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MOTOR
Molho inglês
FÁBIO SEIXAS
DA REPORTAGEM LOCAL
O quadro foi pintado por
um colega que esteve em Valencia, segunda-feira, na apresentação do FW26, o novo Williams.
Convidados para conhecer o
carro, jornalistas europeus, dezenas deles, desembarcaram na cidade espanhola com a mesma
missão, uma só idéia fixa: entupir
os pilotos e os chefes da equipe
com perguntas sobre a situação
incômoda de Juan Pablo Montoya nesta temporada. O tema era
esse, óbvio. O negócio era mergulhar, fustigar, chafurdar até arrancar uma declaração bombástica, uma frase que, além da paella e da horchata, valesse o vôo.
(Mesmo isso seria difícil. As entrevistas coletivas de pilotos são
cada vez mais formais. Vigiados
por assessores e seus cupinchas,
não falam nada aproveitável
nem em decisão de campeonato.)
Então subiu o pano. E todos ficaram boquiabertos. Estupefatos,
se entreolharam. Cenário que
poucos esperavam ver de novo na
F-1, após mais de uma década de
carros pasteurizados, apareceu
algo diferente no front. Aleluia!
Foi esse o primeiro mérito do
FW26. Em um instante, todos deixaram de lado o plano original.
Diante de um carro tão diferente,
tão... esquisitão, não haveria sentido perguntar sobre o colombiano. No íntimo, Patrick Head deve
ter soltado uma gargalhada.
Naquele dia e de lá para cá, a
categoria flerta com seu passado,
com os tempos de Collin Chapman e Gordon Murray. Os jornalistas pararam de provocar, os pilotos deixaram de lado a empáfia,
os técnicos, orgulhosos da obra,
passaram a falar sem freios. Há,
afinal, um terreno fértil para discussão. Há uma novidade para
tentar explicar e tentar entender.
Até uma velha brincadeira foi
retomada. Começou uma corrida
para ver quem inventava a alcunha mais criativa para o bico do
FW26. Surgiram várias: batmóvel, periquito, arraia, tubarão
martelo, aparelho de barbear, só
para citar algumas. Daqui a pouco, um desses apelidos pega.
No meio de todo o frisson, houve ainda quem sugerisse que o novo bico não passava de uma fraude, de um factóide criado pela
Williams para desviar a atenção
sobre a já anunciada transferência de Montoya para a McLaren.
Head desancou o repórter que
fez a ilação. E nos dias seguintes,
em Jerez, o carro mostrou que
funciona, que anda rápido, seu
segundo -e, claro, mais valioso- mérito. A Renault já admitiu que pode copiar a idéia.
Movimentados os últimos dias,
não? Nem parece a categoria que
há quatro anos faz o mesmo piloto campeão. Que há cinco vê um
só time levantar o Mundial de
Construtores. Que teve que inventar regras esdrúxulas para tentar
-e não conseguir- equilibrar
um pouco a relação de forças.
Seja qual for o resultado na pista, a impressão é a de que o FW26
já entrou para a história. Dentro
de alguns anos, frequentará o
imaginário dos fãs e entrará nas
conversas sobre carros bacanas.
Talvez isso não aconteça com a
Ferrari F2002, que há dois anos
venceu 15 de 17 GPs. F-1 é algo
mais do que competência fria e
pura. Tem também o molho.
Excepcionalmente hoje José Henrique
Mariante não escreve neste espaço
Renovação 1
A badalação em torno do FW26 foi tão grande que jogou uma névoa
sobre a suposta renovação de Barrichello. A assessoria da Ferrari não
desmente. Diz que é possível, mas que não recebeu nenhuma comunicação dos dirigentes. Em Detroit, Luca di Montezemolo foi duro ao
negar o contrato. Um palpite? Se sair, a renovação será anunciada no
meio do ano. Até lá, Massa já vai ter mostrado a que veio. Ou não.
Renovação 2
Atrás de índices ainda maiores de audiência, a Nascar anunciou ontem que adotará um sistema de playoffs neste ano. As 26 primeiras
provas servirão para classificar os pilotos (o número ainda está em
discussão) para as dez corridas finais. A pontuação anterior será zerada, mas terá um peso. O resto correrá um campeonato paralelo.
E-mail fseixas@folhasp.com.br
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