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Super Poderosas
Empresária, em cargos de chefia de equipes ou na mídia, mulher conquista espaço
no masculino mundo da F-1
DE SÃO PAULO
Foi-se o tempo em que mulher na F-1 era sinônimo apenas das famosas "grid girls".
Seja como empresárias, dirigentes ou na TV, cada vez
mais elas usam a sensibilidade e o charme femininos para
ocupar cargos importantes
num esporte tradicionalmente dominado por homens.
Veterana da turma, a alemã Sabine Kehm, 45, começou como jornalista, virou
assessora de imprensa de Michael Schumacher e, no começo do ano, foi promovida
a empresária do maior campeão da história da F-1.
"Há dez, 15 anos, era mais
difícil, porque o número de
mulheres era bem menor.
Mas agora, após tanto tempo, a F-1 já é quase uma família para mim", fala Sabine,
que hoje circula com desenvoltura pelos paddocks.
"Agora que estou como
empresária do Michael, sinto
as pessoas um pouco surpresas por isso. Mas, no final, eu
vejo algumas vantagens."
Uma delas, diz, é ter uma
percepção diferente em determinadas situações. Algo
que ajudou Monisha Kaltenborn, 38, diretora da Sauber
desde o começo deste ano. É
a primeira mulher a ocupar
cargo tão alto numa equipe.
Ex-chefe do departamento
jurídico do time, a indiana teve de comandar um grande
processo de cortes. "Por ser
mulher, encarei a situação de
um jeito diferente, mais de
perto", avalia ela. "Não quero dizer que fiz isso melhor
do que um homem faria, mas
tive uma visão diferente por
ser mais emocional."
Há menos tempo na F-1,
Oksana Kossatchenko, 44,
empresária de Vitaly Petrov,
também vê vantagens em ser
mulher. "Especialmente se
você é russa", brinca.
"Podemos ser rudes também. Para nós, não existe
cinza. Ou é preto ou é branco", completa a loira de
olhos azuis, que diz usar sua
intuição para saber se deve
ou não confiar em alguém.
Logo que começaram, porém, todas elas dizem ter sofrido com o preconceito. A última a enfrentar isso foi a escocesa Lee McKenzie, 32, repórter da TV inglesa BBC.
No Japão, Lee tornou-se a
primeira mulher em 60 anos
de cobertura da tradicional
rede a ancorar a transmissão
de um fim de semana de GP.
Além da desconfiança de
parte do público, teve de encarar duas horas de espera
pela classificação, que não
ocorreu. Depois, fez o treino
oficial e prova no mesmo dia.
"Muita gente achou que eu
só tinha conseguido esta
chance por ser uma mulher.
Mas foi bom para mim, porque ficar tanto tempo ao vivo
abriu os olhos de muita gente", afirma. "Não quero ser
vista como uma garota com
um microfone e um batom.
Quero que me reconheçam
pela minha competência."
Como a chegada delas a
este mundo é relativamente
recente, muitos ainda se surpreendem e cometem gafes.
Sabine conta que várias
vezes foi confundida com a
secretária de Schumacher.
Oksana foi confundida
com a mãe de Petrov. "O que
às vezes sou um pouco também", afirma a empresária.
E Monisha, com uma tradutora de Peter Sauber por
um chefe de time -mas que
ela não revela o nome.
A dirigente, porém, acredita que as coisas estão mudando. "A sociedade está sofrendo uma transição. As
pessoas estão mais acostumadas, e nós mesmas estamos mais relaxadas", diz.
"Parte da culpa é nossa,
nos cobramos demais", diz a
mãe de dois filhos, que se
desdobra para conciliar a vida itinerante com a educação
das crianças. "Tenho sorte de
ter marido e família que me
ajudam", afirma a indiana.
Oksana não teve a mesma
sorte. Seu namorado a deixou, pois "se sentia como
uma bagagem". "Azar o dele", fala a empresária, que
ainda viaja acompanhada.
Agora por três livros.(CAROLINA ARAÚJO E TATIANA CUNHA)
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