|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUTEBOL
Os técnicos: Nietzsche
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
O busto de Felisberto Nietzsche adorna a praça Sete de
Setembro em Ewbank da Câmara. É a única escultura em toda a
região, o que dá a medida do
grande homem que foi e da importância que teve na vida do interior mineiro.
Nietzsche, no entanto, demorou
para ser aceito pelos conterrâneos. O gênio combativo, suas
provocações, tudo parecia um
pouco fora do tempo, ainda mais
se pensarmos que ele viveu o apogeu na metade dos anos 30, época
em que predominavam os valores
antigos de antigamente.
Não é possível separar a vida do
técnico da do Clube Atlético Zaratustra. Foi ali que ele nasceu,
viveu e morreu para o futebol.
Na época de Nietzsche, acreditava-se que a tática de um time
deveria espelhar uma beleza racional, superior, sublime, enfim
um conceito metafísico que não
era entendido pela maioria dos
jogadores.
Ele, ao contrário, achava que o
futebol devia ser uma combinação de duas tendências naturais:
a de ordenação, que chamava de
apolínea, e a de desmedida, batizada de dionisíaca. Em sua maneira de ver, uma boa mistura
dessas duas forças poderia levar a
grandes conquistas.
- Teremos um time de super-homens!
E foi o que aconteceu.
Os jogadores mais dados à disciplina eram obrigados a chutar a
gol, arriscar dribles e tentar jogadas de efeito. Já os criativos passavam horas aprendendo a marcar,
a guardar posição e a cobrir os
buracos deixados pelos outros.
Na hora dos jogos, tudo funcionava, e o Zaratustra fazia tremer
a Zona da Mata. Seus jogadores
tinham um instinto guerreiro e
um desejo de força e dominação
que cintilava nos olhos e fazia tremer os rivais.
Nada mais natural que, após
tantas vitórias, o Zaratustra chegasse à final da Copa Zona. Seu
oponente foi o Cruz Azul, de Lima
Duarte, que havia feito uma campanha muito inferior e que se destacava só por ter um torcedor entusiasmado: o padre Pereirinha.
No dia da decisão, Nietzsche exclamou:
- Vocês vão ser felizes neste
mundo!
Os jogadores subiram as escadas sedentos pela vitória, mas,
quando chegaram ao gramado,
se depararam com a figura do padre Pereirinha e este lhes disse
que os excomungaria do seio da
santa madre igreja se ousassem
derrotar o Cruz Azul.
- Vocês vão sofrer para sempre
no outro mundo!
Nietzsche achou que eles não se
curvariam ante uma crendice e
gritou: "Não liguem para ele,
deus está morto!". Mas o fato é
que seus atletas não conseguiram
se concentrar na partida e, depois
dos 90 minutos, o placar apontava Zaratustra 0 x Cruz Azul 7.
Para o técnico, mais duro que
perder a partida decisiva foi perceber que seus atletas não estavam preparados para se libertar
de antigas superstições.
Logo depois do apito final do
árbitro, ele não se conteve e chorou. Humano, demasiadamente
humano.
M.En.T.I.
No Manual Enciclopédico de
Times Imaginários, o leitor poderá encontrar dados sobre a
gloriosa Associação Esportiva e
Recreativa Independência,
equipe fundada no dia 7 de setembro de 1922. Seu uniforme
era verde e amarelo, e todos os
jogadores usavam barba. O Independência foi um time de
várzea do bairro do Ipiranga,
em São Paulo, e teve razoável
sucesso na década de 40. Sua
torcida vestia-se como os dragões da independência e gritava
todo o tempo "Independência
ou Morte". Infelizmente o Independência morreu. Em 1970,
o clube afundou em dívidas e
teve que vender seu estádio a
uma equipe rival, o USA
(União Sportiva América).
Contagem regressiva
Cinco...
E-mail torero@uol.com.br
Texto Anterior: Boxe - Eduardo Ohata: Larry Holmes dos anos 90/00 Próximo Texto: Natação: Copa no RJ ganha brilho, mas não estrelas Índice
|