|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUTEBOL
Nota baixa para o júri
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
Dias atrás, encontrei um
jogador com quem nunca tinha conversado a não ser em entrevista na TV (aliás, são pouquíssimos os que encontrei fora
do ar e com quem troquei mais
que duas ou três palavras). Normalmente comedido, ele desabafou: "Vocês falam mal demais da
gente! Acabam com a gente o
tempo todo! Parece que tudo que
a gente faz é errado e que nunca
faz nada que preste, nunca!".
Concordei em parte: "É, às vezes
o pessoal pega pesado, mas é assim com todos". "Não é, não!
Olha, tudo que acontece com o
nosso time é porque "a defesa é ridícula". Ridícula? Isso é muito
cruel, chamarem você de ridículo,
toda hora, todo dia." "Tem razão,
às vezes a gente fala do jogador
como se ele fosse só um nome e
uma posição, não uma pessoa..."
"E pegam no pé de um jeito injusto. Olha, tem time que toma mais
gols que a gente, e o zagueiro é cotado para a seleção. Mas a nossa
defesa é que é ridícula, sempre."
Ele não estava fazendo pressão;
sentia-se sinceramente injustiçado, magoado. E eu não concordei
só para facilitar. Também acho
que somos muito cruéis às vezes.
A crueldade -mesmo involuntária ou inconsciente- aparece
na crítica debochada, no escárnio, na condenação sumária. É
claro que é nossa função analisar,
destacar o jogador que trabalhou
muito bem e aquele que acabou
atrapalhando. Mas não devíamos
esquecer que em campo está alguém que saiu de casa querendo
brilhar, ter o nome gritado pela
torcida, ser elogiado nas mesas-redondas e reprisado nos melhores momentos... Que se imaginou
sendo sondado por times europeus e cogitado para a seleção. Alguém que queria ser o herói do filho e dos amigos; que planejava
dedicar um gol para a noiva,
mandar um abraço para a mãe
ou homenagear o pai que morreu.
E que foi um fracasso, errou quase tudo, deu um gol para o adversário e saiu substituído sob vaias,
xingamentos e uma chuva de copos e chinelos... É triste demais.
Também erramos por ser muito
sujeitos ao hábito, à reação automática, ao pré-julgamento.
Quando estabelecemos que "fulano não acerta um passe de dez
metros", é só isso que vamos enxergar no jogo. Se ele acertar, nenhum comentário. Se errar...
"Pronto, já fez uma das suas."
Um ou outro jogador, ao contrário, tem uma avaliação positiva que nada é capaz de abalar.
Exemplo: sempre se disse que o
Palmeiras era muito dependente
do Arce. De fato, era, mas o lateral não resolvia todos os problemas do time nem era o melhor jogador em campo, como fazíamos
supor. No último Brasileiro ele cobrava todas as faltas, escanteios e
pênaltis e cruzava 90% das bolas
para o ataque, mas não estava jogando bem e errava mais do que
acertava. Não quero crucificar o
Arce, que foi muito importante
para o time em outras temporadas; só quero dizer que a gente vicia em determinado raciocínio e
continua impondo-o aos fatos.
Sei bem o quanto dói uma crítica injusta ao comentarista... Mas
muitas vezes a gente bem que merece uma nota baixa.
Bom para a torcida
A briga pelos direitos de transmissão do Paulista, mesmo
com golpes baixos dos dois lados, lembra como é saudável a
concorrência. Se não fosse por
ela, o jogo de ontem nunca seria
às 21h. A Globo achava impossível (ou desnecessário) mexer
na sua programação para melhorar a vida dos torcedores.
Ruim para todos
Em compensação, os jogos às
11h não são nada recomendáveis para atletas, juízes, repórteres, câmeras e torcedores que
fritam no sol. O câncer de pele é
o tipo mais freqüente de câncer,
e a principal causa é a exposição
aos raios ultravioleta do sol
(fonte: www.inca.gov.br). Faz-se tanto escândalo por causa de
outras coisas que fazem mal à
saúde, e deixam isso para lá...
E-mail
soninha.folha@uol.com.br
Texto Anterior: Ação - Carlos Sarli: Dream Tour 2 Próximo Texto: Futebol: Corinthians usa cabeça e freia Palmeiras Índice
|