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FUTEBOL
Amor impossível?
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
O Canal Brasil exibe hoje,
às 20h, um programa especial do "Canal 100" sobre a rivalidade Corinthians x Palmeiras.
A bem da verdade, é um programa meio pobre, sem muita informação histórica e com pouco material de arquivo (o "Canal 100"
mostrava basicamente o futebol
carioca), mas mesmo assim é
uma boa oportunidade para rever craques esmeraldinos e alvinegros inesquecíveis, como Ademir da Guia, Rivellino, Djalma
Santos, Sócrates, Leivinha, Wladimir e muitos outros.
A rivalidade entre palmeirenses
e corintianos -uma das mais intensas e bonitas que existem,
quando não descamba para a
violência- é o tema também do
novo filme de Bruno Barreto, "O
Casamento de Romeu e Julieta",
que tive o privilégio de ver em primeira mão (deve estrear em março nos cinemas).
Aqui não é o lugar indicado para uma crítica propriamente cinematográfica do filme. Vou apenas comentar alguns de seus aspectos, como uma espécie de aperitivo (ou "trailer") para o leitor
torcedor.
Baseada num conto de Mário
Prata, a fita conta a história de
amor entre um corintiano, Romeu (Marco Ricca), e uma palmeirense (Luana Piovani). Para
levar a beldade para a cama, Romeu tenta esconder por algum
tempo sua condição alvinegra.
Não consegue, mas tudo bem: o
amor supera as rixas clubísticas.
Mas, para levar a moça ao altar, o problema será maior. Julieta é filha de um conselheiro do
Palmeiras (Luís Gustavo), amigo
íntimo do presidente (calma, gente, no filme não é o Mustafá). Vai
daí que Romeu tem que continuar com sua farsa, o que o leva
até a embarcar no avião que leva
dirigentes e torcedores palmeirenses a Tóquio, para a disputa do título mundial de 99.
Os cômicos apuros do vira-casaca acidental me fizeram lembrar
de uma reportagem especial que
Claudio Julio Tognolli fez para a
Folha em meados dos anos 90.
Tognolli se "infiltrou" por um
tempo na Mancha Verde, viajando com a torcida pelo Brasil afora,
e depois fez o mesmo com a Gaviões da Fiel, para relatar tudo
aos leitores num texto saboroso.
Pode parecer exagero, mas Tognolli correu risco real de vida. Foi
uma espécie de correspondente de
guerra.
É esse clima bélico que o filme de
Bruno Barreto, para além de seus
eventuais defeitos e virtudes, consegue captar e sublimar em comédia.
As cenas de torcida no Pacaembu e no Morumbi são de arrepiar.
Até então, salvo engano, só o Maracanã tinha aparecido nas telas
com tamanha beleza e vibração.
Sim, o futebol é uma guerra,
mas "uma guerra maravilhosa de
noventa minutos", como cantou
Jorge Ben. Depois, tudo acaba, ou
deveria acabar, em pizza. Mezzo
a mezzo.
Em tempo: Luana Piovani, que
no filme é jogadora de futsal, recebeu treinamento físico e técnico
de um ex-craque, Claudio Adão,
que vem a ser cunhado de Bruno
Barreto. E nem é preciso dizer que
ela bate um bolão.
Que argentinos?
Muitos corintianos se dizem
preocupados com a "argentinização" do Corinthians na era
Kia. A questão não é a vinda de
argentinos para o Parque São
Jorge, e sim quem são eles. Tevez é um excelente jogador,
embora talvez não valha o que
se pagou por ele. Mascherano
idem. Confesso que não conheço o zagueiro Sebastian Dominguez. Mas a informação de
que Daniel Passarella passará a
fazer parte do comando da parceria MSI-Corinthians é preocupante. Desafeto de Maradona, Passarella é o homem que,
na seleção argentina, barrou
Redondo, então o melhor atleta
do país, por usar cabelos compridos. E que, conforme lembrou Jorge Kajuru neste espaço,
boicotou Sócrates quando ambos jogavam na Fiorentina.
Não é um currículo animador.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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