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MOTOR
De volta para o passado
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE
Max Mosley teve uma reunião secreta com Jean Todt,
em Maranello, nesta semana, segundo a mídia italiana. Após as
negativas de praxe, vazou a informação de que o assunto fora o
teor das mudanças que podem ser
anunciadas na próxima quarta.
É quando os times respondem
se aceitam ou não um novo banimento da eletrônica ativa, reabilitada há menos de dois anos.
A aprovação da medida e sua
extensão dependem fundamentalmente dos ferraristas, o que explica o encontro desta semana.
Não bastasse a popularidade, a
equipe carrega também a responsabilidade de ter o melhor conjunto do grid, ou seja, aquele que
tem mais a perder em caso de mudanças bruscas -e inibir a ajuda
eletrônica é uma verdadeira porrada em qualquer planejamento.
Fosse para manter alguma coerência, os grandes times diriam
não a qualquer tipo de mudança.
Mas, como coerência é algo raro
na F-1, não seria surpresa o anúncio de mais novidades.
As mudanças obtidas pela FIA
no fim de 2002 foram muito mais
drásticas para o público do que
para pilotos e equipes. Claro, classificar o carro com só uma volta
lançada é bem diferente do que
ter uma hora de tentativas, mas
não é, absolutamente, um desafio
aos engenheiros -quem faz um
motor para durar 150 km tem recursos de sobra para produzir um
que dure apenas 30 km.
Tanto que a medida foi aprovada sem maiores discussões pelos
times. O mesmo aconteceu com as
tais horas extras de testes às sextas-feiras. Nesse caso, porém, a regra teve que ser disponibilizada
de maneira facultativa, para
agradar grandes, que dependem
de muitas horas de testes, e pequenos, que dependem muito
mais do acerto local.
Agora, o que está em discussão
não são as alterações esportivas,
mas uma mudança técnica e de
característica peculiar: a eletrônica melhora o desempenho de motor e chassi, mas, antes de tudo,
corrige a condução do piloto.
Como os times grandes contam
ou deveriam contar com os melhores pilotos, a coisa toda não
deveria fazer muita diferença.
Mas faz, pois o erro é inerente até
para excepcionais como Schumacher. Só que mais importante parece ser a percepção do público,
que se ressente de não poder identificar a responsabilidade do desempenho: quanto é o carro,
quanto é o braço do piloto.
Esse, no final das contas, deveria ser o argumento para banir a
ajuda eletrônica. E esse, no final
das contas, pode ser o argumento
que fará a F-1 voltar atrás mais
uma vez no seu compasso tecnológico, que ganhou uma perigosa
escala geométrica com tantos
softwares. Os índices de audiência
caem, é razão suficiente.
Na primeira vez que a eletrônica foi banida, no final de 1993, a
situação era semelhante, com um
time, no caso a Williams, em plena dominância (curiosamente,
garantiu o melhor piloto do grid
antes de permitir o veto e, mais
curiosamente ainda, perdeu esse
melhor na Tamburello; a vida,
mais do que voltas, dá nós).
Em tese, banir a eletrônica é
uma medida inócua, dada a dificuldade de verificação, razão pela
qual foi reabilitada no início da
era Ferrari. Mas a prática pode
ser diferente. Todos sabem que
Schumacher é o melhor. Mas, para o público, será melhor ainda se
falhar na largada ou se seu carro
quebrar duas ou três vezes.
Está nas mãos da Ferrari.
Outro mundo
A Toyota mostrou seu carro para 2003. Da Matta já disse que a
maior dificuldade será o absoluto desconhecimento das pistas da
F-1. Zonta pode ajudá-lo. Panis, obviamente, não o fará.
Erro estratégico
A Renault confirmou que vai usar as horas extras às sextas-feiras.
Dona de categorias de formação em diversos países, vai trocar um
programa intenso de testes pela promoção nos locais de GP. Decisões como essa é que separam os esportistas dos executivos.
Como é que é?
Após a Williams dizer que prescindiu da ajuda da BMW para desenvolver o FW25, Gerard Berger teve que negar nesta semana que
a fábrica não planeja montar um time próprio. Não, não deve fazer
isso. Mas se esforçou, nos últimos meses, em demonstrar que tem
condições de fazer isso. Sim, é uma forma de pressionar a parceira.
E-mail mariante@uol.com.br
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