São Paulo, sexta-feira, 06 de setembro de 2002

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FUTEBOL

A maldição do cem

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Final da Copa do Mundo de 1994. Romário dirige-se lentamente para a grande área. Ele vai fazer a cobrança do segundo pênalti da série decisiva contra a Itália. Márcio Santos perdeu a primeira e uma grande responsabilidade recai sobre os seus ombros. Ele corre e chuta. A bola bate na trave e entra.
Campeonato Brasileiro de 2002. Romário dirige-se lentamente para a grande área. Ele vai fazer a cobrança de um pênalti quando o seu time, o Fluminense, perde do Flamengo. Uma grande responsabilidade recai sobre os seus ombros. Ele corre e chuta. A bola bate na trave e não entra.
Muitas explicações podem ser dadas para o jejum de gols que tem marcado os últimos jogos de Romário (má fase, falta de bons lançamentos, rendimento ruim do conjunto etc.). E tenho certeza de que você, leitor, já ouviu falar de todas elas. Eu, porém, tenho certeza de que a razão mais convincente de todas é a seguinte: o velho atacante está sendo perseguido pela maldição do cem. Sim, a maldição do cem. Por alguma razão misteriosa, o número cem não tem sido benéfico para os nossos times e atletas.
Comecemos por Romário:
Há 450 minutos, ele vem tentando atingir o honroso patamar de cem gols marcados no Brasileiro. Além de melhorar sua posição no ranking, poderia iniciar a ultrapassagem sobre Dario, que chegou a 104, e começaria a pensar mais seriamente em se aproximar de Serginho Chulapa e Túlio, autores de nada menos que 125 gols na competição.
O inimigo figadal Zico, com 139, e o ex-companheiro de ataque Roberto Dinamite, com 190, ainda estão muito à frente, mas, primeiro, antes de se pensar em superar recordes, será preciso superar as defesas e os goleiros adversários, e é aí que está o problema: a bola parece não querer entrar.
Atlético-MG, Santos, Juventude, Coritiba e Flamengo já passaram incólumes pelo Baixinho, e o centésimo gol vai ficando cada vez mais parecido com uma miragem, um objetivo longínquo e difícil de ser alcançado.
Nessas horas, além do peso psicológico e da sensação de que tudo está dando errado, coisas estranhas começam a acontecer: os goleiros fazem defesas incríveis, os zagueiros salvam gols em cima da linha, a bola passa a milímetros da trave. Até mesmo lances que nunca aconteciam antes, como uma furada ou um chute torto, passam a ser mais frequentes.
Quem sabe na próxima partida, contra o time do Figueirense. Quem sabe...
Mas o pior de tudo é que a maldição do cem não se restringe aos artilheiros. Pelo menos até aqui, ela tem se estendido aos clubes.
Vasco, Ponte Preta e Flamengo não guardam as melhores lembranças do ano dos seus centenários.
E o próprio tricolor carioca, aniversariante centenário da vez, não tem tido muito do que se orgulhar até aqui. Alguns poderiam dizer que ele ganhou o Estadual do Rio, mas, além de a final ter sido um jogo sem graça contra o Americano, no futuro o torcedor vai dizer: "É, ganhei o Caixão...".
É ou não uma maldição?
A atéia leitora e o leitor incréu podem duvidar, mas clubes e artilheiros que estão à beira do amaldiçoado número (o Grêmio é de 1903, o Botafogo é de 1904 e o paraguaio Arce, se não me engano, já chegou a 97 gols na carreira) devem tomar cuidado. No lugar deles, eu recorreria aos serviços do mestre Zé Cabala.

Longe de casa
Assim como Magrão, centroavante que joga bem em todos os times, menos no Palmeiras, Rubens Cardoso deixou boa impressão por onde passou, menos no Santos. Agora, no Parque Antarctica, o lateral poderá fazer boa dupla com Zinho, com quem, aliás, já jogou e se deu bem.

Pré-Libertadores
A torcida do Corinthians, que vinha criticando o goleiro Doni, deve estar muito grata pelas duas defesas que garantiram a vitória no último minuto contra o Paysandu.

Furacão
Se o Atlético-PR já atropelava quem vinha pela frente, agora, com a volta de Alex Mineiro, fica ainda mais temível.

Quadrinha em "ex"
Dura lex sed lex, a do mundo prafrentex. Para alívio dos beques, está sem clube o Alex.

E-mail torero@uol.com.br



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