São Paulo, terça-feira, 05 de novembro de 2002

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BASQUETE

Rá, tim... bum!

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

A lanchonete fica a poucos metros do estúdio da televisão. O debate sem câmeras ganhava a madrugada e os tons dourados de cerveja. No balcão de fórmica, os disfarces caíam. Se o diálogo é fidedigno, tanto faz. Depois do show de hipocrisia em rede nacional na terça-feira, há mais verdades até na pura ficção.
- Ufa, três horas! Que mico.
- Tudo bem, estou gordo, mas que cadeira desconfortável! Não dava para arranjar uma melhor?
- Desconfortável foi engolir as besteiras. "Nosso basquete é maravilhoso", "O Brasil teve uma defesa excelente", "Massificamos o esporte"... Esqueci algo?
- Que tal "Os campeonatos estão cada vez mais fortes", "Os clubes recebem apoio", "O Brasil todo, 27 Estados, joga basquete"?
- Deu vontade de retrucar.
- Mas você teve juízo.
- Para ser sincero, fiquei mesmo com vergonha.
- Eu estou revoltado. Vir de longe para ouvir tanta besteira.
- Mas você falou bonito.
- Obrigado. Eu ensaiei.
- Já eu acho que o pior foi ser obrigado a bater palmas.
- Alto lá! Eu não bati.
- Tomara que as câmeras não tenham te flagrado.
- Eu aplaudi. Não quero briga com ninguém. A hora é de união.
- Basquetinho paz e amor.
- Não comecem esse papo.
- Mas devemos juntar forças.
- Para quê? Para cada um puxar a sardinha para seu lado? Não viu o que aconteceu agora há pouco? Que desfaçatez! Um vende como pioneiro o trabalho do outro. Outro desdiz o que disse.
- E outros pedem emprego.
- Espero não ficar gagá assim.
- Eu mesmo devo perder o emprego no final do ano.
- Só que você não pensava que o debate iria te descolar outro.
- Mas não atrapalha, não é?
- A TV mantém em evidência.
- E os papéis da CBB? Alguém aqui já viu esses números?
- Estão na federação, ele disse.
- Vou perder meu emprego.
- Meu time deve fechar. E, anota aí, outros também vão.
- Sei, e tudo é um sucesso.
- O negócio é tocar em frente.
- E economizar.
- Quanto custa a cerveja aqui?
- Eu devia ter retrucado.
- Não. Iria parecer marketing. Não viu o Marcel? Quero ver ele arranjar emprego agora.
- O Hélio tem razão nesse ponto. Se não tem currículo, não pode sair por aí dando pitaco.
- Mas, se o que vale é o currículo, ninguém tira o Hélio de lá.
- Mas o Helinho dá para tirar.
- Para mim, o Hélio já era.
- E quem você acha que iria assumir o negócio?
- No coquetel, falaram no Lula. E o Guerrinha é forte.
- Também ouvi tudo quanto é nome. Mas acho que o Hélio fica.
- O Grego não garantiu ele, nem o Barbosa. Pediu tempo.
- Quando se pede tempo geralmente já se cogitou substituição.
- Para mim, o Grego quer esfriar as coisas, desviar o foco.
- Se não estivesse tudo acertado, eles não pagariam esse mico.
- Também penso que tudo não passa de jogo de comadres.
- O Barbosa quase dormiu.
- Mesmo que seja teatro, vá lá, foi indelicadeza do Grego puxar a orelha do Hélio e do Barbosa.
- Discordo. Queria o quê? Que os dois recebessem parabéns?
- Eu é que merecia parabéns.
- Então parabéns para nós!
- Muitas felicidades, muitos anos de vida!
- É pique!

Bolo 1
O quórum comprovou o prestígio da ESPN Brasil entre os basqueteiros. Mas a emissora pecou no formato e na condução do esperado debate, passiva ao rosário de declarações vazias. Foi tão chato, tão ruim, que o inquieto José Trajano não tolerou. Passou sabão no bom-mocismo dos participantes e lavou a alma do espectador.

Bolo 2
Animado com o bafafá que suas críticas ao "establishment" ajudaram a alimentar, Oscar, 44, anuncia que vai jogar em 2003.

Bolo 3
Começou no domingo o Nacional feminino, com recorde de Estados e times. Ninguém deu bola. Pudera, como festejar um torneio cujo título não compensa? Dos últimos quatro campeões, três fecharam as portas: Fluminense (1998), Paraná (2000) e Vasco (2001). Só resta o Santo André, desmilinguido a cada temporada.

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