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O fim da expulsão com cartão vermelho
ALBERTO HELENA JR.
da Equipe de Articulistas
Assim de cara, até pode parecer leviandade do presidente
Farah, um estímulo indireto à
violência, essa história de acabar com a suspensão automática do jogador que levar o cartão
vermelho.
Mesmo porque, por trás do belo argumento liberal do cartola-
mor da província, segundo o
qual essa punição constitui violação aos direitos elementares
do cidadão, lateja mesmo o interesse pragmático -o craque é
um investimento alto demais
para correr o risco de ficar de fora de um clássico ou de uma decisão, por conta de um cartão
vermelho nem sempre aplicado
de acordo com as regras. E Farah quer fazer do Campeonato
Paulista o espetáculo mais feérico possível, claro.
É bem verdade que a suspensão automática se transformou
numa prática adotada no mundo inteiro, sobretudo nos países
onde os direitos do cidadão são
muito mais, e há muito mais
tempo, respeitados do que nestes tristes trópicos.
Isso, porém, não invalida o argumento. Como diria o baiano
ilustre, a perfeição é uma meta,
defendida pelo goleiro, da seleção (breque).
E tem mais: na maioria das
vezes, o craque, aquele que dá
vida e cor ao espetáculo, é expulso não pela prática da violência, mas, sim, por desafiar a
chamada "autoridade" do juiz,
complacente com os cabeças-
de-bagre que distribuem pontapés a valer por esses campos afora. Estes, sim, é que deveriam
receber suspensão automática e
irreversível, para toda a vida.
Além do mais, Farah cria uma
salvaguarda: os casos de expulsões serão julgados no dia seguinte pelo tribunal da Federação Paulista.
Mas essa é uma faca de dois legumes, conforme imortalizou
nosso saudoso Matheus: tanto
pode ser usada para fazer justiça, punindo para valer o infrator grave, como também servir
às acomodações de interesses
mesquinhos dos poderosos da
hora.
É aí que Farah, se quiser realmente transformar em prática
seu belo discurso, terá de ficar
de olho vivo. Pois nós estaremos, daqui.
Só há um recurso para reduzir drasticamente a violência
em campo, protegendo-se o craque e o espetáculo: limitar o número de faltas coletivas, como já
se experimentou, com pleno êxito, num Rio-São Paulo, aliás,
por sugestão do próprio Farah,
tempos atrás. Mas esse expediente, por ser tão eficiente, foi
proibido pela International
Board, esse museu bretão que
nem quer ouvir falar na hipótese de termos dois juízes em campo, tema, por sinal, em debate.
Resisto à mordacidade de dizer que, nesse caso, corre-se o
risco de dobrarmos os erros de
arbitragem.
Meu Deus, só não vê quem
não quer: daqui para frente, o
futebol será, cada vez mais, um
show de televisão. E, a cada novo invento tecnológico nessa
área, mais e mais se evidenciarão os erros humanos (alguns
desumanos) dos juízes. Logo,
dar ao juiz um seu clone, pouco
irá ajudá-lo nessa luta desigual.
Portanto, a única saída é dotá-lo dos recursos que estão à
mão (sobretudo, à vista) de
qualquer telespectador: um serviço de vigilância eletrônica em
todos os gramados, que o juiz
usará se quiser, quando quiser.
E não me venham com o nhenhenhém de que isso é caro demais. Não é.
Alberto Helena Jr. escreve aos domingos, às segundas e quartas-feiras
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