|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MOTOR
Azar de principiante
FÁBIO SEIXAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Robby Gordon, estrelinha da
Nascar, fez veteranos do deserto comerem poeira no primeiro dia do Dacar. Eles ficaram para trás, mas não se impressionaram. Até porque logo depois veio
Colin McRae. O escocês, mais jovem campeão da história do
Mundial de rali e na segunda
participação na prova, dominou
a classificação até o quinto dia.
Mas o rali dura mais do que isso. Muito mais. No sexto dia, o estreante Gordon capotou "cinco
ou seis vezes", segundo contou,
antes de classificar a experiência
como a "mais aterrorizante" da
sua vida. Cortou a mão, despencou na tabela e só vai tentar completar a prova porque não tem
outro programa para as férias.
Quando o Dacar completou
uma semana, foi a vez de McRae.
Ele menosprezou a altura de uma
duna na Mauritânia, também capotou e destruiu o Nissan. Sofreu
alguns arranhões, ganhou hematomas, saiu reclamando de vista
embaçada. Nada muito grave.
Mas já está de volta à Escócia.
O que aconteceu, então? Os macacos velhos de sempre voltaram
a aparecer. Aos poucos, nomes como os de Stephane Peterhansel e
de Jutta Kleinschmidt começaram a surgir nas primeiras posições. E serão eles, ou gente como
eles, que cruzarão a linha de chegada após os 9.039 km da maior
maratona sobre rodas do planeta.
Mais do que qualquer outra
prova de qualquer outra categoria, o Dacar cobra experiência.
Estreantes podem até brilhar ocasionalmente, mas para chegar inteiro ao Senegal são necessários
anos de rodagem naquelas condições. É preciso entender o comportamento das dunas, saber segurar a máquina nas mudanças
de piso, contar com a sorte, fugir
dos azares mais manjados.
Está nos números. Na largada,
no dia 31 de dezembro, a caravana do rali contava com 230 motos, 164 carros e 69 caminhões.
Cinco dias depois, 190 motos, 143
carros e 60 caminhões conseguiram chegar ao acampamento.
Entre os brasileiros, ficou célebre o caso de Juca Bala. Colecionador de títulos no país, ocupava
um empolgante terceiro lugar nas
motos em 1999, seu ano de estréia,
quando atropelou uma vaca. O
acidente estraçalhou o animal, a
moto e sua perna.
Dois anos depois, ou melhor,
dois anos mais experiente, ele
conquistou o título na categoria
motos Super Production 400 cc.
E, se experiência conta tanto, é
ela a melhor (ou única) arma da
turma brasileira que mais uma
vez se joga no deserto. Já entrou
no automático: o ano começa e lá
estão Klever Kolberg e André Azevedo no Dacar. Em 2005, a dupla
completa 18 participações.
Para André, que compete nos
caminhões, o acúmulo de experiência servirá de consolo. Os
tchecos Tatra, como os dele, estão
levando tempo dos russos Kamaz.
Kolberg, que ocupava posições intermediárias até anteontem, levou mais de 24 horas para completar um trecho complicadíssimo
de 669 km. Não será dessa vez que
levará o título nos carros.
Mas ambos devem chegar ao final. Porque são gente como Peterhansel e Kleinschmidt. Gordon e
McRae ainda não. E já pagaram
por isso. Com sangue.
Agito
Bruno Senna está a um passo de correr no time de Raikkonen na F-3.
A equipe de Nelsinho Piquet publica anúncio na "Autosport" procurando técnicos para sua aventura na GP2. E Emerson está nas bancas
com um DVD, uma festa para quem não teve a sorte de vê-lo correr.
Apatia
Schumacher doou US$ 10 mi às vítimas do tsunami. Parou aí a ajuda
da F-1. A mesquinharia da categoria passa os limites do paddock.
Troca
Esta coluna duvidava que David Pitchforth chegasse a Melbourne
ainda no comando da Red Bull. Pois ontem ele rodou, substituído
por Christian Horner. Agora as coisas podem começar a funcionar.
E-mail fseixas@folhasp.com.br
Texto Anterior: Quase espanhol: Roberto Carlos promove genro Próximo Texto: Futebol - José Geraldo Couto: Amor impossível? Índice
|