São Paulo, Sábado, 10 de Julho de 1999
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Ferrari é a causa da vaia a Ronaldo

JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas


Agora há Ronaldo, o "velho", e Ronaldinho, o novo.
O "velho" tem só 22 anos. O que ele viveu nos últimos cinco pode ser visto como o paradigma da trajetória de um craque dos tempos globalizados: ascensão fulminante, internacionalização, fortuna imediata, superestrelato, pressões, queda, vaias, tentativa de dar a volta por cima.
Talvez o garoto do Grêmio olhe para seu xará mais velho e pense: "Esse cara sou eu, amanhã".
É bom que ele saiba, portanto, que, junto com os dólares, as louras e as Ferraris, vêm também o assédio da mídia, a invasão de privacidade, as cobranças da torcida. Ou se compra o pacote todo ou não se compra nada.
A exigência dos torcedores é diretamente proporcional à prosperidade do craque. Ronaldo não jogou mal nas últimas partidas -pelo menos, não tão mal que merecesse vaias. Por que foi vaiado, então? Não tenho a menor dúvida: foi por causa das louras e das Ferraris.
O torcedor projeta no ídolo seu próprio sonho de sucesso, e também suas frustrações. Depois de incensar o craque em sua fase ascendente, parece esperar com avidez por sua queda, para poder descarregar seu ressentimento. A mão que afaga é a mesma que apedreja, já disse Augusto dos Anjos há um século.
Muitas vezes nos pegamos pensando (não raro em voz alta): "Eu me mato de trabalhar para conseguir R$ 1.000 e esse cara sai desfilando por aí de Ferrari, cercado de boazudas. Tudo o que ele tem de fazer é jogar bola -e nem isso está fazendo direito". E tome vaia.
Um jogador como Rivaldo -que está no mesmo patamar de Ronaldo, mas não se tornou um astro tão reluzente, nem tão carismático- parece menos sujeito às vaias. Por estar menos em evidência, e ser mais discreto em sua vida particular, não é um pára-raios dos recalques alheios.
Ronaldinho, o novo, também nasceu para brilhar. Estamos tendo o privilégio de vê-lo florescer, com seu futebol que ainda traz o aroma dos jogos infantis e nos lança na nostalgia do tempo em que éramos puros.
Desfrutemos desse instante. Poucas coisas são tão belas e interessantes como o desabrochar de um craque. Como escreveu Caetano Veloso, "a coisa mais certa de todas as coisas não vale um caminho sob o sol".
Ninguém tem o direito de impedir o garoto de seguir esse caminho. O que se pode, quando muito, é alertá-lo para as armadilhas e desfiladeiros que tem pela frente. O que, aparentemente, ele já sabe. Assim como Zico (caçula de Antunes e Edu), Ronaldinho teve a sorte de ter um irmão mais velho profissional e bom de bola, Assis. Aprendeu em casa que vida de futebolista não é um mar de rosas -nem de Ferraris.

Luxemburgo trocou Alex por Zé Roberto. Ao que parece, a mudança tem menos a ver com as recentes atuações do meia palmeirense do que com a tentativa de encontrar o lugar de Rivaldo na seleção, onde ele nunca conseguiu brilhar como no Barcelona.
O problema é que Zé Roberto é um jogador que costuma conduzir demais a bola (como o próprio Rivaldo, aliás), o que pode acentuar um defeito da atual seleção, que é o de insistir nas jogadas individuais, em detrimento das tabelas e passes rápidos.
A outra troca, de Odvan por João Carlos, parece correta. O zagueiro do Cruzeiro é menos rústico que o do Vasco. Além disso, vá cabecear bem assim lá longe -ou melhor, na área argentina.


José Geraldo Couto escreve aos sábados e segundas


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