São Paulo, sábado, 10 de março de 2001

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OUTDOORS

As raízes do skate

Lenda do skate mundial reúne em documentário o nascimento do skate moderno na Califórnia

VANER VENDRAMINI
DA REPORTAGEM LOCAL

Criador de alguns dos melhores filmes de skate dos últimos 20 anos, o norte-americano Stacy Peralta, 43, fechou o milênio concretizando um sonho ao terminar um de seus maiores projetos, o documentário "Dogtown & Z-Boys", sobre a história da semente do skate moderno: a lendária equipe dos Z-Boys.
Criado no início da década de 70, o grupo era formado pelos dez adolescentes (Tony Alva, Jay Adams, Stacy Peralta, Shogo Kubo, Nathan Pratt, Jim Muir, Bob Biniak, Wentzel Rulm, Paul Constantineaue e Peggy Oki) que, crescendo com o surfe e o skate em Dogtown, na fronteira de Santa Monica e Venice, litoral californiano, definiram o modo nada convencional que marcou o desenvolvimento do skate moderno nos últimos anos, tanto no estilo como nas manobras.
Para finalizar seu "sonho antigo" e evitar que a história pudesse ser deturpada pelo pulso comercial de uma grande produtora de Hollywood -que já estava correndo atrás de uma adaptação-, Peralta se juntou ao fotógrafo Craig Stecky no desenvolvimento do roteiro do filme e, no início do ano, levou para casa dois prêmios no Festival de Sundance, nos EUA: melhor diretor (júri) e melhor documentário (público).
Juntos, Stecky e Peralta, na década de 80, produziram os vídeos "The Search for Animal Chin", "Propaganda" e "Public Domain", que, na época, valiam como ouro nas rodas de skatistas no Brasil e são considerados os precursores do formato usado nos vídeos atuais e nas revistas eletrônicas do esporte.
De acordo com a crítica norte-americana, Stacy Peralta, que montou o documentário com base em registros antigos -principalmente de Craig Stecky e do também fotógrafo Glen Friedman- e misturou-os no filme com depoimentos atuais, conseguiu compor um clima que surpreendeu no renomado festival de filmes independentes.
Stecyk e Friedman, que começou a fotografar os Z-Boys com 13 anos de idade, foram componentes-chave para o registro de imagens da época.
Além da composição do roteiro com o nascimento dos novos estilos nas manobras de skate criados pelos Z-Boys, os produtores se preocuparam em dissecar a estética que foi fundamental para a definição da "cultura do skate" das últimas duas décadas.
E a região fornecia os ingredientes necessários para o que se desenvolveu: a forte seca no início da década de 70 e arquitetura local, que pontuavam a região com piscinas vazias, e o píer do Pacific Ocean Park (POP) -concorrente da Disneylândia na época.
As piscinas foram o berço da criação do vertical. Já o píer do POP, com um surfe disputado em meio a diversas vigas de concreto, contribuiu para o espírito tribal na organização do grupo e para a agressividade nas manobras.
Com um orçamento enxuto (cerca de US$ 400 mil), o diretor, então, produziu um filme que "não precisava ser bonito".
"Só queríamos que nos deixasse contentes", afirmou Peralta, um dos mais famosos componentes dos Z-Boys, que, em 1975, no campeonato de Del Mar, também na Califórnia, surpreenderam pela primeira vez platéia e competidores com suas manobras "modernas" e mudaram o esporte.
Dos dez integrantes, além de Peralta, outros dois destaques são Tony Alva, que até hoje mantém seu estilo seguro e agressivo nas manobras, e Jay Adams, considerado pelos próprios Z-Boys como aquele que representava melhor o espírito que nasceu em Dogtown.
Apesar da grande expectativa gerada após a notícia da produção do documentário, que aumentou com a premiação em Sundance, a estréia do filme no circuito comercial ainda não foi definida.
"Já falei várias vezes com ele (Peralta), mas ele não quis me mandar uma cópia", afirmou Miki Vucovich, editor da revista "Transworld Skateboarding".

E-mail : outdoors@uol.com.br

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