imbecil" e o condenando
por "dar apoio ao terrorismo".
Mas, de forma mais didática e
menos simplista, diversos analistas também opinaram nos principais meios de comunicação que se
tratou de uma retaliação por conta da atuação dos norte-americanos na política internacional.
Pior, alguns meses depois, ainda exilado do ranking do CMB,
Mundine foi nocauteado por
Sven Ottke em um desafio pelo
cinturão de outra entidade, o da
Federação Internacional de Boxe.
Detalhe: o alemão não é conhecido exatamente pela pegada (tinha só quatro nocautes, em 24 lutas, quando pegou Mundine).
Enfim, ele se tornou o vilão do
ano, comeu o pão que o diabo
amassou. Parecia que sua carreira havia chegado ao fim da linha.
Anteontem, Mundine deu a volta por cima. Redimiu a si e, talvez
o que seja mais importante, a seu
pai também -Tony, que perdeu
disputa por título para Carlos
Monzon nos anos 70 (e acumula
o papel de técnico de Anthony).
Mundine conquistou o cinturão
dos supermédios da Associação
Mundial de Boxe ao superar por
pontos o favoritíssimo americano
Antwun Echols, ex-lutador de Arthur Pelullo, promotor de Popó.
(Por sinal, Echols era motivo de
frequentes dores de cabeça para
Pelullo. Este conta que Echols ligava diariamente e a qualquer
hora, principalmente quando tinha problemas, mas esta já é uma
história para uma outra coluna).
Como se as complicações fossem
mesmo o destino de Mundine,
que trocou a bola de rúgbi pelas
luvas de boxe, este afirmou após
sua vitória que, para piorar sua
situação no combate de anteontem, há um mês vinha treinando
com uma das costelas fraturada.
"Eu sabia que, se a luta fosse
adiada, surgiriam muitas questões [sobre minha coragem]", justificou Mundine sobre a decisão
de não adiá-la. Originalmente a
data prevista era 6 de agosto.
É que a disputa já havia sido
adiada para anteontem porque
Mundine, que lutou "em casa",
havia sido vítima de uma virose.
O estado de espírito de Mundine depois da vitória não poderia
ser mais supreendente, dados os
obstáculos em seu percurso.
"As pessoas não me compreendem, acham que sou arrogante.
Disseram que não conseguiria,
que era um sonho. O título me
tornou humilde, gostaria de agradecer a todos os seres humanos",
comemorou o "vilão" Mundine,
que teve seu dia de herói.
Ranking 1
Popó subiu nove posições no ranking anual dos cem melhores lutadores do mundo consideradas todas as categorias de peso, segundo a
revista especializada "The Ring", e hoje é o 12º colocado. Seu nome e
sua foto vieram acompanhados do seguinte comentário: "Freitas se
tornou um versátil e tecnicamente eficiente boxeador-pegador que
tanto pode partir para a briga como boxear com movimentação".
Ranking 2
O primeiro colocado é o campeão dos pesados da AMB (e campeão
mundial dos meio-pesados), o norte-americano Roy Jones Jr.
Ranking 3
Na mesma listagem, "Iron" Mike Tyson ocupa a 93ª colocação.
E-mail eohata@folhasp.com.br
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