São Paulo, sábado, 11 de janeiro de 2003

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FUTEBOL

Marcelinho, de novo carioca

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Não devem ter sido poucos os corintianos que ficaram frustrados ao ver na TV a imagem de Marcelinho vestindo pela primeira vez a camisa do Vasco da Gama. Muitos, embora talvez não confessem, sonhavam em vê-lo de novo no Parque São Jorge.
No time equilibrado e confiável (para não dizer previsível) que Parreira deixou de herança a Geninho, Marcelinho poderia vir a representar um saudável e bem-vindo desequilíbrio. O que falta à equipe é justamente o que sobra ao craque retornado do Japão: fantasia, vibração, destempero, surpresa. Para dizer como Castro Alves: loucura divina.
A despeito das desavenças ocasionais da Fiel com Marcelinho, algumas delas bastante violentas, poucas vezes vi uma identificação tão grande entre um jogador e uma torcida.
Era algo de arrepiar, na arquibancada do Pacaembu, o grito uníssono da torcida, cada vez que havia uma falta perto da área adversária: "Uh, Marcelinho/ uh, Marcelinho".
E o craque retribuiu tantas vezes, e de formas tão surpreendentes e maravilhosas, que até hoje se ouve o eco daquele coro quando há uma falta a ser batida no ataque. Só que o "pé de anjo" não está mais lá.
Esclareço que não tenho nenhuma simpatia pessoal por Marcelinho, por sua carolice de fachada, suas intrigas junto a treinadores e colegas de clube, suas relações ambíguas com a imprensa.
O que faz dele um jogador único é sua performance dentro de campo, que alia a extrema competência técnica a um agudo sentido do espetáculo.
No cinema, há as boas atrizes e há as estrelas. No futebol, analogamente, há os bons jogadores e há os astros. Estes últimos são os que levam as multidões aos estádios, e Marcelinho está entre eles.
 
O leitor que me suporta já há algum tempo sabe que tenho a "teoria" -completamente intuitiva e discutível- de que todo grande time deve contar com um "bad boy" para preservar sua saúde e seu tônus.
Entenda-se como "bad boy", no caso, não necessariamente um atleta desleal ou de caráter duvidoso, mas alguém tenha a encrenca no sangue. Pode ser um tipo explosivo e temperamental, à maneira de Rivellino, um malandro gozador como Romário ou um moleque insolente, como Diego e seu colega Robinho.
Em todo caso, alguém que, por alguma via, escape das reações previsíveis e do comportamento burocrático. Alguém capaz, em suma, de mexer profundamente com as emoções da torcida, tanto do seu time como do adversário.
No Vasco, agora, há pelo menos dois atletas desse tipo -o carioca Marcelinho e o sérvio Petkovic-, o que talvez seja um excesso.
O próprio Vasco já teve uma experiência semelhante com Edmundo e Romário, e o caldo quase entornou.
Mas o time de São Januário contará também, como possível fator de equilíbrio, com o discreto Marques, que é tão craque quanto os outros dois.
Aliás, mantendo o assunto, mas mudando o enfoque, como é que os clubes grandes do Rio, no auge da sua pindaíba, conseguem sempre fazer grandes contratações, em contraste com a política de pés no chão (leia-se mão fechada) dos grandes de São Paulo?
Será falta de ousadia dos paulistas ou excesso de mágica dos cariocas?

Velha nova seleção
Parreira e Zagallo de volta à seleção trazem uma incômoda sensação de "déjà vu". Mas, apesar da impressão de continuísmo teixeirista envolvido no retorno, é possível formar, com essa comissão técnica e o elenco disponível, uma grande seleção. Com a base de 2002, mais uns três ou quatro jovens talentos, o Brasil é desde já um dos favoritos para a Copa da Alemanha.

Contratações
Não considero nada desprezíveis as contratações feitas pelo Palmeiras. Adãozinho e Leandro são jogadores de primeiro nível. Penso que a prioridade alviverde agora deve ser garantir a volta de Claudecir, para a constituição de uma boa espinha dorsal. Mais alarmante, a meu ver, é a situação do Corinthians, que corre o risco de entrar sem reforços na sua competição mais importante, a Libertadores da América.

E-mail jgcouto@uol.com.br


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