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FUTEBOL
Toma lá, dá cá
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
O ser humano nunca está
contente. A essa insatisfação
crônica devemos coisas tão díspares quanto as sinfonias de Beethoven e a ponte Rio-Niterói, os telescópios espaciais e as armas de
destruição em massa, os girassóis
de Van Gogh e aquele prédio horroroso na esquina da Paulista
com a Brigadeiro Luís Antonio.
Digo isso porque nos últimos
dias vários cruzeirenses (ou seja,
aqueles indivíduos que imaginamos como os mais felizes do mundo) manifestaram indignação pela contratação de Guilherme e até
mesmo do craque Rivaldo.
Contra Guilherme pesa o fato
de ter sido até outro dia ídolo do
arqui-rival Atlético-MG e às vezes
algoz do próprio Cruzeiro.
É mais ou menos como a resistência da torcida corintiana a
Paulo Nunes, quando este mudou
do Parque Antarctica para o Parque São Jorge.
Mas essa pode ser uma bronca
passageira. Vai depender do comportamento e, principalmente,
das atuações de Guilherme com a
camisa azul.
Lembro que outro artilheiro falastrão e provocador, Viola, conseguiu conquistar os palmeirenses mesmo depois de ter imitado
um porco ao comemorar um gol
corintiano contra o alviverde.
O caso de Rivaldo é mais delicado. A mágoa de alguns cruzeirenses é pela cláusula contratual que
permite ao jogador transferir-se
para um time estrangeiro no
meio do ano.
O discurso é o seguinte: "Ele está
usando o Cruzeiro como vitrine
para voltar à seleção, numa época
em todos o rejeitam. Depois, se alguém se interessar, ele dá uma
banana para o clube".
É possível que seja verdade. Mas
a coisa pode ser encarada de outro modo: o Cruzeiro também está se aproveitando da situação de
Rivaldo para se reforçar com um
dos melhores jogadores do mundo na disputa da Libertadores.
No fim, se o atleta se empenhar
e render seu melhor futebol, todos
sairão ganhando. Toma lá, dá cá.
Escrevo esta coluna antes do jogo Brasil x Paraguai, pelo Pré-Olímpico. Limito-me a comentar
a goleada de quarta-feira sobre a
Venezuela. A seleção mostrou
muitas virtudes e alguns defeitos.
Começo pelos últimos.
No primeiro tempo, a equipe
abusou dos cruzamentos pelo alto
na área adversária, mesmo sabendo que não contava com
grandes cabeceadores. No segundo tempo, o time colocou a bola
no chão e os gols saíram.
Outro problema foi o buraco
criado no meio-de-campo. Os jogadores do setor não se apresentavam para receber o passe dos
zagueiros, que eram obrigados a
sair jogando arriscadamente ou a
tentar a ligação direta com o ataque. A entrada de Rochemback
talvez tenha resolvido a questão.
Mas, quando o Brasil encontrou
seu futebol de toque, com triangulações e passes rápidos, foi uma
beleza de se ver -sobretudo o
primeiro gol, feito por Diego depois de um passe de Robinho.
Só não cabe empolgação porque
a Venezuela, afinal de contas, é
pior que o Íbis.
Volta ao parque
Leio na Folha que a diretoria
palmeirense articula a volta de
Edílson e de Júnior. Não sei
não. O primeiro já está em fase
de declínio. Quanto ao segundo, deverá custar muito caro.
Não valeria mais a pena, nesse
caso, ter feito um pequeno esforço para manter o ótimo lateral-esquerdo Lúcio, um dos
destaques do time na campanha do ano passado? Afinal, o
clube não vive dizendo que não
tem dinheiro?
Revolução tática
A diretoria corintiana, por sua
vez, só fala em trazer zagueiros
e atacantes e se desfazer de
meio-campistas (as bolas da
vez são Fabrício e Renato). O
que eles pretendem com isso
ninguém sabe. Talvez revolucionar a tática do futebol e instaurar o inédito esquema 5-0-5.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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