São Paulo, sábado, 08 de janeiro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MOTOR

Azar de principiante

FÁBIO SEIXAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Robby Gordon, estrelinha da Nascar, fez veteranos do deserto comerem poeira no primeiro dia do Dacar. Eles ficaram para trás, mas não se impressionaram. Até porque logo depois veio Colin McRae. O escocês, mais jovem campeão da história do Mundial de rali e na segunda participação na prova, dominou a classificação até o quinto dia.
Mas o rali dura mais do que isso. Muito mais. No sexto dia, o estreante Gordon capotou "cinco ou seis vezes", segundo contou, antes de classificar a experiência como a "mais aterrorizante" da sua vida. Cortou a mão, despencou na tabela e só vai tentar completar a prova porque não tem outro programa para as férias.
Quando o Dacar completou uma semana, foi a vez de McRae. Ele menosprezou a altura de uma duna na Mauritânia, também capotou e destruiu o Nissan. Sofreu alguns arranhões, ganhou hematomas, saiu reclamando de vista embaçada. Nada muito grave. Mas já está de volta à Escócia.
O que aconteceu, então? Os macacos velhos de sempre voltaram a aparecer. Aos poucos, nomes como os de Stephane Peterhansel e de Jutta Kleinschmidt começaram a surgir nas primeiras posições. E serão eles, ou gente como eles, que cruzarão a linha de chegada após os 9.039 km da maior maratona sobre rodas do planeta.
Mais do que qualquer outra prova de qualquer outra categoria, o Dacar cobra experiência. Estreantes podem até brilhar ocasionalmente, mas para chegar inteiro ao Senegal são necessários anos de rodagem naquelas condições. É preciso entender o comportamento das dunas, saber segurar a máquina nas mudanças de piso, contar com a sorte, fugir dos azares mais manjados.
Está nos números. Na largada, no dia 31 de dezembro, a caravana do rali contava com 230 motos, 164 carros e 69 caminhões. Cinco dias depois, 190 motos, 143 carros e 60 caminhões conseguiram chegar ao acampamento.
Entre os brasileiros, ficou célebre o caso de Juca Bala. Colecionador de títulos no país, ocupava um empolgante terceiro lugar nas motos em 1999, seu ano de estréia, quando atropelou uma vaca. O acidente estraçalhou o animal, a moto e sua perna.
Dois anos depois, ou melhor, dois anos mais experiente, ele conquistou o título na categoria motos Super Production 400 cc.
E, se experiência conta tanto, é ela a melhor (ou única) arma da turma brasileira que mais uma vez se joga no deserto. Já entrou no automático: o ano começa e lá estão Klever Kolberg e André Azevedo no Dacar. Em 2005, a dupla completa 18 participações.
Para André, que compete nos caminhões, o acúmulo de experiência servirá de consolo. Os tchecos Tatra, como os dele, estão levando tempo dos russos Kamaz. Kolberg, que ocupava posições intermediárias até anteontem, levou mais de 24 horas para completar um trecho complicadíssimo de 669 km. Não será dessa vez que levará o título nos carros.
Mas ambos devem chegar ao final. Porque são gente como Peterhansel e Kleinschmidt. Gordon e McRae ainda não. E já pagaram por isso. Com sangue.

Agito
Bruno Senna está a um passo de correr no time de Raikkonen na F-3. A equipe de Nelsinho Piquet publica anúncio na "Autosport" procurando técnicos para sua aventura na GP2. E Emerson está nas bancas com um DVD, uma festa para quem não teve a sorte de vê-lo correr.

Apatia
Schumacher doou US$ 10 mi às vítimas do tsunami. Parou aí a ajuda da F-1. A mesquinharia da categoria passa os limites do paddock.

Troca
Esta coluna duvidava que David Pitchforth chegasse a Melbourne ainda no comando da Red Bull. Pois ontem ele rodou, substituído por Christian Horner. Agora as coisas podem começar a funcionar.

E-mail fseixas@folhasp.com.br

Texto Anterior: Quase espanhol: Roberto Carlos promove genro
Próximo Texto: Futebol - José Geraldo Couto: Amor impossível?
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.