São Paulo, sábado, 10 de janeiro de 2004

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FUTEBOL

Toma lá, dá cá

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

O ser humano nunca está contente. A essa insatisfação crônica devemos coisas tão díspares quanto as sinfonias de Beethoven e a ponte Rio-Niterói, os telescópios espaciais e as armas de destruição em massa, os girassóis de Van Gogh e aquele prédio horroroso na esquina da Paulista com a Brigadeiro Luís Antonio.
Digo isso porque nos últimos dias vários cruzeirenses (ou seja, aqueles indivíduos que imaginamos como os mais felizes do mundo) manifestaram indignação pela contratação de Guilherme e até mesmo do craque Rivaldo.
Contra Guilherme pesa o fato de ter sido até outro dia ídolo do arqui-rival Atlético-MG e às vezes algoz do próprio Cruzeiro.
É mais ou menos como a resistência da torcida corintiana a Paulo Nunes, quando este mudou do Parque Antarctica para o Parque São Jorge.
Mas essa pode ser uma bronca passageira. Vai depender do comportamento e, principalmente, das atuações de Guilherme com a camisa azul.
Lembro que outro artilheiro falastrão e provocador, Viola, conseguiu conquistar os palmeirenses mesmo depois de ter imitado um porco ao comemorar um gol corintiano contra o alviverde.
O caso de Rivaldo é mais delicado. A mágoa de alguns cruzeirenses é pela cláusula contratual que permite ao jogador transferir-se para um time estrangeiro no meio do ano.
O discurso é o seguinte: "Ele está usando o Cruzeiro como vitrine para voltar à seleção, numa época em todos o rejeitam. Depois, se alguém se interessar, ele dá uma banana para o clube".
É possível que seja verdade. Mas a coisa pode ser encarada de outro modo: o Cruzeiro também está se aproveitando da situação de Rivaldo para se reforçar com um dos melhores jogadores do mundo na disputa da Libertadores.
No fim, se o atleta se empenhar e render seu melhor futebol, todos sairão ganhando. Toma lá, dá cá.
 
Escrevo esta coluna antes do jogo Brasil x Paraguai, pelo Pré-Olímpico. Limito-me a comentar a goleada de quarta-feira sobre a Venezuela. A seleção mostrou muitas virtudes e alguns defeitos. Começo pelos últimos.
No primeiro tempo, a equipe abusou dos cruzamentos pelo alto na área adversária, mesmo sabendo que não contava com grandes cabeceadores. No segundo tempo, o time colocou a bola no chão e os gols saíram.
Outro problema foi o buraco criado no meio-de-campo. Os jogadores do setor não se apresentavam para receber o passe dos zagueiros, que eram obrigados a sair jogando arriscadamente ou a tentar a ligação direta com o ataque. A entrada de Rochemback talvez tenha resolvido a questão.
Mas, quando o Brasil encontrou seu futebol de toque, com triangulações e passes rápidos, foi uma beleza de se ver -sobretudo o primeiro gol, feito por Diego depois de um passe de Robinho.
Só não cabe empolgação porque a Venezuela, afinal de contas, é pior que o Íbis.

Volta ao parque
Leio na Folha que a diretoria palmeirense articula a volta de Edílson e de Júnior. Não sei não. O primeiro já está em fase de declínio. Quanto ao segundo, deverá custar muito caro. Não valeria mais a pena, nesse caso, ter feito um pequeno esforço para manter o ótimo lateral-esquerdo Lúcio, um dos destaques do time na campanha do ano passado? Afinal, o clube não vive dizendo que não tem dinheiro?

Revolução tática
A diretoria corintiana, por sua vez, só fala em trazer zagueiros e atacantes e se desfazer de meio-campistas (as bolas da vez são Fabrício e Renato). O que eles pretendem com isso ninguém sabe. Talvez revolucionar a tática do futebol e instaurar o inédito esquema 5-0-5.

E-mail jgcouto@uol.com.br


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