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São Paulo, sábado, 06 de dezembro de 2003

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MOTOR

Bóbi filho

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

A semana foi de Piquet filho. Ou de Piquet pai, se é que possível separar as duas pessoas. Piquet filho, por mais que faça sucesso, sempre será filho de quem é. E Piquet pai é pai, figura incondicional que volta e meia embute no filho as minhocas datadas e não resolvidas de sua cabeça.
Não acredito que Piquet ainda tenha algo a resolver, como acontece com boa parte dos pais chatos que o esporte produz. Parece mais aquele clássico caso judeu, em que uma geração se sacrificava pela seguinte, poupada de apuros.
Piquet fez de tudo para se tornar um profissional das pistas. Correu escondido da família, pulou muro para ver GP Brasil, limpou o carro de Reutemann, vendeu um fusca, então seu patrimônio, para tentar a sorte na Inglaterra. Dormiu em garagens, passou anos comendo porcaria. Tornou-se um aventureiro. Venceu.
Piquet filho nem de longe experimentou qualquer dificuldade. Convive desde pequeno com seguranças, assessores de imprensa, patrocinadores. Mostrou um dia que poderia ser piloto, e Piquet pai assumiu a tarefa, ao seu jeito -cru, pragmático, sem limites.
Dará ao filho tudo que não teve em seu início de carreira. Dará ao filho o que não recebeu de seu próprio pai, os meios para chegar a ser campeão mundial. Piquet filho será o filhinho-de-papai que seu pai não teve a chance de ser.
Evidente, tal situação provocará insinuações. Muitos serão os que dividirão o crédito entre os dois. Outros tantos dirão que o sucesso na verdade é produto exclusivo do pai. Com certeza Piquet dará de ombros, mais uma vez. Nunca prestou atenção ao que o resto do mundo falava.
Foi tricampeão nas pistas e um guerrilheiro fora dela. A tática continua a mesma, com a única diferença que trabalha agora para outro Piquet brilhar. Isso explica os subterfúgios polêmicos, como os colocados em prática no Sul-Americano de F-3, e as declarações bombásticas, como a do até aqui fictício (para não dizer mentiroso) contrato de longa duração proposto pela Williams.
Piquet pai é aquele mesmo sujeito que tirou o bananal do limbo da F-1 após a tragicomédia do Copersucar. O mesmo que inventou os cobertores para pneus, que usou o companheiro de time como coelho, que conseguiu ludibriar Frank Williams e Patrick Head para roubar um título programado para Nigel Mansell -e transformá-lo em um pateta.
Acostume-se portanto a vê-lo fora do carro, velho, com aspecto um tanto diferente, mas com o mesmo sorriso maroto, falando e fazendo as mesmas bobagens.
O tempo só muda as pessoas no que elas deixam o tempo mudar.
 
A F-1 viveu uma revolução silenciosa nesta semana. Tudo indica que as montadoras fizeram valer sua vontade, que os bancos alemães se livraram do papagaio e que Ecclestone perdeu parte ou boa parte de sua fatia no bolo.
Já estava mais do que na hora. Só que ninguém sabe como a coisa toda vai funcionar. Ecclestone é um mercador de faro e instinto. Homens de marketing usam pesquisas. É do vinho para a água.

Sem-Nascar?
O veterano Jeff Green foi contratado pela Petty para dirigir um dos carros do time em 2004. O chefe Kyle Petty continuará na ativa. Segundo a "Autosport", ninguém sabe ainda o que será de Christian.

Ação e reação
Jean Todt disse que, desta vez, a Ferrari começa o Mundial de carro novo. Óbvio, uma resposta à boa estréia do McLaren MP4-19. Entre as duas, a Williams promete o FW25 na pista a partir de 5 de janeiro.

Senna, 10
Imola vai dar o nome do tricampeão à tribuna central, promover um jogo de futebol entre pilotos e alguns tetracampeões de 1994 e colocar Berger para dar uma volta de Lotus. Tudo em 1º de maio de 2004.

E-mail mariante@uol.com.br


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