São Paulo, quarta-feira, 10 de maio de 2006

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TÊNIS

Uma torcida para Guga

RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA

Às vésperas daquele Aberto da França, em 1997, Gustavo Kuerten caminhava tranqüilo por São Paulo. Nem à beira das quadras de saibro do Esporte Clube Pinheiros as pessoas se importavam. Nenhum incentivo, nenhuma torcida por seu sucesso em Roland Garros ou mesmo um simples aceno.
Os funcionários do clube entravam na quadra para molhar o saibro sem pedir licença a ninguém. O fotógrafo pautado para clicar o tenista nem sabia que era justamente aquele rapaz de boné à sua frente o personagem da foto. E ninguém se lixou quando um caixa eletrônico deu pau e deixou Guga sem um trocado para um lanchinho no clube.
Entre um treino e outro, havia apenas a companhia do camarada tenista e amigo de surfe Marcio Carlsson. E tempo de sobra para, no meio da tarde, debaixo das palmeiras, negociar um par de tênis que Carlsson havia comprado com o tamanho errado -e tentava repassar a Kuerten por preço "abaixo de mercado".
Desde aquele pré-Roland Garros solitário, Guga viveu todas as fases de um tenista que vai do inferno ao céu -e volta. Uma temporada depois, seria recebido com ansiedade e curiosidade em Paris, campeão surpreendente que havia sido no ano anterior.
No ano seguinte, já vencedor nos Masters Series de Monte Carlo e Roma, chegava como favorito ao título. Em seguida, campeão no outro Masters Series de saibro, em Hamburgo, chegaria a Paris para abocanhar o segundo título. E o terceiro...
Nestes últimos anos, porém, a preparação e a chegada de Guga a Paris têm sido sempre cercada de dúvidas. Estará ele recuperado da cirurgia? "Definitivamente" recuperado da cirurgia? Da segunda? E agora? Vai jogar?
Desde o início desta temporada, pouco se viu, mas muito se especulou sobre Guga nos bastidores.
Em janeiro, os primeiro rumores de que a aposentadoria chegaria em uma entrevista durante o Torneio da Costa do Sauípe. Depois, os boatos de que ele preparava, sozinho, a retirada definitiva.
Disso à internação nos EUA foi um pulo. Espalhou-se até que havia sido operado de novo. Aí até a definitiva discussão sobre a sua ida ou não ao Aberto da França.
Nesta semana, então, Guga reapareceu no Rio para dizer que não vai a Paris, fato inédito em uma década. Ao mesmo tempo, anunciou que vai buscar a recuperação com um fisioterapeuta ligado ao ex-jogador Ronaldo, talvez caso mais evidente de superação no esporte nacional recente.
Guga, agora estrela a ponto de não ser confundido ou ignorado, busca sua última chance de voltar a competir em alto nível. A esperança é reduzida: segundo o próprio fisioterapeuta, a situação é mais difícil do que a do jogador de futebol anos atrás.
Entre tantas glórias e conquistas que já obteve em sua carreira, Guga não precisaria passar por mais essa. Sua obstinação em voltar a jogar, porém, é comovente, exemplar. E aquela torcida pré-Roland Garros que não rolou para Guga em 1997 deve rolar agora, pré-Roland Garros-2006 -mesmo sem ele lá.

Cada um com seus problemas
Roger Federer pretende realizar mais treinos com tenistas canhotos. Acha que ainda vai mal quando encontra alguém que joga de esquerda. Rafael Nadal vai explorar os voleios. Acha que, só no fundo, não vai fazer sucesso quando a temporada de saibro acabar.

Cada um com seu calendário
Andre Agassi marcou a volta na grama de Queens, em junho. Lleyton Hewitt retorna em Hamburgo e mira Roland Garros.

Cadeirantes
A Holanda saiu campeã do Mundial de tênis por equipes em cadeira de rodas, em Brasília. Na final, bateu os cadeirantes franceses. No feminino também deu Holanda, com vitória sobre a Suíça na decisão.

E-mail: reandaku@uol.com.br


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