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FUTEBOL
Juízes elogiam pré-temporada da federação paulista, mas querem o regime de treinamento durante o ano todo
Árbitros de SP querem viver só do apito
MARCELO DAMATO
da Reportagem Local
Os principais juízes que vão apitar no Campeonato Paulista querem a profissionalização da arbitragem. Eles avaliam que o crescimento do futebol não permite
mais que os árbitros continuem
com uma preparação física e técnica amadora.
"A pré-temporada é muito importante. A preparação deveria
durar o ano todo. No futebol, todos são profissionais. Os árbitros
também deveriam ser", afirmou
Paulo César de Oliveira -recém-promovido ao quadro da Fifa-,
no hotel onde os juízes da competição realizam pré-temporada, em
Itapecerica da Serra (SP).
O mais enfático defensor dessa
tese é Oscar Roberto Godoi, o outro paulista do quadro da Fifa.
"Nós apitamos partidas em que
atuam jogadores caríssimos, com
enormes investimentos dos clubes
e dos patrocinadores. Temos que
ser cobrados, mas temos que ter
condição de trabalho. Não há outro caminho se não a profissionalização", explicou Godoi, que, aos
43 anos, está no penúltimo ano do
quadro internacional.
Ele defende a profissionalização
de um grupo, que a cada ano seria
avaliado e, em função de seu desempenho, teria o contrato renovado ou não.
Os juízes ouvidos pela Folha pediram melhor pagamento e dedicação integral à profissão. Um fator está ligado ao outro.
Os juízes querem, acompanhando a evolução de valores contratuais do futebol mundial, ganhar o
suficiente para não precisar ter outra atividade e se dedicarem apenas ao apito.
"Hoje, enquanto o jogador vai da
concentração, onde se preparou,
para o estádio, o juiz sai do trabalho às seis da tarde e vai direto para
o campo. Ele já chega com o estresse do dia inteiro. Fica muito mais
sujeito a errar. E ele ainda tem que
competir com a eletrônica da TV."
O pagamento máximo anual de
um juiz (membro da Fifa, com cota
de R$ 1.500/jogo e 60 partidas na
temporada) chega hoje a R$ 90 mil,
correspondente a 21 dias de salário
de Marcelinho, do Corinthians (R$
130 mil), por exemplo.
Se não for da Fifa, a cota do juiz
(R$ 920) é muitas vezes menor até
do que o "bicho" (prêmio) que o
jogador recebe em caso de vitória.
Gustavo Caetano Rogério, diretor da escola de árbitros da FPF e
coordenador da pré-temporada,
desenha como quadro ideal a permanência dos árbitros e assistentes no centro de treinamento durante a temporada inteira.
"Os árbitros treinariam todos os
dias, como os jogadores, tanto na
parte física quanto na parte técnica. Mas por enquanto a estrutura
do futebol não dá à arbitragem a
importância que ele merece."
Ele comparou a atividade à fundação de um prédio: não aparece,
mas quando é malfeita abala tudo
o que está por cima.
Segundo Rogério, como o futebol está cada vez mais veloz, a Fifa
estuda tornar mais rigoroso o teste
físico, que hoje inclui piques de
200 metros, corridas laterais de 50
metros e uma corrida de 12 minutos. Hoje, o juiz tem que fazer 2.700
metros nesse teste.
"Já falam em passar para 3.000.
Se isso acontecer, a maioria dos
juízes brasileiros não passa, exceto
uns seis", diz Rogério.
Alfredo Santos Loebeling, que
esteve cotado para a indicação para a Fifa em 98, defende a mudança, mas aponta obstáculos.
"Hoje, nós recebemos dos clubes, não das federações. E quem
vai nos pagar nos períodos em que
não há jogo? A solução seria as federações nos contratarem, mas
elas não fazem isso por causa do
medo do vínculo empregatício."
Esse medo vem de um processo
movido contra a FPF há cerca de
dez anos por vários ex-árbitros
paulistas.
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