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FUTEBOL NO MUNDO
Sonho no exterior
RODRIGO BUENO
"No começo, foi difícil. Passei
dois ou três meses chorando. Fiquei 12 meses sem receber."
O atacante Wamberto, 24, já
ídolo no Ajax, é um excelente
exemplo (quase desconhecido
no Brasil) de como alguns empresários exploram jogadores.
Maranhense, Wamberto, ainda bem jovem, foi vendido por
US$ 80 mil para um clube da segunda divisão na Bélgica.
"O empresário que me vendeu
pegou todo o dinheiro. Viajei e
falei para ele mobiliar a casa da
minha mãe. Ela pediu sofá, geladeira, essas coisas, mas não
viu nada", disse, em uma entrevista no Amsterdã Arena.
Tive a oportunidade de conhecer na semana que passou
tanto os problemas que afligiram Wamberto na Europa
quanto o pomposo estádio do
Ajax, onde o clube enfrentou na
quarta uma seleção turca para
arrecadar fundos para vítimas
do terremoto naquele país.
Antes de viajar para a Holanda (a convite da KLM, empresa
aérea holandesa que, em parceria com a Alitalia, comandará o
transporte na Euro-2000), respondi a um anúncio de jornal
no Brasil com oferta de emprego
para jogadores de primeira e segunda divisão no exterior. No
anúncio, chances para jogar nos
EUA, no Japão e na Europa. Ao
ser atendido, me perguntaram
se eu dispunha de R$ 1 mil.
Mesmo dizendo que não estava em nenhum time profissional, que não estava em boa forma e que já tinha 26 anos, me
passaram um número de conta
corrente para eu fazer um depósito dizendo que divulgariam
meu currículo em times estrangeiros. Se algum dia alguém
mostrasse interesse em meu trabalho, teria o passe ligado ao
empresário.
Assim como Wamberto, garotos sonhando com o estrelato viram vítimas de intermediários.
"Sou um privilegiado. Quando
vou ao Brasil, as pessoas me pedem uma ajuda, uma chance
aqui. Mas eu falo para não virem. Antes de sair, tem que pensar bastante", diz Wamberto.
Para quem não sabe, a Fifa
passou a credenciar agentes de
jogadores. Apenas eles, teoricamente, atuam legalmente.
Mas não são só os empresários
os obstáculos. "O presidente do
Sampaio Corrêa (clube que
Wamberto defendia no Brasil)
na época também não foi honesto", disse o atacante.
Na Bélgica, enfrentou o racismo. Em um jogo, foi chamado
de macaco e virou alvo de bananas dentro de campo.
Às vezes até a família atrapalha. Não porque Wamberto ampara seus nove irmãos. Mas
porque alguns deles o aconselharam a não ter uma nacionalidade européia (com isso, suas
oportunidade de trabalho ficariam bem mais facilitadas).
Mais calejado, Wamberto não
tem mais empresário. Conseguiu chegar a um dos clubes
mais conhecidos do mundo, dirige um Mitsubishi na turística
Amsterdã, dá a melhor educação possível a seus três filhos
(Danilo, 8, já treina no Ajax).
É, na verdade, um dos poucos
que sobreviveram.
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