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JOSÉ ROBERTO TORERO
Reflexões
sérias
sobre a vida
e a morte
Numa tarde em que não tinha
nada que fazer, comecei a
pensar na relação que o esporte
tem com a nossa vida.
Como a maioria, achava que
essa relação se restringia às aulas
de educação física e àquele curioso encontro de barrigudos nos
fins-de-semana, que os otimistas
chamam de futebol.
Mas eu estava errado. Sim, eu
estava. O esporte está presente em
cada mísero momento de nossa
existência.
Para começo de conversa, nascemos em decorrência de algo
que lembra bastante um esporte.
Claro que há controvérsias.
Os escritores de Sabrina, por
exemplo, descreveriam tal cena
assim: "E então eles deitaram-se
sobre lençóis de seda, tendo ao
fundo o brilho gentil da lua prateada, vivendo intensamente cada segundo daquele instante em
que não eram mais Conrad e Jane, mas um novo e único ser, que
talvez pudesse ser chamado
de...amor!"
Bem, não quero que pensem
que sou grotesco, mas, olhadas as
coisas com frieza, a situação parece-se mais com uma luta greco-romana.
Porém se há alguma dúvida
nesse ponto, já no seguinte o paralelo é perfeito.
Feito o hole-in-one digno do
mais genial golfista, nossa vida
começa com nada mais, nada
menos que uma corrida: a corrida dos espermatozóides, nossa
primeira e mais importante competição, a qual, se não vencêssemos, não participaríamos de nenhuma outra.
Mal nascemos e já participamos
de concursos de beleza com nossas mães nos comparando com
outras crianças, depois vêm as
disputas de inteligência para ver
quem aprende a falar primeiro e
por fim a ginástica rítmica, onde
ganha quem consegue ficar de pé.
Passado esse tempo, começamos
a nos interessar por outras competições.
Vêm os papagaios, as bolinhas
de gude, os piões e, para as crianças mais modernas, os videogames.
Creio que continuaríamos brincando com joysticks ao longo de
toda a nossa vida se pudéssemos,
mas um dia nossos pais nos vêm
dizer que aquilo pode fazer mal a
vista e nos obrigam a praticar os
esportes tradicionais.
Aí somos introduzidos ao mundo do futebol, do basquete, do
judô, do vôlei, da ginástica olímpica e da natação.
Esse período mais ativo costuma prolongar-se dos 10 aos 18
anos, período que corresponde
também ao da descoberta sexual,
esse, sim, um esporte radical,
cheio de perigos e emoções fortes.
Então vem a fase do trabalho e
somos levados a exercitar outras
habilidades esportivas.
A escalada social é mais difícil
que alpinismo, sobreviver com
um salário mínimo é uma corrida de obstáculos e a competitividade do mercado faz com que
qualquer ringue de vale-tudo pareça mais um berçário.
E se você já enjoou de tanto
esporte, lembre-se que ainda há o
casamento, onde temos que ter a
paciência de um enxadrista, a
dissimulação de um jogador de
pôquer, e o molejo de um corredor de marcha.
Assim corre nossa vã existência
até que, finalmente, chegamos ao
momento de passar para o outro
lado do mistério.
É o fim de uma terrível queda
de braço com a morte, luta que,
no fim, sempre perdemos.
O que nos faz pensar de que
adianta ter ganho aquela primeira corrida.
E-mail: torero@uol.com.br
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