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FUTEBOL
O valor mais alto
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Amanhã começa, para o
Brasil, a Copa do Mundo
2006. E, quando se trata de seleção brasileira e Copa do Mundo,
valem os versos de Camões: "Cesse tudo o que a Musa antiga canta,/ que outro valor mais alto se
alevanta".
Sou de um tempo em que a aspiração maior de qualquer jogador de futebol, desde os campinhos de terra da infância, era chegar à seleção, disputar uma Copa
e, se possível, vencê-la. Eu mesmo
tive esse sonho e acredito que boa
parte dos leitores também.
Por isso, sempre tive dificuldade
de entender frases do tipo: "Fulano não rende na seleção porque
está com a vida feita, já ganhou
tudo". Ou então: "Beltrano joga
mais no clube, que é quem paga
seu salário".
Em 1970, Pelé já vencera duas
Copas e dois Mundiais interclubes, marcara mais de mil gols e
era considerado sem contestação
o maior craque de todos os tempos. Nem por isso deixou de dar
seu máximo na Copa do México.
Não se trata de simples e compulsório "patriotismo" -"o último refúgio dos canalhas", para
citar o crítico britânico Samuel
Johnson-, mas de acreditar que
há bens mais preciosos que o dinheiro.
Quanto vale um sonho de infância -em dólares, euros ou
reais? Para mim, não tem preço
(como diz, que ironia!, o comercial de cartão de crédito).
Hoje, eu sei, os valores são outros. Para muitos futebolistas, talvez a maioria, a seleção é vista como uma vitrine, um trampolim
para novos contratos e melhores
salários.
Mais que um mero sinal do
crescente "mercenarismo" dos jogadores, isso é um indício do empobrecimento espiritual mais
amplo de nossa época. Pois quase
todos aprovam essa nova atitude,
visto como "profissional".
Parafraseando Millôr, hoje já
não se pergunta se o dinheiro traz
felicidade, mas, sim, se a felicidade traz dinheiro.
Para não parecer um nacionalista romântico e nostálgico, tentarei explicar melhor meu ponto.
Suponho que um atleta profissional de futebol deva amar o seu
ofício, admirar os grandes, cultuar os antigos e aspirar a fazer
parte da elite. Nesse ofício, qual é,
reconhecidamente, a elite da elite? Resposta: a seleção brasileira.
Portanto, só o fato de vestir a camisa gloriosa, símbolo das alturas
máximas a que chegou a arte do
futebol, já me parece motivação
suficiente para qualquer jogador.
Confesso que tudo isso me veio
à mente por instigação de um recorte de jornal britânico enviado
gentilmente pelo leitor Moacir
Amaral Neto.
Em entrevista ao jornal, David
Beckham diz estar sempre pronto
a defender a seleção inglesa, mesmo nos amistosos, tendo feito
constar no contrato com o Real
Madrid a liberação para todos os
jogos e convocações da Inglaterra.
Conclusão do leitor, que é também a minha: "Se os jogadores
brasileiros tivessem esse mesmo
espírito para jogar na seleção brasileira, seríamos mais que imbatíveis, mais que tudo que se possa
imaginar".
Palpite 1
Se alguém me pedisse para escalar minha seleção brasileira
ideal, com os jogadores de que
Parreira dispõe, ela seria a seguinte: Marcos; Cafu, Lúcio,
Roque Júnior e Roberto Carlos;
Gilberto Silva, Renato, Diego e
Alex; Ronaldinho (depois de
terminada a suspensão) e Ronaldo. Rivaldo e Kaká seriam
boas opções para o segundo
tempo. Formação demasiado
ofensiva? Pode ser. Mas poucos
seriam loucos de atacar um time assim.
Palpite 2
Quanto ao grupo selecionado,
eu faria poucas mudanças:
Maurinho no lugar de Belletti,
Alex (do Santos) e Luisão nas
vagas de Juan e Edmílson. Do
meio-campo para a frente, já
está com Parreira o que temos
de melhor.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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