São Paulo, quinta-feira, 06 de maio de 2004

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Só atletas sentem o peso do novo código disciplinar

Pena de 270 dias para o zagueiro Cris expõe o rigor dos tribunais com quem mais contato tem com a bola

MARCUS VINICIUS MARINHO
PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O novo Código Brasileiro de Justiça Desportiva surgiu para ser rigoroso com clubes, cartolas, árbitros e atletas. Mas, até agora, sua força foi sentida quase que exclusivamente pelos jogadores.
Que o diga o zagueiro cruzeirense Cris, suspenso por 270 dias na madrugada de ontem pela briga que protagonizou na decisão do Mineiro -o atleticano Eduardo, o outro envolvido, recebeu um gancho de 120 dias.
Eles foram julgados com base na nova lei esportiva, que entrou em vigor em janeiro. Com ela, além de penas gigantes como as que abateram os brigões do Mineirão, foi aberta também a possibilidade de punir outros personagens da bola, o que ainda é raro.
Nenhum dirigente, por exemplo, foi julgado pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva em 2004 por "deixar de tomar providências capazes de prevenir ou reprimir desordens" em competições de âmbito nacional.
Nas atas disponíveis no site da CBF, o único clube multado por retardar o início de uma partida foi o modesto XV de Novembro do Rio Grande do Sul -pelo CBJD, um clube pode receber multa de até R$ 5.000 por minuto de atraso na entrada em campo.
O novo código tem 15 artigos que falam sobre punições à arbitragem, como um que manda afastar por até 180 dias (ou até 360 em caso de reincidência) o árbitro que não coibir a violência em campo. Mesmo assim, nenhum juiz foi julgado em torneios nacionais na temporada. Também nenhum treinador de peso foi suspenso por até 120 dias por dar instruções fora da área permitida.
Atlético-MG e Cruzeiro foram citados, pela briga de Cris e Eduardo, no artigo que manda tirar a renda e pontos das equipes dos jogadores que brigam, mas acabaram absolvidos.

Desinformação
Para o presidente do STJD, Luiz Zveiter, não existe no tribunal a cultura de punir mais jogadores em vez de árbitros ou clubes.
"Não vejo essa tendência na Justiça esportiva. Pelo menos na minha esfera, a nacional. O que eu vejo, e é muito marcante, é uma desinformação geral, principalmente dos clubes", diz Zveiter.
"A gente faz seminários sobre o novo código e ninguém vai, nem os advogados dos clubes. Daí a razão para confusões, como essas perdas de pontos dos times", diz ele, referindo-se a casos como o do Coritiba, que perdeu seis pontos no Brasileiro-04 pela escalação de um jogador irregularmente.
Com relação aos árbitros, Zveiter afirma que tem feito palestras para orientá-los sobre como agir com o novo código. "A gente faz o que é possível para informar, mas tem coisas da formação deles [árbitros] que não cabem à gente, no STJD, dizer, e sim a quem forma essas pessoas", diz.
Para Roberto Vasconcellos, que é advogado do Atlético-MG, um dos problemas é que os clubes não têm cultura de reclamar da atuação dos árbitros na Justiça esportiva. "Não é só tendência da Justiça, é o conformismo das partes. Não se costuma contestar a atuação do árbitro."


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