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FUTEBOL
A volta por cima de Anãozinho
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Caro leitor, caríssima leitora,
queiram sentar-se confortavelmente, pois vou contar-lhes a
segunda parte de uma história:
Há muito tempo atrás, para ser
mais preciso no ano de 372 a.C.,
nos 51º Jogos Olímpicos da era antiga, aconteceu um episódio que
até hoje é contado pelos becos e
bares de Atenas.
Trata-se da volta da por cima
de Anãozinho, o célebre lutador
de pancrácio. Nos Jogos anteriores, Anãozinho havia surpreendido os gregos ao derrotar adversários muito maiores do que ele,
mas, na véspera do combate final,
cometeu o erro de olhar-se no espelho. Então tomou consciência
de sua pequenez e foi massacrado
pelo oponente. Após essa esmagadora derrota, Anãozinho voltou
para a sua cidade e, diante da estátua de Ares, o deus da guerra,
jurou que um dia voltaria a Olímpia e seria campeão da pancrácio.
Pensando em fazer a melhor
preparação possível, Anãozinho
juntou todas as suas economias e
começou a treinar. Foram anos
de corridas solitárias pelos bosques de oliveiras e doloridos golpes em sacos de pedra. Até contratou um novo técnico, digo, mentor: Givanildo, de Tessalônica.
Quatro anos depois, quando
Anãozinho reapareceu em Olímpia, mais uma vez foi alvo de incessante zombaria: "Por que você
não vai brigar com alguém do seu
tamanho?", brincavam uns. "O
pequeno sofrerá outra grande
derrota", diziam outros. Imperturbável, Anãozinho respondia:
"O que vem do alto não me atinge". E seguia seu caminho.
E assim foi ele derrotando seus
adversários. Um a um, tombaram
os gigantes Nautícoo, de Recifoneso; Flumineu, de Tricolíaca;
Bahiates, da Salvadória; Corintíoco, de Corinto, e Verdóteles, da
Palestrácia.
Mais uma vez, para a surpresa
de todos, Anãozinho chegara à
tão esperada final. Seu adversário
dessa vez seria Cruzeirágoras,
também conhecido como "A
Grande Raposa da Beagália".
A luta começou com o nascer do
sol e foi marcada por violentos
golpes de parte a parte. Cruzeirágoras começou melhor, chutando
Anãozinho para longe em duas
ocasiões, mas nosso herói reagiu
na segunda metade do combate,
dando poderosas mordidas na canela do oponente. Ao crepúsculo,
os árbitros deram a batalha por
encerrada e anunciaram que o
vencedor seria conhecido após
uma série de socos livres, que era
a forma de desempatar as lutas
antigamente.
Quando isso acontecia, os combatentes tiravam cara ou coroa
jogando uma dracma para cima e
o vencedor iniciava uma série de
três socos em seu adversário, sem
que este pudesse tirar os pés do
chão.
Até então, curiosamente o golpeador da primeira série sempre
tinha ganho a luta.
Cruzeirágoras foi abençoado
com essa oportunidade e já comemorava a vitória quando o imponderável aconteceu. Anãozinho, sendo muito mais ágil que
Cruzeirágoras, conseguiu se esquivar de seus punhos -o gigante da Beagália desperdiçou suas
três chances.
Anãozinho, por sua vez, não vacilou: acertou um soco em cada
rótula de Cruzeirágoras, fazendo-o ajoelhar-se e, por fim, derrotou-o com um certeiro murro bem no
nariz.
E foi assim que, para surpresa
de todos, Anãozinho tornou-se o
grande papão, digo, o grande
campeão do pancrácio.
Moral da história: Não basta ser
grande, é preciso ter pontaria.
Corretagem
Eu não tinha planos de me
casar tão cedo assim, mas,
depois de ler os jornais do fim
de semana, não só fiquei desesperado para alugar um
smoking como também mal
estou com muita vontade de
convidar o presidente da Federação Paulista de Futebol,
Eduardo José Farah, para ser
meu padrinho. Os maldosos
de plantão dirão que eu estou
querendo me dar bem, assim
como outro afilhado seu,
Bruno Balsimelli, que recebeu alguns milhões de reais
por intermediar contratos
que não tiveram intermediário. Não ligue para estas calúnias, presidente, e aceite ficar à minha direita no altar. Depois, é claro, faremos alguns
bons negócios, coisa de pai
para filho mesmo. Ou, no caso, de padrinho para afilhado. E, se alguns invejosos vierem com aquela história de
que isso não é ético, repetiremos sua frase lapidar: "Ético
é relativo".
E-mail torero@uol.com.br
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