FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A MELBOURNE

O GP da Austrália assistiu a sete trocas de liderança. Quatro pilotos ocuparam a ponta. David Coulthard venceu, e nenhuma Ferrari chegou ao pódio, interrompendo uma sequência de 53 GPs. Houve até uma "ajuda dos céus": a prova começou no molhado e terminou com pista seca.
Era tudo o que FIA queria.
Após meses de polêmicas e dezenas de documentos defendendo as mudanças nas regras, a entidade máxima do automobilismo foi a grande vitoriosa do primeiro fim de semana da nova F-1.
Primeiro, porque Michael Schumacher não ganhou. Segundo, porque o pódio foi composto por McLaren e Williams, justamente os times que ameaçam recorrer à Justiça contra o regulamento.
Foi a 13ª vitória de Coulthard, único piloto a conseguir derrotar o modelo F2002 -já o fizera no ano passado, no GP de Mônaco.
Juan Pablo Montoya, da Williams, ficou em segundo, seguido por Kimi Raikkonen, companheiro de Coulthard na McLaren.
Para a Ferrari, a corrida foi uma daquelas para esquecer. Schumacher foi traído pela estratégia da equipe e terminou em quarto. Rubens Barrichello bateu sozinho e abandonou na sexta volta.
O resultado derrubou algumas marcas da equipe italiana nos últimos anos. Quebrou uma sucessão de 53 corridas com pelo menos um ferrarista no pódio -desde a Malásia em 99. Interrompeu uma sequência de 19 pódios de Schumacher -desde EUA-01. E derrubou uma série de 37 provas em que o alemão aparecia como líder do campeonato -desde EUA-00.
"Depois de tudo o que aconteceu, tenho que ficar satisfeito com a quarta colocação", admitiu, conformado, Schumacher.
Saindo da pole, o alemão era favorito à vitória. Seus problemas começaram antes da largada, quando a Ferrari optou por pneus para chuva apesar de a pista estar secando. Na sétima volta, ele precisou entrar nos boxes para trocar os pneus. Caiu para oitavo lugar, e Montoya passou à liderança.
Dez voltas depois, um novo líder: Kimi Raikkonen, que usou a "malandragem" da McLaren. Como era o 15º no grid, entrou para reabastecer após a volta de apresentação e largou dos boxes, com uma estratégia de uma parada.
O finlandês venceria não fosse uma pane em seu pit, na 33ª volta. O limitador de velocidade falhou e, por 1,1 km/h, Raikkonen foi punido com um drive through.
Montoya, então, herdou o favoritismo. E tinha 2s7 sobre Coulthard quando, a dez voltas do final, rodou. O escocês fez a ultrapassagem e seguiu para a vitória.
Schumacher? Bem... Ele liderou da 42ª à 45ª volta, mas precisou parar para um último abastecimento. O pit foi antecipado pela queda dos defletores do F2002.
"Ficou provado que a Ferrari, sob pressão, também erra", declarou Coulthard. "Estamos começando um ano empolgante."
De Londres, a 16.913 km de Melbourne, o presidente da FIA não se pronunciou. Artífice da nova F-1, não fez comentários sobre o GP, não exaltou sua criação. Talvez porque não tenha sido necessário.



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