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Onze rainhas
Megatorneio de várzea, Peladão faz final hoje e decide abrir espaço no campo para as mulheres, que até aqui brilhavam apenas na passarela, ajudando suas equipes
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Arquibancada lotada, holofotes
acesos. Aos poucos, centenas de
mulheres saem dos túneis e ganham o gramado. Enfileiradas,
desfilam para a platéia, provocam
frisson, ganham aplausos.
Seria só mais um concurso de
beleza, se delas não dependesse o
destino de centenas de equipes de
futebol que disputam o maior
campeonato de peladas do país.
No Peladão, as rainhas e o sucesso dos clubes estão intimamente ligados. Ligação que deve
se estreitar neste ano. Antes restritas à passarela, as mulheres desfilarão também com a bola no pé.
"Elas são a alegria da festa. Com
elas no estádio, os atletas ficam até
mais calmos", brinca Arnaldo
Santos, organizador do Peladão.
"Neste ano, vão brilhar também
no campo, teremos 30 times."
A 32ª edição do torneio, que começou no ano passado, termina
hoje, às 19h15 (de Brasília), com o
jogo entre Alternativa e Cantareira, no Vivaldo Lima, em Manaus.
Após quase quatro meses, 552
equipes da capital e 384 do interior já deram adeus ao evento.
O número é sete vezes maior do
arregimentado pela Copa Kaiser,
torneio amador de São Paulo, ou
mais de 15 vezes superior ao do
Campeonato de Favelas do Rio,
bandeira social da CBF.
Cada time deve apresentar uma
candidata ao Rainha do Peladão.
A escolha é fundamental. Se um
deles ficar pelo caminho, e a representante seguir na luta, pode
ser resgatado para uma repescagem. Neste ano, 650 clubes de Manus foram aprovados no torneio,
mas só 554 participaram. Os outros foram barrados porque não
levaram suas rainhas à abertura.
À medida que expande as fronteiras com as mulheres -já faz o
Peladinho e o Master-, porém, o
Peladão vê a retração dos inscritos. Segundo a organização, o
motivo é a rigidez do regulamento. "Neste ano, tivemos 800 inscritos, mas não queremos qualquer
um, e sim qualidade", diz Santos.
O fenômeno, porém, não serve
de empecilho para times como o
Águia Dourada, de Paricatuba.
Para calçar as chuteiras, seus jogadores cumprem quase cinco
horas pelo rio Negro. Muitas vezes, tempestades obrigam a equipe a ficar encalhada na margem
para evitar o naufrágio. Isso
quando não perde a partida por
causa de um veículo moroso.
"A gente se prepara o ano todo
para isso. É complicado, viaja
muito de madrugada, pernoita no
barco, mas a força de vontade é
maior. Toca um pagode, um forró
e, quando vê, já chegou", explica
Cleusimar Lucas, presidente, preparador físico, técnico e jogador
do clube, suspenso por três jogos
por afrontar um juiz. "A gente
não pode expulsá-lo, então precisa fazer alguma coisa", explica-se.
A dificuldade para preparar a
equipe é a mesma para todos. Os
times não se conhecem, e os confrontos são definidos por sorteio.
"A gente planeja o que vai fazer,
ensaia as substituições e vai. A
torcida ajuda muito, às vezes dá
palpites valiosos", conta Lucas.
Sobretudo nos bairros afastados
e no interior, o campeonato mantém intacto o espírito das peladas.
Muitos times arregimentam atletas entre trabalhadores locais.
Para resgatar a tradição, o primeiro jogo da decisão foi disputado na poeira de um campo de
areia, no sábado passado. O Cantareira venceu por 1 a 0.
Se a tática ensaiada não dá certo,
o time ainda ainda pode torcer
pela rainha. Por isso, o concurso é
acompanhado de perto por dirigentes, atletas e patrocinadores.
No ano passado, oito times foram "salvos" e jogaram o "Paralelo da Rainha". O vencedor bateu o
campeão do interior e ocupou a
16ª vaga das oitavas-de-final.
A rainha do Peladão-2004 é Gabriele Costa, 18, do 3 B, que levou
o título, em uma final no estilo
"Miss Brasil", após três tentativas.
Seu time ficou pelo caminho.
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