São Paulo, terça-feira, 06 de agosto de 2002

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FUTEBOL

A volta por cima de Anãozinho

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Caro leitor, caríssima leitora, queiram sentar-se confortavelmente, pois vou contar-lhes a segunda parte de uma história:
Há muito tempo atrás, para ser mais preciso no ano de 372 a.C., nos 51º Jogos Olímpicos da era antiga, aconteceu um episódio que até hoje é contado pelos becos e bares de Atenas.
Trata-se da volta da por cima de Anãozinho, o célebre lutador de pancrácio. Nos Jogos anteriores, Anãozinho havia surpreendido os gregos ao derrotar adversários muito maiores do que ele, mas, na véspera do combate final, cometeu o erro de olhar-se no espelho. Então tomou consciência de sua pequenez e foi massacrado pelo oponente. Após essa esmagadora derrota, Anãozinho voltou para a sua cidade e, diante da estátua de Ares, o deus da guerra, jurou que um dia voltaria a Olímpia e seria campeão da pancrácio.
Pensando em fazer a melhor preparação possível, Anãozinho juntou todas as suas economias e começou a treinar. Foram anos de corridas solitárias pelos bosques de oliveiras e doloridos golpes em sacos de pedra. Até contratou um novo técnico, digo, mentor: Givanildo, de Tessalônica.
Quatro anos depois, quando Anãozinho reapareceu em Olímpia, mais uma vez foi alvo de incessante zombaria: "Por que você não vai brigar com alguém do seu tamanho?", brincavam uns. "O pequeno sofrerá outra grande derrota", diziam outros. Imperturbável, Anãozinho respondia: "O que vem do alto não me atinge". E seguia seu caminho.
E assim foi ele derrotando seus adversários. Um a um, tombaram os gigantes Nautícoo, de Recifoneso; Flumineu, de Tricolíaca; Bahiates, da Salvadória; Corintíoco, de Corinto, e Verdóteles, da Palestrácia.
Mais uma vez, para a surpresa de todos, Anãozinho chegara à tão esperada final. Seu adversário dessa vez seria Cruzeirágoras, também conhecido como "A Grande Raposa da Beagália".
A luta começou com o nascer do sol e foi marcada por violentos golpes de parte a parte. Cruzeirágoras começou melhor, chutando Anãozinho para longe em duas ocasiões, mas nosso herói reagiu na segunda metade do combate, dando poderosas mordidas na canela do oponente. Ao crepúsculo, os árbitros deram a batalha por encerrada e anunciaram que o vencedor seria conhecido após uma série de socos livres, que era a forma de desempatar as lutas antigamente.
Quando isso acontecia, os combatentes tiravam cara ou coroa jogando uma dracma para cima e o vencedor iniciava uma série de três socos em seu adversário, sem que este pudesse tirar os pés do chão.
Até então, curiosamente o golpeador da primeira série sempre tinha ganho a luta.
Cruzeirágoras foi abençoado com essa oportunidade e já comemorava a vitória quando o imponderável aconteceu. Anãozinho, sendo muito mais ágil que Cruzeirágoras, conseguiu se esquivar de seus punhos -o gigante da Beagália desperdiçou suas três chances.
Anãozinho, por sua vez, não vacilou: acertou um soco em cada rótula de Cruzeirágoras, fazendo-o ajoelhar-se e, por fim, derrotou-o com um certeiro murro bem no nariz.
E foi assim que, para surpresa de todos, Anãozinho tornou-se o grande papão, digo, o grande campeão do pancrácio.
Moral da história: Não basta ser grande, é preciso ter pontaria.

Corretagem
Eu não tinha planos de me casar tão cedo assim, mas, depois de ler os jornais do fim de semana, não só fiquei desesperado para alugar um smoking como também mal estou com muita vontade de convidar o presidente da Federação Paulista de Futebol, Eduardo José Farah, para ser meu padrinho. Os maldosos de plantão dirão que eu estou querendo me dar bem, assim como outro afilhado seu, Bruno Balsimelli, que recebeu alguns milhões de reais por intermediar contratos que não tiveram intermediário. Não ligue para estas calúnias, presidente, e aceite ficar à minha direita no altar. Depois, é claro, faremos alguns bons negócios, coisa de pai para filho mesmo. Ou, no caso, de padrinho para afilhado. E, se alguns invejosos vierem com aquela história de que isso não é ético, repetiremos sua frase lapidar: "Ético é relativo".

E-mail torero@uol.com.br



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