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FUTEBOL
Entre o ábaco e o rosário
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Não há como fugir, não há
como evitar. Quando as últimas rodadas de um campeonato
se aproximam, a maioria de nós
não consegue tirar os olhos da tabela de pontos. Seja na rua, nos
pontos de ônibus, no ambiente de
trabalho, no encontro com a namorada, na apresentação musical da escolinha do filho, no enterro da sogra, lá estamos nós a
olhar para o vazio, com rugas na
testa e a balbuciar:
-Se o meu time vencer duas e
empatar uma, se o time A empatar duas, se o B vencer o C, e se o D
ganhar de E, aí acho que conseguimos os pontos necessários. Se
bem que, se o meu time vencer
uma e empatar duas...
Enfim, é a hora em que todos
nós somamos preocupações, subtraímos cabelos, dividimos as
unhas pelo meio e multiplicamos
angústias. A hora em que todos
nos tornamos um Oswald de Souza, um Einstein.
Atualmente, só São Paulo e São
Caetano gozam as delícias de
uma virtual classificação. Atrás
deles, 12 times tentam subir ao
paraíso do G-8. Além da possibilidade de erguer um troféu, isso significa boas cotas de televisão,
prestígio, uma torcida orgulhosa,
uma possível vaga na Taça Libertadores e a valorização de atletas
com vistas a futuros negócios.
Entre esses 12, o Corinthians está em situação mais tranquila.
Tem ainda quatro jogos e eles não
parecem muito difíceis, pois o rival mais forte (segundo a colocação no campeonato) é a Lusa, que
está em 17º lugar. Seus adversários são perigosos, pois têm medo
do rebaixamento, mas, mesmo
assim, só um milagre tira o Timão da próxima fase.
O Juventude também está quase lá. Tem três jogos pela frente e
os próximos dois são em casa,
contra Internacional e Paysandu.
Provavelmente, no próximo domingo à noite, os atletas já darão
entrevistas como classificados.
Já o Santos, provavelmente se
classifica neste sábado. Caso contrário, seus torcedores terão que
começar a fazer rezas bravas, pois
a última partida será fora de casa, contra o São Caetano.
Chuto que o Fluminense, depois
da grande vitória de domingo, vai
embalar e conseguir passar para
as quartas. Assim, Atlético-MG,
Coritiba e Grêmio disputam as
duas vagas derradeiras, inclusive
com confrontos diretos -o time
mineiro enfrenta os outros dois.
Além disso, sonham com a classificação Vitória, Guarani, Ponte
Preta e Atlético-PR, mas é um sonho distante, muito distante.
Três times estão numa espécie
de limbo, ou seja, nem devem se
classificar nem devem cair. São
eles: Cruzeiro, Figueirense e Lusa.
O Cruzeiro ficou aquém do que se
esperava, o Figueirense foi além
do que pensava, e a Lusa, com um
time promissor, ficou onde todo
mundo achava que ela ia ficar.
Daí para baixo: sangue, suor e
lágrimas.
O Vasco, mesmo sem empolgar,
ganhou um pouco de ar com a vitória de anteontem e, no presente
momento, é o time que mais tem
chances de escapar da degola.
Paysandu, Paraná e, principalmente, Internacional, não estão
em posição nada tranquila, mas
terão a abençoada vantagem de
disputar um jogo a mais que seus
concorrentes diretos.
Complicada mesmo é a situação de cinco clubes: Flamengo,
Bahia, Gama, Palmeiras e Botafogo, detentores de nada menos
que 10 dos 31 títulos brasileiros
disputados desde 1971. Com apenas mais três jogos pela frente,
seus torcedores já trocaram o
ábaco pelo rosário.
Paçoca
Uma história do leitor Márcio Alexandre Silva: "O senhor Antonio, que vende paçoca em frente ao estádio
Anacleto Campanella, quando viu pela primeira vez o
técnico Mário Sérgio, entregou-lhe um presente: uma folha de papel em que ele havia
desenhado um campo de futebol e sua escalação ideal para o São Caetano. Mário Sérgio agradeceu o presente e
guardou-o no bolso. Passados alguns dias, estava lá o sr.
Antonio vendendo suas paçoquinhas quando vê caminhando em sua direção o técnico do São Caetano, que lhe
cumprimenta e entrega uma
folha de papel. Ao abri-la, o
sr. Antonio percebeu que era
a mesma folha que ele havia
dado ao técnico, com o campo de futebol a escalação do
São Caetano. Isso de um lado
da folha. Do outro, o sr. Antonio pôde ler claramente, escritas à mão pelo técnico, três
receitas de paçoca".
E-mail torero@uol.com.br
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