São Paulo, terça, 10 de fevereiro de 1998

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In vino veritas

JOSÉ ROBERTO TORERO
da Equipe de Articulistas

O futebol não é muito diferente do vinho. Os dois são saborosos, nos dão alegria e, às vezes, dor de cabeça. Além disso, tanto um como o outro possuem suas safras. Em relação aos vinhos franceses, são famosas as supersafras de 1929, 45, 47, 62, 86 e 90. No futebol brasileiro, temos as de 58, 70, 82 e agora a de 98. É difícil lembrar uma safra melhor do que essa, tanto em quantidade quanto em qualidade.
Segundo explicou-me o enófilo Mauro Marcelo, para que haja uma supersafra de uvas, ela precisa vir precedida de um inverno rigoroso e de uma primavera amena. Não é outra coisa o que aconteceu no nosso futebol. Em 90, tivemos um inverno tenebroso com Lazzaroni; em 94, uma amena primavera com a seleção de Parreira, que teve lá suas flores.
Mas, para comprovar esta tese, vejamos os frutos dessa supersafra de craques:
Em relação aos goleiros, por exemplo (que se assemelham ao champanhe, pois têm que demonstrar segurança e elegância), a lista tem nomes capazes de fazer sombra ao tradicional Taffarel, que já não tem a mesma consistência. Há os tarimbados Zetti, Carlos Germano, Velloso e Clêmer, que, como o vinho, melhoraram com o tempo, e também os jovens Rogério, Dida e André.
Na defesa (que precisa ter jogadores como um vinho Riojas: forte, encorpado e viril), temos muitas opções. Nas laterais, além de Cafu, Zé Maria, Roberto Carlos e Zé Roberto, poderíamos experimentar Júnior, Felipe, Serginho e André na esquerda, e, na direita, Russo, Rodrigo e Zé Carlos.
Quanto ao miolo de zaga, Aldair, Júnior Baiano, Gonçalves e André Cruz podem ser os zagueiros preferidos de Zagallo, mas estou certo de que Cléber, Márcio Santos, Mauro Galvão, Júlio César e Adilson não comprometeriam.
Já no meio (onde os jogadores devem ser versáteis como um Chardonneay, possuindo tanto finesse suficiente para acompanhar peixes e dar toques sutis, como ser encorpados para poder acompanhar uma carne e segurar o adversário), os volantes convocados deverão ser Dunga, Flávio Conceição, César Sampaio e Mauro Silva, mas Doriva, Marcos Assunção e Capitão também são nomes de respeito.
Já os meias de armação devem ser a principal dor de cabeça de Zagallo. Arrisco que ele vai optar pelos canhotos Zinho, Leonardo, Rivaldo e Denílson, deixando de fora craques como Djalminha, Giovanni, Raí, Amoroso, Marcelinho e os contundidos Rodrigo e Juninho.
No ataque (que é como um vinho Bordeaux ou um supertoscano, onde é necessário agressividade, força e certa elegância), creio que a lista terá Edmundo, Romário, Ronaldinho e Dodô. Mas outros nomes poderiam matar nossa sede de gol, como Jardel, Bebeto, Ânderson, Viola, Élber, Túlio, Paulo Nunes, Valdir, Donizete, Muller, Oséas e Christian.
Enfim, trata-se de uma supersafra como nunca tivemos antes. As uvas, digo, os jogadores, são excelentes e podem formar uma adega, digo, uma seleção, memorável. Basta que os vinicultores Zagallo & Cia. façam a sua parte. Ou o vinho, por melhor que seja, acaba virando vinagre. E aí só nos resta tomar um porre.


O escritor e cineasta José Roberto Torero escreve às terças e sábados


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