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São Paulo, sexta-feira, 05 de setembro de 2003

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BOXE

De vilão a herói

EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL

No mundo dos esportes, não houve maior vítima dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 do que o australiano Anthony "The Man" Mundine.
Por causa dos atentados, mesmo que indiretamente, é verdade, o muçulmano Mundine quase viu sua carreira ser encerrada.
De súbito, Mundine se transformou em alvo de insultos em inúmeros sites da internet. Ele chegou até a ser expulso do ranking do Conselho Mundial de Boxe.
Seu pecado? Ter uma frase ["A América provocou os ataques terroristas"] retirada do contexto.
Essa explicação não colou. E, para muitos, o episódio se tornou uma questão pessoal, com repórteres de sites (norte-americanos, obviamente) chamando Mundine de "imbecil" e o condenando por "dar apoio ao terrorismo".
Mas, de forma mais didática e menos simplista, diversos analistas também opinaram nos principais meios de comunicação que se tratou de uma retaliação por conta da atuação dos norte-americanos na política internacional.
Pior, alguns meses depois, ainda exilado do ranking do CMB, Mundine foi nocauteado por Sven Ottke em um desafio pelo cinturão de outra entidade, o da Federação Internacional de Boxe. Detalhe: o alemão não é conhecido exatamente pela pegada (tinha só quatro nocautes, em 24 lutas, quando pegou Mundine).
Enfim, ele se tornou o vilão do ano, comeu o pão que o diabo amassou. Parecia que sua carreira havia chegado ao fim da linha.
Anteontem, Mundine deu a volta por cima. Redimiu a si e, talvez o que seja mais importante, a seu pai também -Tony, que perdeu disputa por título para Carlos Monzon nos anos 70 (e acumula o papel de técnico de Anthony).
Mundine conquistou o cinturão dos supermédios da Associação Mundial de Boxe ao superar por pontos o favoritíssimo americano Antwun Echols, ex-lutador de Arthur Pelullo, promotor de Popó.
(Por sinal, Echols era motivo de frequentes dores de cabeça para Pelullo. Este conta que Echols ligava diariamente e a qualquer hora, principalmente quando tinha problemas, mas esta já é uma história para uma outra coluna).
Como se as complicações fossem mesmo o destino de Mundine, que trocou a bola de rúgbi pelas luvas de boxe, este afirmou após sua vitória que, para piorar sua situação no combate de anteontem, há um mês vinha treinando com uma das costelas fraturada.
"Eu sabia que, se a luta fosse adiada, surgiriam muitas questões [sobre minha coragem]", justificou Mundine sobre a decisão de não adiá-la. Originalmente a data prevista era 6 de agosto.
É que a disputa já havia sido adiada para anteontem porque Mundine, que lutou "em casa", havia sido vítima de uma virose.
O estado de espírito de Mundine depois da vitória não poderia ser mais supreendente, dados os obstáculos em seu percurso.
"As pessoas não me compreendem, acham que sou arrogante. Disseram que não conseguiria, que era um sonho. O título me tornou humilde, gostaria de agradecer a todos os seres humanos", comemorou o "vilão" Mundine, que teve seu dia de herói.

Ranking 1
Popó subiu nove posições no ranking anual dos cem melhores lutadores do mundo consideradas todas as categorias de peso, segundo a revista especializada "The Ring", e hoje é o 12º colocado. Seu nome e sua foto vieram acompanhados do seguinte comentário: "Freitas se tornou um versátil e tecnicamente eficiente boxeador-pegador que tanto pode partir para a briga como boxear com movimentação".

Ranking 2
O primeiro colocado é o campeão dos pesados da AMB (e campeão mundial dos meio-pesados), o norte-americano Roy Jones Jr.

Ranking 3
Na mesma listagem, "Iron" Mike Tyson ocupa a 93ª colocação.

E-mail eohata@folhasp.com.br


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