São Paulo, sexta-feira, 07 de dezembro de 2007

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"A mágoa e a mancha serão minhas"

À Folha, o presidente do Corinthians, Andrés Sanches, diz que não será lembrado por títulos, mas pela queda à Série B

Cartola diz que prioridade é Copa do Brasil, que retorno à elite é obrigação e que irá reformular em até 30% o elenco para o próximo ano


Ricardo Nogueira/Folha Imagem
O presidente do Corinthians, Andrés Sanches, que diz que o time tem obrigação de voltar à elite em 2008, na sede social do clube


EDUARDO ARRUDA
PAULO GALDIERI
DA REPORTAGEM LOCAL

Não importa o que fizer, ele será lembrado para sempre como o presidente que caiu com o Corinthians para a Série B. É assim que Andrés Sanches, 44, descreve o impacto do rebaixamento sob sua gestão, que no domingo completa dois meses. Em entrevista à Folha, o principal dirigente do Parque São Jorge disse que subir não é prioridade, mas obrigação. E conta que terá de se "preocupar muito" com a origem do dinheiro de qualquer negócio feito pelo clube a partir de agora.

 

FOLHA - Qual o tamanho da reformulação do elenco?
ANDRÉS SANCHES -
Vamos avaliar e ver quem fica. Vamos renovar de 25% a 30% do elenco.

FOLHA - Por que o futebol será gerido por tantos dirigentes?
ANDRÉS -
Vamos lá. Quem?

FOLHA - Nenê do Posto, Eli Werdo, Mario Gobbi, Antônio Carlos...
ANDRÉS -
Em 2000, quando foi campeão do mundo, tinham quatro, cinco. E um vice de futebol que não tinha tempo para se dedicar, nada mais justo que ele chamar outros conselheiros para cooperar. Não é patota.

FOLHA - Mas o senhor chegou a dizer que pretendia assumir o futebol.
ANDRÉS -
Entenderam mal. Eu disse que devia assumir o futebol para os últimos jogos que faltavam no campeonato. Eu, como presidente do Corinthians, é impossível me dedicar ao futebol como me dediquei nesses últimos jogos.

FOLHA - E sobre o Mario Gobbi e o Antônio Carlos, sem experiência administrativa no futebol...
ANDRÉS -
Mas quem disse que ele vai ser administrativo? Ele vai ser diretor técnico. Quando for contratar jogador, ele vai dar a opinião dele. Administrativo vai ter outro, o Mario Gobbi. Estatutariamente o clube precisa ter um vice de futebol. Então ele vai reorganizar administrativamente.

FOLHA - O senhor nomeou o Gobbi mais por ser da sua confiança?
ANDRÉS -
Também. Muitas pessoas são da minha confiança. Ele é um deles. Trabalhou muito para o clube. Nada mais justo. Ele se expressa bem. Tem mil benefícios por não ser viciado no futebol, por nunca ter tido participação no futebol. Ele vai ajudar bastante. E vai aprender no futebol.

FOLHA - O Antônio Carlos já sofre rejeição da torcida...
ANDRÉS -
Toda vez que você trouxer alguém, vai ter alguém reclamando.

FOLHA - O senhor tem algum tipo de negócio com o Antônio Carlos?
ANDRÉS -
Tenho: amizade. Isso é brincadeira. Perguntar isso é brincadeira. Vocês são piores que a Polícia Federal.

FOLHA - Mario Gobbi disse que não importa de onde veio o dinheiro da MSI.
ANDRÉS -
Ele quis dizer que juridicamente o Corinthians não tem nenhum problema na origem do dinheiro. O problema é para onde foi o dinheiro. E que realmente a parceria, um dos grandes problemas, foi a gestão de ambas as partes.

FOLHA - Mas e moralmente?
ANDRÉS -
Moralmente não interessa. Não estou roubando ninguém. Se fosse ver moral nesse país você não estaria aqui sentado na minha frente sem terno e gravata, com a mão na boca, falando comigo. É falta de respeito falar com uma pessoa com a mão na boca. A sua moral não é a mesma que a minha. Cada um tem a sua moral. Desde que eu não te prejudique.

FOLHA - Mas se o senhor for fazer uma nova parceria vai se preocupar com isso, com a origem do dinheiro?
ANDRÉS -
Infelizmente, vou ter que me preocupar muito hoje. Na época eu não era o presidente. Eu não nego para ninguém, na véspera da viagem fui chamado nesta sala, juntei meu grupo. Não conhecia ninguém. Conheci o Kia lá, o Renato Duprat lá. Comercialmente, financeiramente, a parceria não era ruim. O que eu posso fazer? Depois que viemos para cá começou a história do Boris. Nós fomos jantar na casa do cara, não nego isso. Falei no depoimento.

FOLHA - O senhor disse que o Corinthians ia ser independente. Como fazer isso se há dívidas?
ANDRÉS -
Nós vamos pagar as dívidas durante o ano. O que acontece é que tem o Clube dos 13, mas eu não sou do C13, sou? Não vou participar da Série A. E na FBA [entidade que gere a Série B] eu não participo de nada. Então sou independente. Vou negociar com C13 e FBA.

FOLHA - O Mano Menezes é um técnico caro para o Corinthians?
ANDRÉS -
Você sabe quanto ele ganha? Você sabe?

FOLHA - Cerca de R$ 200 mil.
ANDRÉS -
Duzentos e trin... Não vou falar. É um pouco mais. Mas o problema não é esse. O problema é o dia-a-dia do clube, a antecipação das receitas. O marketing estava estourado. É no marketing e nas inovações sociais onde se vai buscar receita. A dívida se negocia. Você parcela, faz um planejamento para pagar. O problema é o planejamento do dia-a-dia com a falta de receita.

FOLHA - O senhor vai precisar pegar dinheiro emprestado para montar um novo time?
ANDRÉS -
Espero não precisar. Vou prorrogar um pouco o que tem para pagar e continuar recebendo as cotas normais. A cota que ia receber em janeiro, eu teria que abater o que devo, mas não vou abater e receber as cotas de janeiro, fevereiro, março e abril.

FOLHA - A dívida do Corinthians pode ser maior que R$ 95 milhões?
ANDRÉS -
Pode ser, mas não vai ser. Fechamos a conta em outubro. Logicamente teremos despesas em outubro, novembro e dezembro. Mas vai ser prejuízo. Este ano vai fechar no vermelho. Vai ser mais alta. Não tanto, mas vai ser.

FOLHA - A prioridade é subir?
ANDRÉS -
Prioridade é Copa do Brasil. Subir é obrigação, dever.

FOLHA - É verdade que você está fazendo aulas de português?
ANDRÉS -
Eu? Não estudei quando era jovem, vou estudar depois de velho? Não. Eu acho que não preciso. Pelo menos para me expressar, não. Falo como fala a maioria do povo brasileiro. Não me envergonho disso.

FOLHA - A sua passagem na presidência pode se tornar épica?
ANDRÉS -
Não sou salvador de nada. Minha obrigação aqui, lógico, é ganhar títulos. Mas não é o que estou vivendo. Essa é minha obrigação primordial. Logicamente que, caindo para a Série B, todo mundo tomou uma pancada. Eu tomei uma muito maior como presidente. Vai ficar aí: na época que o Corinthians caiu, o Andrés Sanches era o presidente. A mágoa e a mancha vão ficar muito maior para o presidente.

FOLHA - Se for campeão de tudo, acha que vão lembrar do senhor dessa forma ou como o presidente do rebaixamento?
ANDRÉS -
Não posso falar por todo mundo, só por mim. Eu vou lembrar que fui presidente do time que estava na Série B.


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