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MOTOR
O que é justo?
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE
Quase tudo tem preço na F-1.
Do piloto ao motor, é possível pelo menos estimar quanto
custa cada item de uma equipe.
Uma rara exceção são os pneus.
Não têm custo definido. Não são
comprados, são fornecidos.
Existe um valor nominal, utilizado pelos times em seus orçamentos - 3.000/pneu. Mas isso
não é real, é chute. As fabricantes
simplesmente não conseguem
embutir o custo de desenvolvimento, repleto de variáveis. E, se
isso, por hipótese, fosse viável, esse
custo ainda estaria sujeito a um
fictício mercado, ditado pelo desempenho, que tenderia a pagar
mais pelo melhor produto. Por
exemplo, neste momento, seria
justo vender um pneu Michelin
pelo mesmo preço que um Bridgestone? Invertendo, quanto um
time pagaria agora para ter seus
carros calçados pela Michelin?
Por contrato e, em menor escala, por razões técnicas, a Ferrari
não pode comprar um pneu da
empresa concorrente. E o que ela
faz, então? Tenta fazer com que o
produto não chegue às rodas rivais. E como se faz isso? Uma boa
leitura do regulamento e um telefonema para a FIA. Justo?
Sim, se você acreditar na choradeira do time italiano, que, no desespero, ameaça jogar o melhor
Mundial dos últimos tempos para
debaixo do tapete. Não, se você levar em conta que a Michelin não
infringiu nenhuma regra, apenas
encontrou um brecha -desse
ponto de vista, manobra genial.
Está lá no livro que o pneu precisa ter 270 mm e que a medida
será verificada antes do GP. Não
está escrito o que acontece depois.
Então, que se dane. A Michelin
fez algo raro na F-1 atual: teve
uma sacada. Semelhante à asa de
aço que Frank Dernie colocou no
FW25, solução tão tosca como
prática. Não é uma coincidência
que as duas soluções encontram-se no melhor carro do momento.
O que a Ferrari fez explica-se
pela falta de perspectiva. O que a
FIA fez, no entanto, é discutível.
Há um ano que a entidade manipula as regras, a despeito da vontade dos times, para proporcionar
um campeonato diferente. Até a
semana passada, foi competente
nesse trabalho, apesar de não ter
banido a eletrônica na Inglaterra.
A diferença desta vez é que, ao
mudar a verificação dos pneus
para depois das corridas -algo
aparentemente muito sensato-,
Max Mosley está prejudicando
um grupo muito específico, o daqueles que usam Michelin, às vésperas de Monza, GP em que a
Ferrari corre em casa. Todas as
outras mudanças afetaram todos
os times. Essa, na luta pelo título,
só interessa à Maranello. Justo?
Se a FIA não fizesse nada, a Ferrari seguramente perderia o
Mundial. Mas nada garante, por
enquanto, que Williams e McLaren dependam dos pneus a ponto
de Schumacher voltar a ser favorito. O GP da Itália responderá.
Mosley, mais uma vez, apostou
alto. Favoreceu um forte aliado
em detrimento de dirigentes que,
só neste ano, já ameaçaram até
processos judiciais. Se a Ferrari
disparar em Monza, o advogado
inglês, após rasgados elogios, será
solenemente crucificado.
De fato, não é normal Schumacher andar em oitavo. Mas, pior
para a F-1, é ele andar na frente.
Saiba mais
Um pneu de F-1 leva pouco mais de uma hora para ser fabricado.
Nesse espaço de tempo, por controle rígido de qualidade, sofre cerca
de 130 verificações. Se falhar em qualquer uma, mesmo sem uso algum, vai para a reciclagem. Produto acabado, a superfície ainda é
mapeada a laser, e a estrutura, radiografada. É submetido finalmente
a uma ultra-sonografia. E tudo isso para durar meia hora na pista.
Saiba ainda mais
A composição de um pneu engloba de 150 a 220 ingredientes -tem
de tudo, óleos, aço, kevlar, poliéster, zinco e, evidentemente, borracha. A grosso modo, 79% de borracha, 18% de aço e 3% de material
têxtil. Tudo é segredo industrial. A produção é vertical. A Michelin,
por exemplo, desenvolve e fabrica até o maquinário que utiliza.
E-mail mariante@uol.com.br
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