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ATENAS 2004
Comitê dá prêmios e diz que atleta voltará para casa sem apanhar
Na Grécia, Iraque só quer provar que é "país normal"
DO ENVIADO A ATENAS
O discurso talvez seja mais ianque que o da delegação dos EUA.
Mas eles falam árabe. E, em vez
de faixas e estrelas, levam no peito
um emblema recém-concebido
que mostra uma palmeira -símbolo de versatilidade e resistência- e os anéis olímpicos.
São iraquianos. São 46 no total,
25 atletas e 21 técnicos e cartolas.
E, em uníssono, dizem que estão
em Atenas para provar ao mundo
que vêm de um "país normal".
"Queremos mudar a imagem
do Iraque. Durante anos, tivemos
muita publicidade negativa. Mas
pedimos, agora, que a mídia comece a mostrar o lado positivo do
nosso país, que só tem prosperado com o apoio dos EUA", afirmou Tiras Anwaya, diretor-geral
do Comitê Olímpico Iraquiano.
A entidade, no seu atual formato, tem menos de um ano. Dirigida desde 1986 por Uday Hussein,
foi desfiliada pelo COI (Comitê
Olímpico Internacional) em maio
de 2003. Dois meses depois, o filho do ex-ditador foi assassinado
em Mossul pelas forças da coalização liderada pelos EUA.
No fim do ano passado, apoiado
pelos ocupantes, o ex-jogador de
basquete Ahmed Assamarai assumiu a presidência do comitê. Há
menos de seis meses, o COI aceitou a volta dos iraquianos.
"Foi tudo muito rápido. Tivemos que começar do zero, buscar
patrocinadores... Não estaríamos
aqui se não tivéssemos sido libertados pelos EUA", disse Assamarai, em uma concorrida entrevista
coletiva na Vila Olímpica.
Dos 25 atletas, 18 integram a seleção de futebol. O país competirá
ainda na natação, no atletismo, no
judô, no boxe, no taekwondo e no
levantamento de peso. "Estamos
representando o povo do Iraque.
Isso é o que mais me empurra.
Vou lutar com todas as minhas
forças para provar que estamos de
volta", disse o pugilista Najah Ali,
24. "A situação do país é mais estável, e a tendência é melhorar",
falou Haider Lazim, 29, do judô.
Para motivar seus atletas, o comitê ofereceu prêmios: US$ 25
mil pelo ouro, US$ 15 mil pela
prata e US$ 10 mil pelo bronze.
Mas, consciente de que uma medalha em Atenas é quase impossível, afirma que a maior premiação
será voltar para casa sem apanhar
-Uday Hussein era acusado de
torturar os atletas que falhavam
em grandes competições. "Agora,
os jogadores poderão chutar a gol
sem medo de errar", disse o diretor Anwaya.
(FÁBIO SEIXAS)
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