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MOTOR
Bóbi filho
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE
A semana foi de Piquet filho.
Ou de Piquet pai, se é que
possível separar as duas pessoas.
Piquet filho, por mais que faça sucesso, sempre será filho de quem é.
E Piquet pai é pai, figura incondicional que volta e meia embute
no filho as minhocas datadas e
não resolvidas de sua cabeça.
Não acredito que Piquet ainda
tenha algo a resolver, como acontece com boa parte dos pais chatos
que o esporte produz. Parece mais
aquele clássico caso judeu, em
que uma geração se sacrificava
pela seguinte, poupada de apuros.
Piquet fez de tudo para se tornar um profissional das pistas.
Correu escondido da família, pulou muro para ver GP Brasil, limpou o carro de Reutemann, vendeu um fusca, então seu patrimônio, para tentar a sorte na Inglaterra. Dormiu em garagens, passou anos comendo porcaria. Tornou-se um aventureiro. Venceu.
Piquet filho nem de longe experimentou qualquer dificuldade.
Convive desde pequeno com seguranças, assessores de imprensa,
patrocinadores. Mostrou um dia
que poderia ser piloto, e Piquet
pai assumiu a tarefa, ao seu jeito
-cru, pragmático, sem limites.
Dará ao filho tudo que não teve
em seu início de carreira. Dará ao
filho o que não recebeu de seu
próprio pai, os meios para chegar
a ser campeão mundial. Piquet filho será o filhinho-de-papai que
seu pai não teve a chance de ser.
Evidente, tal situação provocará insinuações. Muitos serão os
que dividirão o crédito entre os
dois. Outros tantos dirão que o
sucesso na verdade é produto exclusivo do pai. Com certeza Piquet dará de ombros, mais uma
vez. Nunca prestou atenção ao
que o resto do mundo falava.
Foi tricampeão nas pistas e um
guerrilheiro fora dela. A tática
continua a mesma, com a única
diferença que trabalha agora para outro Piquet brilhar. Isso explica os subterfúgios polêmicos, como os colocados em prática no
Sul-Americano de F-3, e as declarações bombásticas, como a do
até aqui fictício (para não dizer
mentiroso) contrato de longa duração proposto pela Williams.
Piquet pai é aquele mesmo sujeito que tirou o bananal do limbo da F-1 após a tragicomédia do
Copersucar. O mesmo que inventou os cobertores para pneus, que
usou o companheiro de time como coelho, que conseguiu ludibriar Frank Williams e Patrick
Head para roubar um título programado para Nigel Mansell -e
transformá-lo em um pateta.
Acostume-se portanto a vê-lo
fora do carro, velho, com aspecto
um tanto diferente, mas com o
mesmo sorriso maroto, falando e
fazendo as mesmas bobagens.
O tempo só muda as pessoas no
que elas deixam o tempo mudar.
A F-1 viveu uma revolução silenciosa nesta semana. Tudo indica que as montadoras fizeram
valer sua vontade, que os bancos
alemães se livraram do papagaio
e que Ecclestone perdeu parte ou
boa parte de sua fatia no bolo.
Já estava mais do que na hora.
Só que ninguém sabe como a coisa toda vai funcionar. Ecclestone
é um mercador de faro e instinto.
Homens de marketing usam pesquisas. É do vinho para a água.
Sem-Nascar?
O veterano Jeff Green foi contratado pela Petty para dirigir um dos
carros do time em 2004. O chefe Kyle Petty continuará na ativa. Segundo a "Autosport", ninguém sabe ainda o que será de Christian.
Ação e reação
Jean Todt disse que, desta vez, a Ferrari começa o Mundial de carro
novo. Óbvio, uma resposta à boa estréia do McLaren MP4-19. Entre
as duas, a Williams promete o FW25 na pista a partir de 5 de janeiro.
Senna, 10
Imola vai dar o nome do tricampeão à tribuna central, promover um
jogo de futebol entre pilotos e alguns tetracampeões de 1994 e colocar
Berger para dar uma volta de Lotus. Tudo em 1º de maio de 2004.
E-mail mariante@uol.com.br
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