São Paulo, Quinta-feira, 10 de Junho de 1999
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A sangue frio

MATINAS SUZUKI JR.
da Equipe de Articulistas

Mais uma vez o Palmeiras atropelou na reta final. Mais uma vez o alviverde da era Felipe Scolari jogou no limite, no fio da navalha, à beira do abismo. E se deu bem.
Independentemente do formato tático, da qualidade e da aplicação dos jogadores, o time tem revelado, sobretudo, a paciência tesa, eriçada, de um lutador de artes marciais orientais ou de um animal caçador: ambos dão o golpe e o bote no instante preciso -para o qual concentram todas as energias.
Se não tivesse outras qualidades, Felipão, pelo que fez no Grêmio e faz agora no Palmeiras, poderia ficar conhecido para sempre como o melhor preparador psicológico para momentos decisivos que o futebol brasileiro já conheceu.
  Apesar de ter chegado a duas finais e a uma semifinal de maneira espetacular, o Palmeiras ainda não ganhou nada. É franco favorito na principal decisão de sua história, a da Libertadores, mas tem outros jogos difíceis.
Se o adversário do alviverde na final do Paulista for o Corinthians (aí vai o indefectível, como indefectível está sendo o Palmeiras até agora -escrevo esta coluna antes do jogo entre o alvinegro e o São Paulo, ontem à noite), o time de Scolari terá o desafio ""moral" para mostrar que é superior.
Pois, nos quatro confrontos da Libertadores, embora eliminado, o Corinthians, na média, jogou melhor.
  O excesso de racionalismo de um lado e de emocionalismo de outro pode obscurecer a verdadeira discussão sobre os campeonatos estaduais.
Por um lado, não há dúvida de que os regionais são um handicap para se estruturar o futebol de uma maneira mais eficiente no Brasil. No mínimo, os times brasileiros terão que jogar mais do que os outros.
Por outro lado, não se pode negar que a tradição dos estaduais está demonstrando uma força maior do que se esperava em um mundo que encolheu de tamanho.
Não vejo como não se possa pensar em uma saída que contemple os dois lados.
Difícil? Sim. Impossível? Não.
A NBA, por exemplo, um dos torneios mais bem organizados que o esporte profissional conhece, é ao mesmo tempo disputada regional, na primeira fase, e nacionalmente, na fase final. Eles encontraram a fórmula deles. Por que nós não encontramos a nossa?
  A gostosíssima farra dos holandeses na terra do Olodum foi assunto das esquinas e dos botecos nesta semana.
Em sua simpática autobiografia, o grande jogador Ruud Gullit conta que, para surpresa de todo mundo, na noite anterior à final contra a Rússia, na Eurocopa-88, em Munique, os jogadores holandeses foram ver um show da deliciosa Whitney Houston e caíram na dança.
Segundo ele, até o excepcional artilheiro Marco van Basten, que eu gostava de chamar de ""a gazela", tal a sua elegância para jogar, e que não era chegado em um requebro, saiu dançando, para pavor dos preparadores físicos dos abóboras selvagens.
É assim mesmo o espírito livre holandês. No dia seguinte, eles estavam com a música de Whitney Houston na alma... e a taça nas mãos.


Matinas Suzuki Jr. escreve às quintas-feiras e é diretor editorial-adjunto da Abril S.A.


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