São Paulo, domingo, 10 de janeiro de 1999

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL NO MUNDO
Blefe

RODRIGO BUENO
Quem joga truco sabe o que é estar de mãos vazias e ludibriar o oponente com um alto pedido.
Pois bem. Joseph Blatter, o presidente da Fifa, mostrou-se nos últimos dias um grande jogador.
No domingo passado, escrevi que o mandato dele parecia bem aberto a mudanças. Mas jamais esperava que no mesmo dia o dirigente soltasse a maior bomba do futebol nos últimos anos.
Após ser ameaçado pela criação de uma Superliga de clubes e de ser acuado pelo Comitê Olímpico Internacional, descarta sobre o planeta a idéia da Copa do Mundo a cada dois anos. Truco!
Em meio ano, Blatter gerou mais polêmica do que Havelange em quase duas décadas. E para isso bastou uma cartada. Seis!
O resultado não poderia ter sido melhor. Brecou o futebol olímpico, não cedeu no doping e, acima de tudo, encostou os grandes clubes na parede.
Era muita coisa em jogo.
A proposta de revirar o calendário do futebol mundial e, por consequência, do esporte em geral aparece como a preciosa carta escondida na manga. Mas, diante da situação em que Blatter estava, a grande jogada pode não ter base em um naipe de valor. Tudo soa como blefe. Nove!
A Olimpíada, está claro, não é o alvo da Fifa, tanto que foi preservada na reunião de quarta.
Dinheiro é bom, todo mundo gosta, mas lucro com mais Mundiais também não parece ser, no momento, o objetivo maior da entidade máxima do futebol.
A questão principal, ao que tudo indica, é mesmo a disputa de poder, a crescente força dos clubes, que são capazes hoje de adiar um torneio oficial da Fifa, como a Copa das Confederações, e querem abocanhar cada vez mais a "fatia" da bola.
Copa em ano ímpar? Dois árbitros em campo? Na primeira semana útil de 99, a jogada mais simples da Fifa foi suspender Camarões (e depois cancelar a suspensão) por "traficar" ingressos.
Se a vida é um jogo e vencer é o objetivo principal, o blefe pode ser a saída para ficar vivo. Doze!



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.