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A sangue frio
MATINAS SUZUKI JR.
da Equipe de Articulistas
Mais uma vez o Palmeiras
atropelou na reta final. Mais
uma vez o alviverde da era Felipe Scolari jogou no limite, no
fio da navalha, à beira do abismo. E se deu bem.
Independentemente do formato tático, da qualidade e da
aplicação dos jogadores, o time
tem revelado, sobretudo, a paciência tesa, eriçada, de um lutador de artes marciais orientais ou de um animal caçador:
ambos dão o golpe e o bote no
instante preciso -para o qual
concentram todas as energias.
Se não tivesse outras qualidades, Felipão, pelo que fez no
Grêmio e faz agora no Palmeiras, poderia ficar conhecido
para sempre como o melhor
preparador psicológico para
momentos decisivos que o futebol brasileiro já conheceu.
Apesar de ter chegado a duas
finais e a uma semifinal de maneira espetacular, o Palmeiras
ainda não ganhou nada. É
franco favorito na principal decisão de sua história, a da Libertadores, mas tem outros jogos difíceis.
Se o adversário do alviverde
na final do Paulista for o Corinthians (aí vai o indefectível,
como indefectível está sendo o
Palmeiras até agora -escrevo
esta coluna antes do jogo entre
o alvinegro e o São Paulo, ontem à noite), o time de Scolari
terá o desafio ""moral" para
mostrar que é superior.
Pois, nos quatro confrontos
da Libertadores, embora eliminado, o Corinthians, na média,
jogou melhor.
O excesso de racionalismo de
um lado e de emocionalismo de
outro pode obscurecer a verdadeira discussão sobre os campeonatos estaduais.
Por um lado, não há dúvida
de que os regionais são um
handicap para se estruturar o
futebol de uma maneira mais
eficiente no Brasil. No mínimo,
os times brasileiros terão que
jogar mais do que os outros.
Por outro lado, não se pode
negar que a tradição dos estaduais está demonstrando uma
força maior do que se esperava
em um mundo que encolheu de
tamanho.
Não vejo como não se possa
pensar em uma saída que contemple os dois lados.
Difícil? Sim. Impossível? Não.
A NBA, por exemplo, um dos
torneios mais bem organizados
que o esporte profissional conhece, é ao mesmo tempo disputada regional, na primeira
fase, e nacionalmente, na fase
final. Eles encontraram a fórmula deles. Por que nós não encontramos a nossa?
A gostosíssima farra dos holandeses na terra do Olodum
foi assunto das esquinas e dos
botecos nesta semana.
Em sua simpática autobiografia, o grande jogador Ruud
Gullit conta que, para surpresa
de todo mundo, na noite anterior à final contra a Rússia, na
Eurocopa-88, em Munique, os
jogadores holandeses foram ver
um show da deliciosa Whitney
Houston e caíram na dança.
Segundo ele, até o excepcional artilheiro Marco van Basten, que eu gostava de chamar
de ""a gazela", tal a sua elegância para jogar, e que não era
chegado em um requebro, saiu
dançando, para pavor dos preparadores físicos dos abóboras
selvagens.
É assim mesmo o espírito livre
holandês. No dia seguinte, eles
estavam com a música de
Whitney Houston na alma... e
a taça nas mãos.
Matinas Suzuki Jr. escreve às quintas-feiras e é
diretor editorial-adjunto da Abril S.A.
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