São Paulo, domingo, 10 de janeiro de 1999

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O fim da expulsão com cartão vermelho

ALBERTO HELENA JR.
da Equipe de Articulistas

Assim de cara, até pode parecer leviandade do presidente Farah, um estímulo indireto à violência, essa história de acabar com a suspensão automática do jogador que levar o cartão vermelho.
Mesmo porque, por trás do belo argumento liberal do cartola- mor da província, segundo o qual essa punição constitui violação aos direitos elementares do cidadão, lateja mesmo o interesse pragmático -o craque é um investimento alto demais para correr o risco de ficar de fora de um clássico ou de uma decisão, por conta de um cartão vermelho nem sempre aplicado de acordo com as regras. E Farah quer fazer do Campeonato Paulista o espetáculo mais feérico possível, claro.
É bem verdade que a suspensão automática se transformou numa prática adotada no mundo inteiro, sobretudo nos países onde os direitos do cidadão são muito mais, e há muito mais tempo, respeitados do que nestes tristes trópicos.
Isso, porém, não invalida o argumento. Como diria o baiano ilustre, a perfeição é uma meta, defendida pelo goleiro, da seleção (breque).
E tem mais: na maioria das vezes, o craque, aquele que dá vida e cor ao espetáculo, é expulso não pela prática da violência, mas, sim, por desafiar a chamada "autoridade" do juiz, complacente com os cabeças- de-bagre que distribuem pontapés a valer por esses campos afora. Estes, sim, é que deveriam receber suspensão automática e irreversível, para toda a vida.
Além do mais, Farah cria uma salvaguarda: os casos de expulsões serão julgados no dia seguinte pelo tribunal da Federação Paulista.
Mas essa é uma faca de dois legumes, conforme imortalizou nosso saudoso Matheus: tanto pode ser usada para fazer justiça, punindo para valer o infrator grave, como também servir às acomodações de interesses mesquinhos dos poderosos da hora.
É aí que Farah, se quiser realmente transformar em prática seu belo discurso, terá de ficar de olho vivo. Pois nós estaremos, daqui.
Só há um recurso para reduzir drasticamente a violência em campo, protegendo-se o craque e o espetáculo: limitar o número de faltas coletivas, como já se experimentou, com pleno êxito, num Rio-São Paulo, aliás, por sugestão do próprio Farah, tempos atrás. Mas esse expediente, por ser tão eficiente, foi proibido pela International Board, esse museu bretão que nem quer ouvir falar na hipótese de termos dois juízes em campo, tema, por sinal, em debate.
Resisto à mordacidade de dizer que, nesse caso, corre-se o risco de dobrarmos os erros de arbitragem.
Meu Deus, só não vê quem não quer: daqui para frente, o futebol será, cada vez mais, um show de televisão. E, a cada novo invento tecnológico nessa área, mais e mais se evidenciarão os erros humanos (alguns desumanos) dos juízes. Logo, dar ao juiz um seu clone, pouco irá ajudá-lo nessa luta desigual.
Portanto, a única saída é dotá-lo dos recursos que estão à mão (sobretudo, à vista) de qualquer telespectador: um serviço de vigilância eletrônica em todos os gramados, que o juiz usará se quiser, quando quiser.
E não me venham com o nhenhenhém de que isso é caro demais. Não é.


Alberto Helena Jr. escreve aos domingos, às segundas e quartas-feiras


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