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Ferrari é a causa da vaia a Ronaldo
JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas
Agora há Ronaldo, o "velho", e
Ronaldinho, o novo.
O "velho" tem só 22 anos. O que
ele viveu nos últimos cinco pode
ser visto como o paradigma da
trajetória de um craque dos tempos globalizados: ascensão fulminante, internacionalização, fortuna imediata, superestrelato, pressões, queda, vaias, tentativa de
dar a volta por cima.
Talvez o garoto do Grêmio olhe
para seu xará mais velho e pense:
"Esse cara sou eu, amanhã".
É bom que ele saiba, portanto,
que, junto com os dólares, as louras e as Ferraris, vêm também o
assédio da mídia, a invasão de
privacidade, as cobranças da torcida. Ou se compra o pacote todo
ou não se compra nada.
A exigência dos torcedores é diretamente proporcional à prosperidade do craque. Ronaldo não jogou mal nas últimas partidas
-pelo menos, não tão mal que
merecesse vaias. Por que foi vaiado, então? Não tenho a menor dúvida: foi por causa das louras e
das Ferraris.
O torcedor projeta no ídolo seu
próprio sonho de sucesso, e também suas frustrações. Depois de
incensar o craque em sua fase ascendente, parece esperar com avidez por sua queda, para poder
descarregar seu ressentimento. A
mão que afaga é a mesma que
apedreja, já disse Augusto dos Anjos há um século.
Muitas vezes nos pegamos pensando (não raro em voz alta): "Eu
me mato de trabalhar para conseguir R$ 1.000 e esse cara sai desfilando por aí de Ferrari, cercado
de boazudas. Tudo o que ele tem
de fazer é jogar bola -e nem isso
está fazendo direito". E tome vaia.
Um jogador como Rivaldo
-que está no mesmo patamar de
Ronaldo, mas não se tornou um
astro tão reluzente, nem tão carismático- parece menos sujeito às
vaias. Por estar menos em evidência, e ser mais discreto em sua vida particular, não é um pára-raios dos recalques alheios.
Ronaldinho, o novo, também
nasceu para brilhar. Estamos tendo o privilégio de vê-lo florescer,
com seu futebol que ainda traz o
aroma dos jogos infantis e nos
lança na nostalgia do tempo em
que éramos puros.
Desfrutemos desse instante.
Poucas coisas são tão belas e interessantes como o desabrochar de
um craque. Como escreveu Caetano Veloso, "a coisa mais certa de
todas as coisas não vale um caminho sob o sol".
Ninguém tem o direito de impedir o garoto de seguir esse caminho. O que se pode, quando muito, é alertá-lo para as armadilhas
e desfiladeiros que tem pela frente. O que, aparentemente, ele já
sabe. Assim como Zico (caçula de
Antunes e Edu), Ronaldinho teve
a sorte de ter um irmão mais velho profissional e bom de bola, Assis. Aprendeu em casa que vida de
futebolista não é um mar de rosas
-nem de Ferraris.
Luxemburgo trocou Alex por Zé
Roberto. Ao que parece, a mudança tem menos a ver com as recentes atuações do meia palmeirense
do que com a tentativa de encontrar o lugar de Rivaldo na seleção,
onde ele nunca conseguiu brilhar
como no Barcelona.
O problema é que Zé Roberto é
um jogador que costuma conduzir demais a bola (como o próprio
Rivaldo, aliás), o que pode acentuar um defeito da atual seleção,
que é o de insistir nas jogadas individuais, em detrimento das tabelas e passes rápidos.
A outra troca, de Odvan por
João Carlos, parece correta. O zagueiro do Cruzeiro é menos rústico que o do Vasco. Além disso, vá
cabecear bem assim lá longe -ou
melhor, na área argentina.
José Geraldo Couto escreve aos sábados e
segundas
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