São Paulo, quinta-feira, 08 de junho de 2006

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Festa fracassa na pracinha de Königstein

PAULO SAMPAIO
ENVIADO ESPECIAL A KÖNIGSTEIN

A solidão de Chrissa Weintz, 20, é a maior prova de que a festa "brasileira" na pracinha de Königstein não pegou. Em que lugar do Brasil uma loura bronzeada, de minissaia, bota, cabelos longos, louros e olhos caprichadamente delineados reclamaria da falta de assédio masculino? Sem namorado, Chrissa se queixa.
"Não vejo animação. O temperamento dos alemães não ajuda", diz, enquanto faz poses sentada na grama.
São 18h, e Chrissa diz que espera anoitecer para ver se a coisa engrena. "Mas acho difícil. Mesmo em Frankfurt não acontece muita coisa."
Cada freqüentador da desanimada pracinha, cuja tranquilidade lembra o centro de Águas de São Pedro, no interior paulista, tem uma explicação para a calmaria.
"Os alemães são muito pontuais. Os brasileiros marcam as atrações e só aparecem muito depois", diz, rindo, a dona de agência de automóveis Sigi Stemel, 57, uma senhora de cabelos muito louros, vestindo paletó igual à calça verde-limão. "Tem um grupo de brasileiros ali. Naquele pedaço com certeza tem barulho."
Esse é o problema para o professor Jürgen Eicheler, 43, que caminha com a mulher e a filha de um ano; ele é o primeiro a reconhecer que não é muito de batuque.
"Fico com pena dos ouvidos da minha criancinha. Eu mesmo não tenho os meus suficientemente educados para ouvir esse som tão alto", diz, enquanto o CD toca sambas de Bezerra da Silva, Clara Nunes e João Bosco.
A brasileira Marina Witt, 22, que trabalha na organização do evento, diz que o problema foi a má divulgação. "A idéia era atrair pessoas das cidades vizinhas."
Na outra ponta da praça, Jane Santos, 34, uma das cinco mulatas baianas que atendem num imenso quiosque verde-e-amarelo, não se deixa contaminar pelo desânimo. Com um macacão de malha superjusto, Jane apresenta seu namorado, Thomas Daubermann, 38.
O que ele faz? "É dono de uma produtora de eventos com dançarinas."
Acredita que você é a única namorada? (Ela olha para Thomas) "Sou só eu, né, meu lindo?"
"Só", ele responde.
Risada geral (dos brasileiros).


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