São Paulo, quarta, 11 de fevereiro de 1998

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Dinamite no Corinthians

ALBERTO HELENA JR.
da Equipe de Articulistas

O caso policial em que se envolveu Edílson, levando Vampeta de roldão, em si, é uma bobagem. Assim como uma certa reunião de bebuns numa cervejaria de Munique, no final dos anos 20. O que deveria acabar em chope, acabou num mar de sangue derramado sobre o planeta.
Isto é: um episódio isolado, aparentemente banal, quando inserido num contexto potencialmente explosivo, para reavivar um clichê dos anos 60, vira dinamite pura.
Claro que os jogadores corintianos têm todo o direito do mundo de ir e vir aonde queiram, à hora que lhes der na telha. São cidadãos como outros quaisquer, no pleno exercício de sua liberdade, pagam seus impostos, são maiores de idade e tudo o mais. Se suas andanças noturnas acabam se refletindo nas suas atuações em campo, então o problema passa a ser do clube, que adotará as medidas julgadas necessárias para preservar o bom andamento dos trabalhos.
Até aqui, não fui além do óbvio e nem sei se o farei.
Mas fico lembrando de um encontro com Pedro Rocha, o craque uruguaio, que veio para o São Paulo, no início da década de 70. Eram tempos de extrema rivalidade entre tricolores e palestrinos. E Rocha perdera seu primeiro clássico para o Palmeiras. Saiu de campo arrasado e, quando entrou no vestiário, o choque: a rapaziada toda ali na maior descontração, marcando jantares para a noite, contando piadas e tal e coisa.
Na segunda-feira, confessava-me, aturdido: lá no Uruguai, quando o Peñarol perdia para o Nacional, era uma semana de luto fechado. Pedro nem saía às ruas, com vergonha de cruzar com torcedores do seu time. Aqui, é essa farra.
Talvez seja esse espírito leve diante da tragédia que confira ao futebol brasileiro a extraordinária capacidade de rápida regeneração. Ao contrário, por exemplo, do uruguaio, a quem só resta incensar as lembranças de Varella, Schiaffino, Andrade, os heróis, enfim, de 50, a última Copa conquistada.
Mas, que diabo, não custava nada a um tiquinho de recato diante da vexatória campanha do Corinthians, sobretudo, por parte de Edílson, que já estava na marca do pênalti desde a chegada de Luxemburgo, em razão de antigas desavenças lá dos tempos em que ambos frequentavam o outro Parque.
Não bastasse isso, Edílson andou se atrasando em treino e coisas do gênero. E, para arrematar tudo, essa prisão na madrugada.
Como dizia vovó, na muda, passarinho não pia.
Para Edílson, estava mais do que na cara que os tempos são de muda.

Também, como dizia o corintiano resignado, juntaram na madrugada o Capetinha com o Vampeta, que é a mistura de vampiro com capeta, na avenida Doutor Arnaldo, a poucos metros do cemitério.
Aquilo só podia mesmo virar um inferno.

Pode ser que, mais bem preparado fisicamente, Carlos Miguel assuma de vez aquele lugar que ainda pertence a Denílson. Mas algo me diz que, por enquanto, a vaga é de Marcelinho, um tanto mais agitado do que o recém-contratado.


Alberto Helena Jr. escreve aos domingos, segundas e quartas



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