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São Paulo, quinta-feira, 06 de março de 2003

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FUTEBOL

Nota baixa para o júri

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

Dias atrás, encontrei um jogador com quem nunca tinha conversado a não ser em entrevista na TV (aliás, são pouquíssimos os que encontrei fora do ar e com quem troquei mais que duas ou três palavras). Normalmente comedido, ele desabafou: "Vocês falam mal demais da gente! Acabam com a gente o tempo todo! Parece que tudo que a gente faz é errado e que nunca faz nada que preste, nunca!".
Concordei em parte: "É, às vezes o pessoal pega pesado, mas é assim com todos". "Não é, não! Olha, tudo que acontece com o nosso time é porque "a defesa é ridícula". Ridícula? Isso é muito cruel, chamarem você de ridículo, toda hora, todo dia." "Tem razão, às vezes a gente fala do jogador como se ele fosse só um nome e uma posição, não uma pessoa..." "E pegam no pé de um jeito injusto. Olha, tem time que toma mais gols que a gente, e o zagueiro é cotado para a seleção. Mas a nossa defesa é que é ridícula, sempre."
Ele não estava fazendo pressão; sentia-se sinceramente injustiçado, magoado. E eu não concordei só para facilitar. Também acho que somos muito cruéis às vezes.
A crueldade -mesmo involuntária ou inconsciente- aparece na crítica debochada, no escárnio, na condenação sumária. É claro que é nossa função analisar, destacar o jogador que trabalhou muito bem e aquele que acabou atrapalhando. Mas não devíamos esquecer que em campo está alguém que saiu de casa querendo brilhar, ter o nome gritado pela torcida, ser elogiado nas mesas-redondas e reprisado nos melhores momentos... Que se imaginou sendo sondado por times europeus e cogitado para a seleção. Alguém que queria ser o herói do filho e dos amigos; que planejava dedicar um gol para a noiva, mandar um abraço para a mãe ou homenagear o pai que morreu. E que foi um fracasso, errou quase tudo, deu um gol para o adversário e saiu substituído sob vaias, xingamentos e uma chuva de copos e chinelos... É triste demais.
Também erramos por ser muito sujeitos ao hábito, à reação automática, ao pré-julgamento. Quando estabelecemos que "fulano não acerta um passe de dez metros", é só isso que vamos enxergar no jogo. Se ele acertar, nenhum comentário. Se errar... "Pronto, já fez uma das suas."
Um ou outro jogador, ao contrário, tem uma avaliação positiva que nada é capaz de abalar. Exemplo: sempre se disse que o Palmeiras era muito dependente do Arce. De fato, era, mas o lateral não resolvia todos os problemas do time nem era o melhor jogador em campo, como fazíamos supor. No último Brasileiro ele cobrava todas as faltas, escanteios e pênaltis e cruzava 90% das bolas para o ataque, mas não estava jogando bem e errava mais do que acertava. Não quero crucificar o Arce, que foi muito importante para o time em outras temporadas; só quero dizer que a gente vicia em determinado raciocínio e continua impondo-o aos fatos.
Sei bem o quanto dói uma crítica injusta ao comentarista... Mas muitas vezes a gente bem que merece uma nota baixa.

Bom para a torcida
A briga pelos direitos de transmissão do Paulista, mesmo com golpes baixos dos dois lados, lembra como é saudável a concorrência. Se não fosse por ela, o jogo de ontem nunca seria às 21h. A Globo achava impossível (ou desnecessário) mexer na sua programação para melhorar a vida dos torcedores.

Ruim para todos
Em compensação, os jogos às 11h não são nada recomendáveis para atletas, juízes, repórteres, câmeras e torcedores que fritam no sol. O câncer de pele é o tipo mais freqüente de câncer, e a principal causa é a exposição aos raios ultravioleta do sol (fonte: www.inca.gov.br). Faz-se tanto escândalo por causa de outras coisas que fazem mal à saúde, e deixam isso para lá...

E-mail
soninha.folha@uol.com.br


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