São Paulo, quinta-feira, 10 de maio de 2001

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FUTEBOL

Quem nunca foi ao estádio

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

Quem nunca assistiu a uma partida de futebol da arquibancada não sabe o que está perdendo.
As imagens e o som de um estádio transmitidos pela TV dão apenas uma vaga idéia do que é estar lá. Quem já ouviu o urro da torcida pessoalmente sabe que a emoção é incomparável.
Fui a um jogo pela primeira vez com vinte e poucos anos. Como eu lamentei o tempo perdido! Era um sábado frio e ensolarado. São Paulo e Palmeiras jogavam no Morumbi. O gramado reluzia; o campo aparecia em formato cinemascope, emoldurado pelo concreto do estádio.
Acostumada ao replay, às imagens de detalhes e à câmera lenta, eu achava que ao vivo se perdia muita coisa. Mas descobri que se ganha muito mais: cada reação da torcida tem o efeito de uma lente de aumento.
Uma falta dura, um passe torto ou um erro do juiz são assinalados ruidosamente. Um jogador desmarcado em posição interessante, que nem apareceria na TV, tem o efeito de um propulsor: faz com que milhares se levantem ao mesmo tempo.
No estádio, você assiste de verdade ao jogo de futebol. Vê o time todo, o desenho da jogada. Adivinha um bom momento, presume a trajetória da bola, pressente o gol iminente.
É muito bom berrar, xingar, cantar ameaças que você nunca cumprirá. Fiquei chocada quando ouvi meu namorado da época, um humanista, dizer: "Quebra a perna dele!". Cansei de falar em dar porrada e matar, mas, se uma briga começasse, me arriscava para apartar e evitar que "o pau comesse". (Claro que alguns miolos-moles acreditam nos refrões violentos. Às vezes até os humanistas, que têm seus dias de Mr. Hyde).
É muito bom cantar o hino do time, pular e abraçar o torcedor ao lado. Rir dos comentários do maluco da fileira de cima e vibrar com o gol feito em outro estádio, ouvido em centenas de radinhos. Ver o time saindo do vestiário, a fumaça dos rojões, a bandeira gigante subindo.
É uma delícia gritar o nome de cada jogador, comemorar conquistas anteriores, esculhambar a outra torcida. Chegar junto com a massa, identificar as cores amadas, sair de alma lavada ou triste, envergonhado... Faz parte.

Quem nunca viu uma partida de futebol da arquibancada não sabe o que está evitando.
Você precisa ter um amigo desempregado para comprar ingresso entre 9h e 17h. Alguém disposto a enfrentar tumulto e explicações desencontradas.
Ir de ônibus é uma aventura; voltar é mais difícil ainda. Quem vai de carro enfrenta as ameaças dos guardadores.
Perto do estádio você recebe o assédio dos cambistas. Evita a polícia, com medo da borrachada preventiva. Pena para descobrir onde fica o seu portão. Deixa o seu lanche na calçada porque é obrigado a comer o sanduíche ruim do estádio. Toma coragem para ir ao banheiro e torce para não ter briga.
Se dirigentes, organizadores e patrocinadores fossem obrigados a comprar ingresso, duvido que o serviço continuasse ruim como é. Aliás, se todos fossem obrigados a provar da sua própria eficiência... Se políticos matriculassem os filhos em escolas públicas, patrões andassem de ônibus, banqueiros enfrentassem filas, alguém tomaria providências, pode acreditar.

Ele é um fenômeno
Ainda dizem que Romário só é badalado porque não há mais ninguém que preste... Uma injustiça com os outros bons jogadores e, principalmente, com o Romário.

Inconciliável
É o cúmulo tirar os melhores jogadores das equipes na fase final dos campeonatos estaduais. Ninguém percebeu antes que as datas coincidiam com a Copa das Confederações? E agora, o que vão fazer?

Saudade da Austrália
Eficiência e conforto não tiram a graça do passeio. O estádio Olímpico, em Sydney, era impecável. Centenas de pessoas entravam e saíam com incrível facilidade, tudo era limpo e organizado. E a multidão vibrava como se estivesse na geral do Maracanã.

E-mail: soninha.folha@uol.com.br



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