São Paulo, domingo, 10 de janeiro de 1999

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL
Juízes elogiam pré-temporada da federação paulista, mas querem o regime de treinamento durante o ano todo
Árbitros de SP querem viver só do apito

MARCELO DAMATO
da Reportagem Local

Os principais juízes que vão apitar no Campeonato Paulista querem a profissionalização da arbitragem. Eles avaliam que o crescimento do futebol não permite mais que os árbitros continuem com uma preparação física e técnica amadora.
"A pré-temporada é muito importante. A preparação deveria durar o ano todo. No futebol, todos são profissionais. Os árbitros também deveriam ser", afirmou Paulo César de Oliveira -recém-promovido ao quadro da Fifa-, no hotel onde os juízes da competição realizam pré-temporada, em Itapecerica da Serra (SP).
O mais enfático defensor dessa tese é Oscar Roberto Godoi, o outro paulista do quadro da Fifa.
"Nós apitamos partidas em que atuam jogadores caríssimos, com enormes investimentos dos clubes e dos patrocinadores. Temos que ser cobrados, mas temos que ter condição de trabalho. Não há outro caminho se não a profissionalização", explicou Godoi, que, aos 43 anos, está no penúltimo ano do quadro internacional.
Ele defende a profissionalização de um grupo, que a cada ano seria avaliado e, em função de seu desempenho, teria o contrato renovado ou não.
Os juízes ouvidos pela Folha pediram melhor pagamento e dedicação integral à profissão. Um fator está ligado ao outro.
Os juízes querem, acompanhando a evolução de valores contratuais do futebol mundial, ganhar o suficiente para não precisar ter outra atividade e se dedicarem apenas ao apito.
"Hoje, enquanto o jogador vai da concentração, onde se preparou, para o estádio, o juiz sai do trabalho às seis da tarde e vai direto para o campo. Ele já chega com o estresse do dia inteiro. Fica muito mais sujeito a errar. E ele ainda tem que competir com a eletrônica da TV."
O pagamento máximo anual de um juiz (membro da Fifa, com cota de R$ 1.500/jogo e 60 partidas na temporada) chega hoje a R$ 90 mil, correspondente a 21 dias de salário de Marcelinho, do Corinthians (R$ 130 mil), por exemplo.
Se não for da Fifa, a cota do juiz (R$ 920) é muitas vezes menor até do que o "bicho" (prêmio) que o jogador recebe em caso de vitória.
Gustavo Caetano Rogério, diretor da escola de árbitros da FPF e coordenador da pré-temporada, desenha como quadro ideal a permanência dos árbitros e assistentes no centro de treinamento durante a temporada inteira.
"Os árbitros treinariam todos os dias, como os jogadores, tanto na parte física quanto na parte técnica. Mas por enquanto a estrutura do futebol não dá à arbitragem a importância que ele merece."
Ele comparou a atividade à fundação de um prédio: não aparece, mas quando é malfeita abala tudo o que está por cima.
Segundo Rogério, como o futebol está cada vez mais veloz, a Fifa estuda tornar mais rigoroso o teste físico, que hoje inclui piques de 200 metros, corridas laterais de 50 metros e uma corrida de 12 minutos. Hoje, o juiz tem que fazer 2.700 metros nesse teste.
"Já falam em passar para 3.000. Se isso acontecer, a maioria dos juízes brasileiros não passa, exceto uns seis", diz Rogério.
Alfredo Santos Loebeling, que esteve cotado para a indicação para a Fifa em 98, defende a mudança, mas aponta obstáculos.
"Hoje, nós recebemos dos clubes, não das federações. E quem vai nos pagar nos períodos em que não há jogo? A solução seria as federações nos contratarem, mas elas não fazem isso por causa do medo do vínculo empregatício."
Esse medo vem de um processo movido contra a FPF há cerca de dez anos por vários ex-árbitros paulistas.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.