São Paulo, terça-feira, 10 de agosto de 2004

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ATENAS 2004

No primeiro dia de treino em Atenas, atletas falam de questionários, reuniões e "amnésia" como motivação

"Mens sana" é vedete brasileira na Grécia

Flávio Florido/Folha Imagem
Danielle Zangrando e Vânia Ishii, que foram acompanhadas pela psicóloga Adriana Lacerda na aclimatação em Portugal, realizam o primeiro treino em Atenas

ADALBERTO LEISTER FILHO
GUILHERME ROSEGUINI
ENVIADOS ESPECIAIS A ATENAS

Emanuel quer acabar com a fama de "amarelão" que o persegue em Olimpíadas. Por isso, o maior vencedor do Circuito Mundial de vôlei de praia, com seis títulos, fez um trabalho específico de preparação mental para a disputa dos Jogos de Atenas.
Apontado como o melhor jogador da década de 90 pela federação internacional e como medalhista de ouro em previsão da revista americana "Sports Illustrated", Emanuel, ao lado de Ricardo, não quer viver nova decepção.
"Contratamos uma pessoa para trabalhar conosco. Após cada jogo, eu e o Ricardo respondíamos a um questionário de 30 perguntas. A partir dele, descobrimos que precisávamos lidar melhor com as provocações dos adversários", conta Emanuel, 31, que trabalha com Joice Stefanello, doutora em ciências do esporte pela Universidade de Coimbra.
Ele não está sozinho. Para esquecer o fracasso dos Jogos de Sydney, quando o Brasil acumulou seis pratas e seis bronzes, vários atletas se convenceram de que a mente pode ser tão importante quanto o corpo para atingir o lugar mais alto do pódio.
"Você, primeiro, precisa se conscientizar de que pode atingir seu objetivo. Vim aqui para ser campeão olímpico", afirma o judoca Carlos Honorato, 29, vice-campeão em Sydney-2000. "Gostaria de enfrentar o holandês [Mark Huizinga] novamente e devolver o ippon que tomei há quatro anos."
A atitude do judoca, que começou a treinar aos oito anos e viu amigos e parentes venderem rifas para custear suas passagens, é elogiada por Dietmar Samulski, psicólogo contratado pelo Comitê Olímpico Brasileiro para trabalhar com os brasileiros na Vila Olímpica. "É importante ter confiança em um bom resultado", afirma o especialista.
Não é só na hora da disputa que um bom preparo psicológico pode ajudar. Para o time de natação, por exemplo, o crucial é evitar que os atletas percam o foco do torneio já na Vila Olímpica. Uma espécie de "amnésia" consciente.
"Eles podem ficar deslumbrados com o desfile de grandes astros do esporte por todo o lado. Por isso, fizemos várias reuniões com o pessoal. Falei para eles esquecerem o que está em volta. Ninguém veio aqui para passear", afirma Ricardo Moura, chefe da equipe, que fez ontem o primeiro treino em Atenas.
Logo no primeiro dia de alojamento olímpico, os brasileiros esbarraram com o australiano Ian Thorpe e com o holandês Pieter van den Hoogenband, ambos recordistas mundiais na piscina.
"Ninguém ficou fazendo badalação, pedindo autógrafo. Colocamos na cabeça deles que ninguém está aqui no papel de turista", conta Moura.

Controle de nervos
A preocupação com a mente não é exclusiva de esportes individuais, nos quais a cobrança por resultados é grande.
A seleção feminina de basquete, que conquistou medalhas nas duas últimas Olimpíadas e também desembarcou ontem em Atenas, já deu o sinal de alerta.
Após o primeiro amistoso contra a Grécia, quando a ala-armadora Iziane chutou uma adversária, o time, que estréia no sábado, reuniu-se com a jogadora e exigiu uma atitude mais profissional nos Jogos de Olímpicos.
"Falamos para ela que, se fosse em uma Olimpíada, isso teria nos prejudicado bastante", afirmou a armadora Helen.


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