UOL


São Paulo, quarta-feira, 09 de abril de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Sob a alegação de conter gastos, dirigentes fecham gestora do Rio-SP e reduzem poder de cartola paulista

Clubes extinguem liga de Farah e preparam partilha

FERNANDO MELLO
DO PAINEL FC

Inaugurada com pompa numa mansão em bairro nobre da capital paulista em dezembro de 2001, a Liga Rio-SP, que nasceu como símbolo de uma nova ordem do futebol brasileiro, virou pó.
Na mesma mansão, ontem pela manhã, dirigentes dos clubes que a formaram decidiram pela extinção da entidade criada para gerir o interestadual e se transformar em uma associação que pudesse se contrapor politicamente à CBF.
A sede na avenida Brasil, alugada, será devolvida ao proprietário. Todos os funcionários, demitidos. O presidente Eduardo José Farah e o secretário-geral Juvenal Juvêncio, cartolas que eram remunerados mesmo com o fim do torneio interestadual, perdem seus cargos imediatamente.
O espólio -cerca de R$ 2 milhões que a liga tinha em conta corrente, segundo participantes da reunião- passará a ser disputado a tapa pelos seus integrantes.
Um ano e meio depois, a nova ordem do futebol brasileiro, em que ligas substituiriam federações e a CBF, perdeu sua locomotiva. Tudo voltou a ser como antes.
A queda da liga de Farah significa para a CBF mais do que o fim de uma entidade interestadual. Para Ricardo Teixeira, é a materialização da recuperação do poder que ele tinha antes do início das duas CPIs que devassaram no Congresso o futebol nacional.
Os clubes, com exceção do Atlético-MG e do São Paulo, voltaram a apoiar o dirigente. O Clube dos 13, que nasceu como opositor da CBF e que tinha como aspiração transformar-se em uma Liga Nacional, agora é, na prática, comercializador de direitos de TV. O poder que Teixeira teve que ceder às ligas durante a CPI retornou na íntegra às mãos do dirigente.
Oficialmente, a motivação para extinguir a liga foi uma só: contenção de gastos. Para os dirigentes, não havia motivo para, diante da crise que assola grandes e pequenos, continuar bancando uma estrutura cara, com dois cartolas remunerados e uma sede de luxo nos Jardins, um dos endereços mais caros de São Paulo.
Mas a intenção dos articuladores da dissolução, Corinthians, Santos e clubes do Rio, passa por outra esfera: a política.
O fim da liga significa também isolar ainda mais Eduardo José Farah, que se licenciou da presidência da Federação Paulista e via no interestadual o trampolim para comandar o futebol nacional.
Aliado de Ricardo Teixeira, presidente da CBF, o Corinthians não só não se opôs à extinção como lutou por ela. O voto pelo fim do Rio-SP foi só mais um capítulo da disputa que se arrasta desde o fim do ano passado e que teve como ápice a discussão sobre o regulamento do Estadual e a questão das cotas e do prêmio pelo título, bloqueados em parte pela FPF.
O Santos, de Marcelo Teixeira, também agiu para diminuir a importância política de Farah, a quem nos bastidores acusa de perseguir o time da Vila.
O fim da liga também interessa diretamente à Globo Esportes, dirigida por Marcelo Campos Pinto, um dos articuladores da mudança no calendário da CBF, que, no ano passado, decidiu aumentar o Brasileiro para oito meses e meio e extinguir os regionais.
O fim da liga praticamente inviabiliza um dos projetos de Farah, de se unir ao SBT e reeditar o Rio-SP em 2004. O presidente da liga tentou, sem sucesso, convencer os clubes a disputar o regional ainda neste ano, à revelia da CBF.
Poucos cartolas quiseram se pronunciar sobre o fim da liga.
O presidente santista, Marcelo Teixeira, limitou-se a dizer que a decisão "era necessária por questões econômicas".
O são-paulino Juvenal Juvêncio alegou que estava em reunião e só confirmou que uma comissão foi formada para discutir a divisão do dinheiro que a entidade tinha em conta corrente. Já o corintiano Alberto Dualib, que foi representado na reunião pelo diretor financeiro Carlos Roberto Mello, não atendeu ao pedido de entrevista.


Texto Anterior: Painel FC
Próximo Texto: Memória: Único torneio da entidade foi um sucesso técnico
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.