São Paulo, domingo, 06 de agosto de 2006

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Tostão

Antes que seja tarde


À exceção de Barcelona e São Paulo, o futebol tem caído tanto na mesmice que a Fifa poderia fazer mudanças

A S PESSOAS de todo o mundo, de todas as idades, homens e mulheres, apaixonados iniciantes pelo futebol e que querem entender, e não apenas torcer, devem ficar confusos com tantas terminologias, às vezes incorretas, utilizadas por parte da imprensa. Clarice Lispector disse: "Não se preocupe em entender. Viver ultrapassa todo entendimento". É verdade em muitas situações.
Mas, quando compreendemos as regras e os detalhes técnicos e táticos, o futebol fica mais gostoso de se ver, além de ser mais fácil analisá-lo. Não se pode também dissociar o conteúdo da forma.
Entre dezenas de exemplos, lembro das palavras ala e lateral. O ala só existe no esquema com três zagueiros. Júnior e Souza não são laterais que apóiam, são alas. Ocupam a mesma posição e têm a mesma função dos meias pelos lados, no esquema com duas linhas de quatro jogadores. O São Paulo é um time bastante ofensivo por trocar um defensor -ficam só três atrás- por um meia ou atacante e, principalmente, pela marcação mais na frente.
São Paulo e Barcelona, que jogam diferente de todas as seleções que vimos na Copa, têm estilos parecidos: marcam por pressão, chegam com vários jogadores ao ataque e deixam na defesa um jogador na cobertura para conter o contra-ataque. No Barcelona, fica um volante mais recuado para sobrar um zagueiro. No São Paulo, é um terceiro zagueiro. Faz pouca diferença. Os dois ataques são parecidos. Durante a maior parte do jogo, o São Paulo tem três na frente (Leandro e Danilo pelos lados e Ricardo Oliveira pelo centro). No Barcelona, são Ronaldinho e Giuly e mais o centroavante Eto'o. Nas duas equipes, os atacantes pelos lados não têm posição fixa. Por ter um zagueiro a menos, o Barcelona possui um meia (Deco) que se aproxima dos três da frente.
No São Paulo, são os dois volantes, Josué e Mineiro, que avançam e se tornam meias. Os dois correm tanto durante o jogo que o time parece jogar com 12 ou 13. O Barcelona é bicampeão da Espanha e campeão da Europa. Ganha e dá espetáculo. O São Paulo, que geralmente vence e agrada, é campeão do mundo, da Libertadores e finalista neste ano. Vai enfrentar o excelente Internacional, que tem características parecidas e que pode repetir o sucesso do São Paulo nos próximos anos.
Mesmo com tanto sucesso, Barcelona e São Paulo não agradam à maioria dos treinadores. Eles preferem o estilo que vimos na Copa, automatizado, frio, contido e estático, com a grande preocupação de recuar, colocar oito jogadores atrás da linha da bola, para depois atacar. Quando tomam a bola, estão longe do outro gol. Como todos fazem a mesma coisa, um time espera o outro, e pouco acontece. É o retorno do futebol feio, chato e ineficiente de outras épocas, quando a vitória valia dois pontos. França e Itália fizeram a final do Mundial porque todos jogaram do mesmo jeito.
A maioria dos técnicos alega que esse é o futebol atual e que não dá mais para dar espetáculo. Confundem marcação forte e bons resultados com futebol feio e defensivo. Jogar bonito não é fazer firula. É atuar com eficiência e com talento. Para isso, é preciso ter um bom conjunto. Quando jogava, com ou sem atitude, nunca brilhei em um time desorganizado.
O Brasil precisa de um técnico inovador, e não apenas de um técnico vibrante. Já que a maioria dos treinadores não quer sair da mesmice, a Fifa poderia tomar uma providência, mudar alguma regra -não sei qual-, antes que acabem com o que resta de encanto no futebol.
tostao.folha uol.com.br

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