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Só atletas sentem o peso do novo código disciplinar
Pena de 270 dias para o zagueiro Cris expõe o rigor dos tribunais com quem mais contato tem com a bola
MARCUS VINICIUS MARINHO
PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O novo Código Brasileiro de
Justiça Desportiva surgiu para ser
rigoroso com clubes, cartolas, árbitros e atletas. Mas, até agora, sua
força foi sentida quase que exclusivamente pelos jogadores.
Que o diga o zagueiro cruzeirense Cris, suspenso por 270 dias
na madrugada de ontem pela briga que protagonizou na decisão
do Mineiro -o atleticano Eduardo, o outro envolvido, recebeu
um gancho de 120 dias.
Eles foram julgados com base
na nova lei esportiva, que entrou
em vigor em janeiro. Com ela,
além de penas gigantes como as
que abateram os brigões do Mineirão, foi aberta também a possibilidade de punir outros personagens da bola, o que ainda é raro.
Nenhum dirigente, por exemplo, foi julgado pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva em
2004 por "deixar de tomar providências capazes de prevenir ou reprimir desordens" em competições de âmbito nacional.
Nas atas disponíveis no site da
CBF, o único clube multado por
retardar o início de uma partida
foi o modesto XV de Novembro
do Rio Grande do Sul -pelo
CBJD, um clube pode receber
multa de até R$ 5.000 por minuto
de atraso na entrada em campo.
O novo código tem 15 artigos
que falam sobre punições à arbitragem, como um que manda
afastar por até 180 dias (ou até 360
em caso de reincidência) o árbitro
que não coibir a violência em
campo. Mesmo assim, nenhum
juiz foi julgado em torneios nacionais na temporada. Também nenhum treinador de peso foi suspenso por até 120 dias por dar instruções fora da área permitida.
Atlético-MG e Cruzeiro foram
citados, pela briga de Cris e
Eduardo, no artigo que manda tirar a renda e pontos das equipes
dos jogadores que brigam, mas
acabaram absolvidos.
Desinformação
Para o presidente do STJD, Luiz
Zveiter, não existe no tribunal a
cultura de punir mais jogadores
em vez de árbitros ou clubes.
"Não vejo essa tendência na Justiça esportiva. Pelo menos na minha esfera, a nacional. O que eu
vejo, e é muito marcante, é uma
desinformação geral, principalmente dos clubes", diz Zveiter.
"A gente faz seminários sobre o
novo código e ninguém vai, nem
os advogados dos clubes. Daí a razão para confusões, como essas
perdas de pontos dos times", diz
ele, referindo-se a casos como o
do Coritiba, que perdeu seis pontos no Brasileiro-04 pela escalação
de um jogador irregularmente.
Com relação aos árbitros, Zveiter afirma que tem feito palestras
para orientá-los sobre como agir
com o novo código. "A gente faz o
que é possível para informar, mas
tem coisas da formação deles [árbitros] que não cabem à gente, no
STJD, dizer, e sim a quem forma
essas pessoas", diz.
Para Roberto Vasconcellos, que
é advogado do Atlético-MG, um
dos problemas é que os clubes
não têm cultura de reclamar da
atuação dos árbitros na Justiça esportiva. "Não é só tendência da
Justiça, é o conformismo das partes. Não se costuma contestar a
atuação do árbitro."
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