São Paulo, sábado, 08 de janeiro de 2005

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FUTEBOL

Amor impossível?

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

O Canal Brasil exibe hoje, às 20h, um programa especial do "Canal 100" sobre a rivalidade Corinthians x Palmeiras.
A bem da verdade, é um programa meio pobre, sem muita informação histórica e com pouco material de arquivo (o "Canal 100" mostrava basicamente o futebol carioca), mas mesmo assim é uma boa oportunidade para rever craques esmeraldinos e alvinegros inesquecíveis, como Ademir da Guia, Rivellino, Djalma Santos, Sócrates, Leivinha, Wladimir e muitos outros.
A rivalidade entre palmeirenses e corintianos -uma das mais intensas e bonitas que existem, quando não descamba para a violência- é o tema também do novo filme de Bruno Barreto, "O Casamento de Romeu e Julieta", que tive o privilégio de ver em primeira mão (deve estrear em março nos cinemas).
Aqui não é o lugar indicado para uma crítica propriamente cinematográfica do filme. Vou apenas comentar alguns de seus aspectos, como uma espécie de aperitivo (ou "trailer") para o leitor torcedor.
Baseada num conto de Mário Prata, a fita conta a história de amor entre um corintiano, Romeu (Marco Ricca), e uma palmeirense (Luana Piovani). Para levar a beldade para a cama, Romeu tenta esconder por algum tempo sua condição alvinegra. Não consegue, mas tudo bem: o amor supera as rixas clubísticas.
Mas, para levar a moça ao altar, o problema será maior. Julieta é filha de um conselheiro do Palmeiras (Luís Gustavo), amigo íntimo do presidente (calma, gente, no filme não é o Mustafá). Vai daí que Romeu tem que continuar com sua farsa, o que o leva até a embarcar no avião que leva dirigentes e torcedores palmeirenses a Tóquio, para a disputa do título mundial de 99.
Os cômicos apuros do vira-casaca acidental me fizeram lembrar de uma reportagem especial que Claudio Julio Tognolli fez para a Folha em meados dos anos 90.
Tognolli se "infiltrou" por um tempo na Mancha Verde, viajando com a torcida pelo Brasil afora, e depois fez o mesmo com a Gaviões da Fiel, para relatar tudo aos leitores num texto saboroso.
Pode parecer exagero, mas Tognolli correu risco real de vida. Foi uma espécie de correspondente de guerra.
É esse clima bélico que o filme de Bruno Barreto, para além de seus eventuais defeitos e virtudes, consegue captar e sublimar em comédia.
As cenas de torcida no Pacaembu e no Morumbi são de arrepiar. Até então, salvo engano, só o Maracanã tinha aparecido nas telas com tamanha beleza e vibração.
Sim, o futebol é uma guerra, mas "uma guerra maravilhosa de noventa minutos", como cantou Jorge Ben. Depois, tudo acaba, ou deveria acabar, em pizza. Mezzo a mezzo.
Em tempo: Luana Piovani, que no filme é jogadora de futsal, recebeu treinamento físico e técnico de um ex-craque, Claudio Adão, que vem a ser cunhado de Bruno Barreto. E nem é preciso dizer que ela bate um bolão.

Que argentinos?
Muitos corintianos se dizem preocupados com a "argentinização" do Corinthians na era Kia. A questão não é a vinda de argentinos para o Parque São Jorge, e sim quem são eles. Tevez é um excelente jogador, embora talvez não valha o que se pagou por ele. Mascherano idem. Confesso que não conheço o zagueiro Sebastian Dominguez. Mas a informação de que Daniel Passarella passará a fazer parte do comando da parceria MSI-Corinthians é preocupante. Desafeto de Maradona, Passarella é o homem que, na seleção argentina, barrou Redondo, então o melhor atleta do país, por usar cabelos compridos. E que, conforme lembrou Jorge Kajuru neste espaço, boicotou Sócrates quando ambos jogavam na Fiorentina. Não é um currículo animador.

E-mail jgcouto@uol.com.br


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