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FUTEBOL
A maldição do cem
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Final da Copa do Mundo de
1994. Romário dirige-se lentamente para a grande área. Ele
vai fazer a cobrança do segundo
pênalti da série decisiva contra a
Itália. Márcio Santos perdeu a
primeira e uma grande responsabilidade recai sobre os seus ombros. Ele corre e chuta. A bola bate na trave e entra.
Campeonato Brasileiro de 2002.
Romário dirige-se lentamente para a grande área. Ele vai fazer a
cobrança de um pênalti quando o
seu time, o Fluminense, perde do
Flamengo. Uma grande responsabilidade recai sobre os seus ombros. Ele corre e chuta. A bola bate na trave e não entra.
Muitas explicações podem ser
dadas para o jejum de gols que
tem marcado os últimos jogos de
Romário (má fase, falta de bons
lançamentos, rendimento ruim
do conjunto etc.). E tenho certeza
de que você, leitor, já ouviu falar
de todas elas. Eu, porém, tenho
certeza de que a razão mais convincente de todas é a seguinte: o
velho atacante está sendo perseguido pela maldição do cem. Sim,
a maldição do cem. Por alguma
razão misteriosa, o número cem
não tem sido benéfico para os
nossos times e atletas.
Comecemos por Romário:
Há 450 minutos, ele vem tentando atingir o honroso patamar
de cem gols marcados no Brasileiro. Além de melhorar sua posição
no ranking, poderia iniciar a ultrapassagem sobre Dario, que
chegou a 104, e começaria a pensar mais seriamente em se aproximar de Serginho Chulapa e Túlio,
autores de nada menos que 125
gols na competição.
O inimigo figadal Zico, com 139,
e o ex-companheiro de ataque
Roberto Dinamite, com 190, ainda estão muito à frente, mas, primeiro, antes de se pensar em superar recordes, será preciso superar as defesas e os goleiros adversários, e é aí que está o problema:
a bola parece não querer entrar.
Atlético-MG, Santos, Juventude, Coritiba e Flamengo já passaram incólumes pelo Baixinho, e o
centésimo gol vai ficando cada
vez mais parecido com uma miragem, um objetivo longínquo e
difícil de ser alcançado.
Nessas horas, além do peso psicológico e da sensação de que tudo está dando errado, coisas estranhas começam a acontecer: os
goleiros fazem defesas incríveis,
os zagueiros salvam gols em cima
da linha, a bola passa a milímetros da trave. Até mesmo lances
que nunca aconteciam antes, como uma furada ou um chute torto, passam a ser mais frequentes.
Quem sabe na próxima partida,
contra o time do Figueirense.
Quem sabe...
Mas o pior de tudo é que a maldição do cem não se restringe aos
artilheiros. Pelo menos até aqui,
ela tem se estendido aos clubes.
Vasco, Ponte Preta e Flamengo
não guardam as melhores lembranças do ano dos seus centenários.
E o próprio tricolor carioca, aniversariante centenário da vez,
não tem tido muito do que se orgulhar até aqui. Alguns poderiam
dizer que ele ganhou o Estadual
do Rio, mas, além de a final ter sido um jogo sem graça contra o
Americano, no futuro o torcedor
vai dizer: "É, ganhei o Caixão...".
É ou não uma maldição?
A atéia leitora e o leitor incréu
podem duvidar, mas clubes e artilheiros que estão à beira do amaldiçoado número (o Grêmio é de 1903, o Botafogo é de 1904 e o paraguaio Arce, se não me engano,
já chegou a 97 gols na carreira)
devem tomar cuidado. No lugar
deles, eu recorreria aos serviços do
mestre Zé Cabala.
Longe de casa
Assim como Magrão, centroavante que joga bem em
todos os times, menos no Palmeiras, Rubens Cardoso deixou boa impressão por onde
passou, menos no Santos.
Agora, no Parque Antarctica,
o lateral poderá fazer boa dupla com Zinho, com quem,
aliás, já jogou e se deu bem.
Pré-Libertadores
A torcida do Corinthians, que
vinha criticando o goleiro
Doni, deve estar muito grata
pelas duas defesas que garantiram a vitória no último minuto contra o Paysandu.
Furacão
Se o Atlético-PR já atropelava
quem vinha pela frente, agora, com a volta de Alex Mineiro, fica ainda mais temível.
Quadrinha em "ex"
Dura lex sed lex, a do mundo
prafrentex. Para alívio dos
beques, está sem clube o
Alex.
E-mail torero@uol.com.br
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