São Paulo, terça-feira, 05 de novembro de 2002

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FUTEBOL

Entre o ábaco e o rosário

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Não há como fugir, não há como evitar. Quando as últimas rodadas de um campeonato se aproximam, a maioria de nós não consegue tirar os olhos da tabela de pontos. Seja na rua, nos pontos de ônibus, no ambiente de trabalho, no encontro com a namorada, na apresentação musical da escolinha do filho, no enterro da sogra, lá estamos nós a olhar para o vazio, com rugas na testa e a balbuciar:
-Se o meu time vencer duas e empatar uma, se o time A empatar duas, se o B vencer o C, e se o D ganhar de E, aí acho que conseguimos os pontos necessários. Se bem que, se o meu time vencer uma e empatar duas...
Enfim, é a hora em que todos nós somamos preocupações, subtraímos cabelos, dividimos as unhas pelo meio e multiplicamos angústias. A hora em que todos nos tornamos um Oswald de Souza, um Einstein.
Atualmente, só São Paulo e São Caetano gozam as delícias de uma virtual classificação. Atrás deles, 12 times tentam subir ao paraíso do G-8. Além da possibilidade de erguer um troféu, isso significa boas cotas de televisão, prestígio, uma torcida orgulhosa, uma possível vaga na Taça Libertadores e a valorização de atletas com vistas a futuros negócios.
Entre esses 12, o Corinthians está em situação mais tranquila. Tem ainda quatro jogos e eles não parecem muito difíceis, pois o rival mais forte (segundo a colocação no campeonato) é a Lusa, que está em 17º lugar. Seus adversários são perigosos, pois têm medo do rebaixamento, mas, mesmo assim, só um milagre tira o Timão da próxima fase.
O Juventude também está quase lá. Tem três jogos pela frente e os próximos dois são em casa, contra Internacional e Paysandu. Provavelmente, no próximo domingo à noite, os atletas já darão entrevistas como classificados.
Já o Santos, provavelmente se classifica neste sábado. Caso contrário, seus torcedores terão que começar a fazer rezas bravas, pois a última partida será fora de casa, contra o São Caetano.
Chuto que o Fluminense, depois da grande vitória de domingo, vai embalar e conseguir passar para as quartas. Assim, Atlético-MG, Coritiba e Grêmio disputam as duas vagas derradeiras, inclusive com confrontos diretos -o time mineiro enfrenta os outros dois.
Além disso, sonham com a classificação Vitória, Guarani, Ponte Preta e Atlético-PR, mas é um sonho distante, muito distante.
Três times estão numa espécie de limbo, ou seja, nem devem se classificar nem devem cair. São eles: Cruzeiro, Figueirense e Lusa. O Cruzeiro ficou aquém do que se esperava, o Figueirense foi além do que pensava, e a Lusa, com um time promissor, ficou onde todo mundo achava que ela ia ficar.
Daí para baixo: sangue, suor e lágrimas.
O Vasco, mesmo sem empolgar, ganhou um pouco de ar com a vitória de anteontem e, no presente momento, é o time que mais tem chances de escapar da degola. Paysandu, Paraná e, principalmente, Internacional, não estão em posição nada tranquila, mas terão a abençoada vantagem de disputar um jogo a mais que seus concorrentes diretos.
Complicada mesmo é a situação de cinco clubes: Flamengo, Bahia, Gama, Palmeiras e Botafogo, detentores de nada menos que 10 dos 31 títulos brasileiros disputados desde 1971. Com apenas mais três jogos pela frente, seus torcedores já trocaram o ábaco pelo rosário.

Paçoca
Uma história do leitor Márcio Alexandre Silva: "O senhor Antonio, que vende paçoca em frente ao estádio Anacleto Campanella, quando viu pela primeira vez o técnico Mário Sérgio, entregou-lhe um presente: uma folha de papel em que ele havia desenhado um campo de futebol e sua escalação ideal para o São Caetano. Mário Sérgio agradeceu o presente e guardou-o no bolso. Passados alguns dias, estava lá o sr. Antonio vendendo suas paçoquinhas quando vê caminhando em sua direção o técnico do São Caetano, que lhe cumprimenta e entrega uma folha de papel. Ao abri-la, o sr. Antonio percebeu que era a mesma folha que ele havia dado ao técnico, com o campo de futebol a escalação do São Caetano. Isso de um lado da folha. Do outro, o sr. Antonio pôde ler claramente, escritas à mão pelo técnico, três receitas de paçoca".

E-mail torero@uol.com.br



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