São Paulo, domingo, 08 de agosto de 2004

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ARQUEOLOGIA DO ESPORTE

Olimpíada volta de novo à Grécia, seu berço, mas continua longe de sua história

Em busca do tempo perdido

FÁBIO VICTOR
DO PAINEL FC

LUÍS FERRARI
DA REPORTAGEM LOCAL

A Grécia ensinou ao mundo como fazer uma Olimpíada. De 776 a.C., quando foram oficializados os Jogos de Olímpia, a 393 d.C., ano da proibição das competições pelo Império Romano, foram pelo menos 287 edições em mais de mil anos de disputas.
Ao longo desse período, enquanto louvavam os deuses, os helenos sofisticaram sua técnica atlética e aprimoraram a infra-estrutura do santuário onde ocorriam as disputas, em nome da excelência, principal chave da engrenagem olímpica.
Na chance inicial que tiveram para reviver os seus antepassados, em Atenas-1896, a primeira Olimpíada da Era Moderna, os gregos protagonizaram um fracasso -tanto por um ponto de vista atual como até se comparada às espetaculares e organizadas competições em tributo aos deuses.
A desordem, o improviso e a falta de preparo deram o tom da disputa. Ainda mesmo em 1896, Rufus Richardson, diretor da Escola Americana de Estudos Clássicos de Atenas, escreveu: "Parece uma temeridade instituir essas competições atléticas sob o nome de Jogos Olímpicos. O sol de Homero continua a brilhar sobre a Grécia e o vale de Olímpia continua lindo. Mas nem varinhas mágicas nem fortunas poderão trazer de volta à realidade as bases em que foram firmados os Jogos Olímpicos".
Extasiado com a história de disputas na velha Olímpia, o francês Pierre Frédy, o barão de Coubertin, foi o idealizador do seu "revival" mais de 1.500 anos depois. Mas a semente que ele lançou no mesmo sagrado solo grego demorou para deitar rebentos.
Acrescida de grande desinteresse por parte de franceses e americanos, a bagunça registrada em Atenas-1896 foi repetida em Paris-1900 e em Saint Louis-1904, esta última a Olimpíada mais esvaziada da história, com somente 12 países representados.
Nas edições que se seguiram, modalidades e provas foram acrescidas, a competitividade aumentou e os investimentos se multiplicaram. Rejeitado por Coubertin, o profissionalismo foi invadindo as competições.
Hoje instalado de vez, como reconhece o próprio Comitê Olímpico Internacional, produz um paradoxo: se aproxima as disputas atuais das de Olímpia em grandiosidade, as afasta cada vez mais delas no espírito.
Contudo, apesar da dificuldade em comparar uma única edição olímpica grega (1896) a um evento com história milenar como os Jogos Antigos, pode-se afirmar que, na segunda volta ao seu berço, a Olimpíada que começa na próxima sexta-feira guarda mais semelhanças com as disputas dos primórdios que com a aventura do final do século 19.
Quando for aberta a sua 28ª edição moderna, os Jogos de 2004 começam a atingir só 10% do trajeto que os antigos eventos abençoados por Zeus já percorreram nas 287 competições da Antigüidade.
Atenas verá provavelmente o mais alto nível a que o esporte chegou e a mais sofisticada estrutura que os atletas já tiveram à disposição. Mas ainda faltará muito chão para alcançar a história.


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