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Sob a alegação de conter gastos, dirigentes fecham gestora do Rio-SP e reduzem poder de cartola paulista
Clubes extinguem liga de Farah e preparam partilha
FERNANDO MELLO
DO PAINEL FC
Inaugurada com pompa numa
mansão em bairro nobre da capital paulista em dezembro de 2001,
a Liga Rio-SP, que nasceu como
símbolo de uma nova ordem do
futebol brasileiro, virou pó.
Na mesma mansão, ontem pela
manhã, dirigentes dos clubes que
a formaram decidiram pela extinção da entidade criada para gerir
o interestadual e se transformar
em uma associação que pudesse
se contrapor politicamente à CBF.
A sede na avenida Brasil, alugada, será devolvida ao proprietário.
Todos os funcionários, demitidos. O presidente Eduardo José
Farah e o secretário-geral Juvenal
Juvêncio, cartolas que eram remunerados mesmo com o fim do
torneio interestadual, perdem
seus cargos imediatamente.
O espólio -cerca de R$ 2 milhões que a liga tinha em conta
corrente, segundo participantes
da reunião- passará a ser disputado a tapa pelos seus integrantes.
Um ano e meio depois, a nova
ordem do futebol brasileiro, em
que ligas substituiriam federações
e a CBF, perdeu sua locomotiva.
Tudo voltou a ser como antes.
A queda da liga de Farah significa para a CBF mais do que o fim
de uma entidade interestadual.
Para Ricardo Teixeira, é a materialização da recuperação do poder que ele tinha antes do início
das duas CPIs que devassaram no
Congresso o futebol nacional.
Os clubes, com exceção do Atlético-MG e do São Paulo, voltaram
a apoiar o dirigente. O Clube dos
13, que nasceu como opositor da
CBF e que tinha como aspiração
transformar-se em uma Liga Nacional, agora é, na prática, comercializador de direitos de TV. O poder que Teixeira teve que ceder às
ligas durante a CPI retornou na
íntegra às mãos do dirigente.
Oficialmente, a motivação para
extinguir a liga foi uma só: contenção de gastos. Para os dirigentes, não havia motivo para, diante
da crise que assola grandes e pequenos, continuar bancando uma
estrutura cara, com dois cartolas
remunerados e uma sede de luxo
nos Jardins, um dos endereços
mais caros de São Paulo.
Mas a intenção dos articuladores da dissolução, Corinthians,
Santos e clubes do Rio, passa por
outra esfera: a política.
O fim da liga significa também
isolar ainda mais Eduardo José
Farah, que se licenciou da presidência da Federação Paulista e via
no interestadual o trampolim para comandar o futebol nacional.
Aliado de Ricardo Teixeira, presidente da CBF, o Corinthians não
só não se opôs à extinção como
lutou por ela. O voto pelo fim do
Rio-SP foi só mais um capítulo da
disputa que se arrasta desde o fim
do ano passado e que teve como
ápice a discussão sobre o regulamento do Estadual e a questão das
cotas e do prêmio pelo título, bloqueados em parte pela FPF.
O Santos, de Marcelo Teixeira,
também agiu para diminuir a importância política de Farah, a
quem nos bastidores acusa de
perseguir o time da Vila.
O fim da liga também interessa
diretamente à Globo Esportes, dirigida por Marcelo Campos Pinto,
um dos articuladores da mudança no calendário da CBF, que, no
ano passado, decidiu aumentar o
Brasileiro para oito meses e meio
e extinguir os regionais.
O fim da liga praticamente inviabiliza um dos projetos de Farah, de se unir ao SBT e reeditar o
Rio-SP em 2004. O presidente da
liga tentou, sem sucesso, convencer os clubes a disputar o regional
ainda neste ano, à revelia da CBF.
Poucos cartolas quiseram se
pronunciar sobre o fim da liga.
O presidente santista, Marcelo
Teixeira, limitou-se a dizer que a
decisão "era necessária por questões econômicas".
O são-paulino Juvenal Juvêncio
alegou que estava em reunião e só
confirmou que uma comissão foi
formada para discutir a divisão do
dinheiro que a entidade tinha em
conta corrente. Já o corintiano Alberto Dualib, que foi representado na reunião pelo diretor financeiro Carlos Roberto Mello, não
atendeu ao pedido de entrevista.
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