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TÊNIS
Uma torcida para Guga
RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA
Às vésperas daquele Aberto
da França, em 1997, Gustavo
Kuerten caminhava tranqüilo
por São Paulo. Nem à beira das
quadras de saibro do Esporte Clube Pinheiros as pessoas se importavam. Nenhum incentivo, nenhuma torcida por seu sucesso
em Roland Garros ou mesmo um
simples aceno.
Os funcionários do clube entravam na quadra para molhar o
saibro sem pedir licença a ninguém. O fotógrafo pautado para
clicar o tenista nem sabia que era
justamente aquele rapaz de boné
à sua frente o personagem da foto. E ninguém se lixou quando
um caixa eletrônico deu pau e
deixou Guga sem um trocado para um lanchinho no clube.
Entre um treino e outro, havia
apenas a companhia do camarada tenista e amigo de surfe Marcio Carlsson. E tempo de sobra
para, no meio da tarde, debaixo
das palmeiras, negociar um par
de tênis que Carlsson havia comprado com o tamanho errado -e
tentava repassar a Kuerten por
preço "abaixo de mercado".
Desde aquele pré-Roland Garros solitário, Guga viveu todas as
fases de um tenista que vai do inferno ao céu -e volta. Uma temporada depois, seria recebido com
ansiedade e curiosidade em Paris,
campeão surpreendente que havia sido no ano anterior.
No ano seguinte, já vencedor
nos Masters Series de Monte Carlo e Roma, chegava como favorito
ao título. Em seguida, campeão
no outro Masters Series de saibro,
em Hamburgo, chegaria a Paris
para abocanhar o segundo título.
E o terceiro...
Nestes últimos anos, porém, a
preparação e a chegada de Guga
a Paris têm sido sempre cercada
de dúvidas. Estará ele recuperado
da cirurgia? "Definitivamente"
recuperado da cirurgia? Da segunda? E agora? Vai jogar?
Desde o início desta temporada,
pouco se viu, mas muito se especulou sobre Guga nos bastidores.
Em janeiro, os primeiro rumores de que a aposentadoria chegaria em uma entrevista durante o
Torneio da Costa do Sauípe. Depois, os boatos de que ele preparava, sozinho, a retirada definitiva.
Disso à internação nos EUA foi
um pulo. Espalhou-se até que havia sido operado de novo. Aí até a
definitiva discussão sobre a sua
ida ou não ao Aberto da França.
Nesta semana, então, Guga reapareceu no Rio para dizer que
não vai a Paris, fato inédito em
uma década. Ao mesmo tempo,
anunciou que vai buscar a recuperação com um fisioterapeuta ligado ao ex-jogador Ronaldo, talvez caso mais evidente de superação no esporte nacional recente.
Guga, agora estrela a ponto de
não ser confundido ou ignorado,
busca sua última chance de voltar
a competir em alto nível. A esperança é reduzida: segundo o próprio fisioterapeuta, a situação é
mais difícil do que a do jogador
de futebol anos atrás.
Entre tantas glórias e conquistas que já obteve em sua carreira,
Guga não precisaria passar por
mais essa. Sua obstinação em voltar a jogar, porém, é comovente,
exemplar. E aquela torcida pré-Roland Garros que não rolou para Guga em 1997 deve rolar agora, pré-Roland Garros-2006
-mesmo sem ele lá.
Cada um com seus problemas
Roger Federer pretende realizar mais treinos com tenistas canhotos.
Acha que ainda vai mal quando encontra alguém que joga de esquerda. Rafael Nadal vai explorar os voleios. Acha que, só no fundo, não
vai fazer sucesso quando a temporada de saibro acabar.
Cada um com seu calendário
Andre Agassi marcou a volta na grama de Queens, em junho. Lleyton
Hewitt retorna em Hamburgo e mira Roland Garros.
Cadeirantes
A Holanda saiu campeã do Mundial de tênis por equipes em cadeira
de rodas, em Brasília. Na final, bateu os cadeirantes franceses. No feminino também deu Holanda, com vitória sobre a Suíça na decisão.
E-mail: reandaku@uol.com.br
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