São Paulo, terça, 8 de dezembro de 1998

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IATISMO
Medalhista olímpico faz primeira consulta desde que teve alta em SP
Lars Grael inicia teste para receber a primeira prótese

Lili Martins/Folha Imagem
Lars Grael observa prótese que seu médico usava para nadar, em consulta para discutir sua própria peça


FERNANDA PAPA
da Reportagem Local

O iatista Lars Grael, 34, iniciou ontem a preparação para colocar uma prótese que substituirá sua perna direita, decepada no dia 6 setembro por uma lancha, durante uma regata em Vitória (ES).
Ele chegou a São Paulo no início da tarde e, acompanhado da mulher, Renata, foi direto para o consultório de Marco Guedes, especialista em amputados.
Foi a primeira consulta de Lars com Guedes desde a época em que o iatista deixou o hospital Albert Einstein, em setembro, e voltou para casa, em Niterói, no Rio. A Folha acompanhou o encontro.
Segundo Guedes, falta pouco para Lars se considerar totalmente reabilitado. "Em termos de reabilitação, ele está praticamente pronto. Reabilitação é o que ele fez até agora, reassumindo suas atividades dentro do que fazia antes."
No sábado passado, o iatista participou como timoneiro de uma regata no Rio e venceu sua primeira competição desde o acidente.
Ontem, preparado com duas malas, Lars aguardava a consulta na expectativa de ficar na cidade por alguns dias. "Posso ficar a semana inteira ou até a próxima. Vai depender da análise do doutor", disse o iatista, bronze nas Olimpíadas de Seul-88 e de Atlanta-96.
Ele foi examinado e não estava pronto para fazer o molde para a prótese, por causa de um pequeno machucado no coto da perna.
O molde para colocação da prótese e a montagem de seu encaixe ficaram para hoje ou amanhã.
"A prótese é um instrumento que vem em parte para melhorar a movimentação. Mas vai haver horas em que o Lars ficará insatisfeito, porque nunca ela será como foi a perna dele", explicou Guedes.
Por também ser amputado, ele e Lars trocaram muitas informações de vivência pessoal na consulta.
Enquanto o médico falava com a experiência de quem já se adaptou a uma ou mais próteses há um certo tempo, Lars também mostrava alguma familiaridade com os materiais usados na fabricação de membros artificiais.
"É que muita coisa tem a ver com o material dos barcos", explicou Renata. "Os barcos usam materiais exóticos", completou Lars, bem-humorado, ao falar da graxa teflon, usada em barcos e também especial para a articulação do joelho artificial.
No consultório de Guedes, Lars não pôde ver uma prótese exatamente semelhante àquela que deverá usar, própria para um amputado na altura da virilha. Ele viu dois modelos do médico, que as usa abaixo do joelho.
Entre aço, alumínio, carbono e outros materiais, a prótese que o iatista experimentará em breve destaca-se por um inovador sistema computadorizado.
"Ela tem um princípio ativo que controla a impulsão com o peso do corpo", contou Lars, mostrando estar informado sobre o equipamento que vai adotar.
"Trata-se de um processador que lê a pressão quando a pessoa pisa. Pelas informações, dá para regular a ação da prótese de acordo com o dono", disse o médico.
Lars receberá para teste dois modelos, emprestados por um fabricante alemão. Uma das próteses será à prova de água e a outra para sua vida fora do iatismo, com a qual ele começará a adaptação.
"Antes de voltar a competir, quero poder andar com o meu filho no colo e de mão dada com a minha mulher", disse o iatista, que também já elabora planos para grandes competições no mar.
"Estamos construindo um barco para, em outubro de 99, quebrar o recorde da regata Recife-Fernando de Noronha", afirmou Lars.
"Vai ser a estréia desse barco, com o objetivo maior de aprontá-lo para a regata dos 500 anos do Brasil, que sairá de Lisboa e chegará em Porto Seguro no ano 2000. A idéia é ser o fita azul (o primeiro a chegar)", completou.



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