São Paulo, sábado, 08 de janeiro de 2005

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FUTEBOL

Depois de 12 anos na presidência do Palmeiras, dirigente continuará com dois cargos vitalícios no Parque Antarctica

Mustafá diz adeus para agir na sombra

PAULO GALDIERI
DA REPORTAGEM LOCAL

Doze anos depois de se sentar pela primeira vez na cadeira mais cobiçada do Parque Antarctica, Mustafá Contursi sairá do cargo. Mas não do Palmeiras.
A partir de segunda-feira, quando provavelmente verá Affonso Della Monica -seu candidato à sucessão- assumir a presidência do clube, Mustafá, na condição de ex-presidente, passará a ocupar um lugar vitalício no Conselho de Orientação Fiscal.
O COF é um dos três "poderes" diretivos do clube segundo seu estatuto -o Conselho Deliberativo e a Diretoria executiva completam o tripé que dita os rumos.
Além da nova função, o atual mandatário palmeirense seguirá como membro do Conselho, onde ocupa vaga vitalícia e tem enorme grau de influência.
"Não pretendo interferir [nas ações do novo presidente]. Não seria ético de minha parte. Minhas manifestações ficarão por conta dos cargos que terei no clube", disse Mustafá, que ontem convocou uma entrevista coletiva em seu gabinete presidencial.
Apesar da declaração, a transferência das decisões do dia-a-dia palmeirense entre Mustafá e Del-la Monica deve ocorrer gradualmente. Pelo menos até que o novo presidente indique nomes para a diretoria -sobretudo para a de futebol, que está vaga atualmente, devido aos problemas de saúde que teve Mario Giannini recentemente-, Mustafá seguirá opinando sobre os rumos a serem tomados pela diretoria. Agora, como membro do Conselho Gestor, criado por ele próprio para a condução de renovações e contratações de jogadores durante o processo de eleição no clube.
Apesar de não dizer publicamente, o palmeirense teme que um racha em seu grupo ainda possa ocorrer. Ou, pior, que Affonso Della Monica faça uma composição com os opositores, que durante a campanha chegaram a acenar com a possibilidade de candidatura única -Mustafá considera essa possibilidade inconcebível, já que durante boa parte de sua gestão fora atacado pelo grupo contrário.
Além de seguir nos bastidores do Palmeiras, Mustafá também continuará orbitando a elite da cartolagem brasileira com duas funções: como um dos vice-presidentes do Clube dos 13 e como um dos representantes dos clubes sul-americanos na Fifa, onde foi recentemente empossado.
Em seus últimos momentos como o mandatário do Palmeiras, Mustafá se gaba de deixar o comando com o clube, conforme suas próprias palavras, numa situação financeira "espetacular".
"Só não posso divulgar os números porque eles ainda estão sujeitos à aprovação. Mas a condição atual é muito boa."
Apesar de refutar a pecha de "ditador", como é freqüentemente chamado por seus opositores, Mustafá comandou com mãos-de-ferro o clube.
"Democracia? Não sei o que é democracia. Não sei se é 51% superar 49%. Democracia está sujeita à demagogia", disse.
Quando questionado sobre as acusações de que manipulou o Conselho Deliberativo do clube para perpetuar o seu grupo no poder -a atual situação tomou posse dois mandatos antes de Mustafá, com Carlos Facchina como presidente- Mustafá, diz que, na verdade, o que houve foi "muita competência". "Você consegue ficar 16 anos enganando todo mundo?", rebateu em sua despedida.


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