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"A mágoa e a mancha serão minhas"
À Folha, o presidente do Corinthians, Andrés Sanches, diz que não será lembrado por títulos, mas pela queda à Série B
Cartola diz que prioridade é
Copa do Brasil, que retorno à elite é obrigação e que irá reformular em até 30% o elenco para o próximo ano
Ricardo Nogueira/Folha Imagem
![](../images/s0712200701.jpg) |
O presidente do Corinthians, Andrés Sanches, que diz que o time tem obrigação de voltar à elite em 2008, na sede social do clube |
EDUARDO ARRUDA
PAULO GALDIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
Não importa o que fizer, ele
será lembrado para sempre como o presidente que caiu com o
Corinthians para a Série B.
É assim que Andrés Sanches,
44, descreve o impacto do rebaixamento sob sua gestão, que
no domingo completa dois meses. Em entrevista à Folha, o
principal dirigente do Parque
São Jorge disse que subir não é
prioridade, mas obrigação. E
conta que terá de se "preocupar muito" com a origem do dinheiro de qualquer negócio feito pelo clube a partir de agora.
FOLHA - Qual o tamanho da reformulação do elenco?
ANDRÉS SANCHES - Vamos avaliar
e ver quem fica. Vamos renovar
de 25% a 30% do elenco.
FOLHA - Por que o futebol será gerido por tantos dirigentes?
ANDRÉS - Vamos lá. Quem?
FOLHA - Nenê do Posto, Eli Werdo,
Mario Gobbi, Antônio Carlos...
ANDRÉS - Em 2000, quando foi
campeão do mundo, tinham
quatro, cinco. E um vice de futebol que não tinha tempo para
se dedicar, nada mais justo que
ele chamar outros conselheiros
para cooperar. Não é patota.
FOLHA - Mas o senhor chegou a dizer que pretendia assumir o futebol.
ANDRÉS - Entenderam mal. Eu
disse que devia assumir o futebol para os últimos jogos que
faltavam no campeonato. Eu,
como presidente do Corinthians, é impossível me dedicar
ao futebol como me dediquei
nesses últimos jogos.
FOLHA - E sobre o Mario Gobbi e o
Antônio Carlos, sem experiência administrativa no futebol...
ANDRÉS - Mas quem disse que
ele vai ser administrativo? Ele
vai ser diretor técnico. Quando
for contratar jogador, ele vai
dar a opinião dele. Administrativo vai ter outro, o Mario Gobbi. Estatutariamente o clube
precisa ter um vice de futebol.
Então ele vai reorganizar administrativamente.
FOLHA - O senhor nomeou o Gobbi
mais por ser da sua confiança?
ANDRÉS - Também. Muitas
pessoas são da minha confiança. Ele é um deles. Trabalhou
muito para o clube. Nada mais
justo. Ele se expressa bem. Tem
mil benefícios por não ser viciado no futebol, por nunca ter tido participação no futebol. Ele
vai ajudar bastante. E vai
aprender no futebol.
FOLHA - O Antônio Carlos já sofre
rejeição da torcida...
ANDRÉS - Toda vez que você
trouxer alguém, vai ter alguém
reclamando.
FOLHA - O senhor tem algum tipo
de negócio com o Antônio Carlos?
ANDRÉS - Tenho: amizade. Isso
é brincadeira. Perguntar isso é
brincadeira. Vocês são piores
que a Polícia Federal.
FOLHA - Mario Gobbi disse que não
importa de onde veio o dinheiro da
MSI.
ANDRÉS - Ele quis dizer que juridicamente o Corinthians não
tem nenhum problema na origem do dinheiro. O problema é
para onde foi o dinheiro. E que
realmente a parceria, um dos
grandes problemas, foi a gestão
de ambas as partes.
FOLHA - Mas e moralmente?
ANDRÉS - Moralmente não interessa. Não estou roubando
ninguém. Se fosse ver moral
nesse país você não estaria aqui
sentado na minha frente sem
terno e gravata, com a mão na
boca, falando comigo. É falta de
respeito falar com uma pessoa
com a mão na boca. A sua moral
não é a mesma que a minha. Cada um tem a sua moral. Desde
que eu não te prejudique.
FOLHA - Mas se o senhor for fazer
uma nova parceria vai se preocupar
com isso, com a origem do dinheiro?
ANDRÉS - Infelizmente, vou ter
que me preocupar muito hoje.
Na época eu não era o presidente. Eu não nego para ninguém,
na véspera da viagem fui chamado nesta sala, juntei meu
grupo. Não conhecia ninguém.
Conheci o Kia lá, o Renato Duprat lá. Comercialmente, financeiramente, a parceria não era
ruim. O que eu posso fazer? Depois que viemos para cá começou a história do Boris. Nós fomos jantar na casa do cara, não
nego isso. Falei no depoimento.
FOLHA - O senhor disse que o Corinthians ia ser independente. Como
fazer isso se há dívidas?
ANDRÉS - Nós vamos pagar as
dívidas durante o ano. O que
acontece é que tem o Clube dos
13, mas eu não sou do C13, sou?
Não vou participar da Série A. E
na FBA [entidade que gere a Série B] eu não participo de nada.
Então sou independente. Vou
negociar com C13 e FBA.
FOLHA - O Mano Menezes é um
técnico caro para o Corinthians?
ANDRÉS - Você sabe quanto ele
ganha? Você sabe?
FOLHA - Cerca de R$ 200 mil.
ANDRÉS - Duzentos e trin... Não
vou falar. É um pouco mais.
Mas o problema não é esse. O
problema é o dia-a-dia do clube, a antecipação das receitas.
O marketing estava estourado.
É no marketing e nas inovações
sociais onde se vai buscar receita. A dívida se negocia. Você
parcela, faz um planejamento
para pagar. O problema é o planejamento do dia-a-dia com a
falta de receita.
FOLHA - O senhor vai precisar pegar dinheiro emprestado para montar um novo time?
ANDRÉS - Espero não precisar.
Vou prorrogar um pouco o que
tem para pagar e continuar recebendo as cotas normais. A cota que ia receber em janeiro, eu
teria que abater o que devo,
mas não vou abater e receber as
cotas de janeiro, fevereiro,
março e abril.
FOLHA - A dívida do Corinthians
pode ser maior que R$ 95 milhões?
ANDRÉS - Pode ser, mas não vai
ser. Fechamos a conta em outubro. Logicamente teremos despesas em outubro, novembro e
dezembro. Mas vai ser prejuízo.
Este ano vai fechar no vermelho. Vai ser mais alta. Não tanto, mas vai ser.
FOLHA - A prioridade é subir?
ANDRÉS - Prioridade é Copa do
Brasil. Subir é obrigação, dever.
FOLHA - É verdade que você está
fazendo aulas de português?
ANDRÉS - Eu? Não estudei
quando era jovem, vou estudar
depois de velho? Não. Eu acho
que não preciso. Pelo menos
para me expressar, não. Falo
como fala a maioria do povo
brasileiro. Não me envergonho
disso.
FOLHA - A sua passagem na presidência pode se tornar épica?
ANDRÉS - Não sou salvador de
nada. Minha obrigação aqui, lógico, é ganhar títulos. Mas não é
o que estou vivendo. Essa é minha obrigação primordial. Logicamente que, caindo para a
Série B, todo mundo tomou
uma pancada. Eu tomei uma
muito maior como presidente.
Vai ficar aí: na época que o Corinthians caiu, o Andrés Sanches era o presidente. A mágoa
e a mancha vão ficar muito
maior para o presidente.
FOLHA - Se for campeão de tudo,
acha que vão lembrar do senhor
dessa forma ou como o presidente
do rebaixamento?
ANDRÉS - Não posso falar por
todo mundo, só por mim. Eu
vou lembrar que fui presidente
do time que estava na Série B.
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