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São Paulo, sábado, 06 de setembro de 2003

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FUTEBOL

O valor mais alto

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Amanhã começa, para o Brasil, a Copa do Mundo 2006. E, quando se trata de seleção brasileira e Copa do Mundo, valem os versos de Camões: "Cesse tudo o que a Musa antiga canta,/ que outro valor mais alto se alevanta".
Sou de um tempo em que a aspiração maior de qualquer jogador de futebol, desde os campinhos de terra da infância, era chegar à seleção, disputar uma Copa e, se possível, vencê-la. Eu mesmo tive esse sonho e acredito que boa parte dos leitores também.
Por isso, sempre tive dificuldade de entender frases do tipo: "Fulano não rende na seleção porque está com a vida feita, já ganhou tudo". Ou então: "Beltrano joga mais no clube, que é quem paga seu salário".
Em 1970, Pelé já vencera duas Copas e dois Mundiais interclubes, marcara mais de mil gols e era considerado sem contestação o maior craque de todos os tempos. Nem por isso deixou de dar seu máximo na Copa do México.
Não se trata de simples e compulsório "patriotismo" -"o último refúgio dos canalhas", para citar o crítico britânico Samuel Johnson-, mas de acreditar que há bens mais preciosos que o dinheiro.
Quanto vale um sonho de infância -em dólares, euros ou reais? Para mim, não tem preço (como diz, que ironia!, o comercial de cartão de crédito).
Hoje, eu sei, os valores são outros. Para muitos futebolistas, talvez a maioria, a seleção é vista como uma vitrine, um trampolim para novos contratos e melhores salários.
Mais que um mero sinal do crescente "mercenarismo" dos jogadores, isso é um indício do empobrecimento espiritual mais amplo de nossa época. Pois quase todos aprovam essa nova atitude, visto como "profissional".
Parafraseando Millôr, hoje já não se pergunta se o dinheiro traz felicidade, mas, sim, se a felicidade traz dinheiro.
Para não parecer um nacionalista romântico e nostálgico, tentarei explicar melhor meu ponto.
Suponho que um atleta profissional de futebol deva amar o seu ofício, admirar os grandes, cultuar os antigos e aspirar a fazer parte da elite. Nesse ofício, qual é, reconhecidamente, a elite da elite? Resposta: a seleção brasileira. Portanto, só o fato de vestir a camisa gloriosa, símbolo das alturas máximas a que chegou a arte do futebol, já me parece motivação suficiente para qualquer jogador.
Confesso que tudo isso me veio à mente por instigação de um recorte de jornal britânico enviado gentilmente pelo leitor Moacir Amaral Neto.
Em entrevista ao jornal, David Beckham diz estar sempre pronto a defender a seleção inglesa, mesmo nos amistosos, tendo feito constar no contrato com o Real Madrid a liberação para todos os jogos e convocações da Inglaterra.
Conclusão do leitor, que é também a minha: "Se os jogadores brasileiros tivessem esse mesmo espírito para jogar na seleção brasileira, seríamos mais que imbatíveis, mais que tudo que se possa imaginar".

Palpite 1
Se alguém me pedisse para escalar minha seleção brasileira ideal, com os jogadores de que Parreira dispõe, ela seria a seguinte: Marcos; Cafu, Lúcio, Roque Júnior e Roberto Carlos; Gilberto Silva, Renato, Diego e Alex; Ronaldinho (depois de terminada a suspensão) e Ronaldo. Rivaldo e Kaká seriam boas opções para o segundo tempo. Formação demasiado ofensiva? Pode ser. Mas poucos seriam loucos de atacar um time assim.

Palpite 2
Quanto ao grupo selecionado, eu faria poucas mudanças: Maurinho no lugar de Belletti, Alex (do Santos) e Luisão nas vagas de Juan e Edmílson. Do meio-campo para a frente, já está com Parreira o que temos de melhor.

E-mail jgcouto@uol.com.br


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