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FUTEBOL
Antigo e novo
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
E m outras épocas, o futebol ofensivo, lúdico, descontraído e ""moleque" predominou
no Brasil. Os meninos jogavam
descalços, nos campos de terra.
Descobriam a magia e os encantos do futebol. Sem regras e
professores. Aprendiam a dominar a bola e acariciá-la. Criava-se uma intimidade.
Para sempre!
Depois vinham o drible, o passe e o chute em curva e outros
divertimentos. O garoto tornava-se artista antes de ser um
atleta. Nas categorias de base,
aprendiam a técnica, as regras,
a posição em campo, a competir, a ganhar, a perder e outras
coisas chatas, mas necessárias.
Nos principais estádios do
mundo repetiam as jogadas
maravilhosas da infância.
Essa capacidade de brincar
com responsabilidade na vida
adulta é a base da criatividade
em todas as profissões.
Com essa habilidade e descontração, associadas à técnica e
disciplina tática, a seleção do
Brasil foi quatro vezes campeã
do mundo.
Não ganhou em 1982, mas encantou o mundo.
Em 1994, o principal motivo
da vitória não foi o eficiente esquema tático, como dizem. Foi o
talento de jogadores como Romário, Bebeto e outros.
Ao assumir o comando da seleção brasileira, Leão prometeu
resgatar o futebol alegre, ousado
e bailarino.
Como ninguém viu o primeiro
jogo contra os Estados Unidos,
não sei se o time melhorou ou
piorou contra o México. Certamente, não agradou.
De positivo, a intenção do treinador de adotar uma postura
ofensiva, ao escalar Rivaldo, Romário, Ronaldinho e Edílson.
Vampeta, Cafu e, raramente,
Roberto Carlos, também apareciam muito na frente.
Ronaldinho e Rivaldo, no entanto, ocuparam o mesmo espaço. Rivaldo, o melhor da seleção,
jogou pelos dois.
A seleção do Brasil atuou com
quatro defensores (dois zagueiros centrais e dois laterais) muito atrás e com quatro atacantes
fixos na frente.
No meio-campo, um enorme
vazio. Somente Emerson e Vampeta participavam da armação
e da marcação.
A equipe mexicana tinha toda
a liberdade, tocava a bola e facilmente chegava ao gol brasileiro.
A seleção do Brasil jogava assim antes da Copa de 58. Há
mais de 40 anos.
Naquele Mundial, o ponta-esquerda Zagallo percebeu o
grande buraco no meio-campo.
Recuou e formou uma linha
de três armadores. Quando o
Brasil recuperava a posse de bola, Zagallo tornava-se, novamente, um ponta-esquerda. Telê fazia isso pela direita no Fluminense.
A partir daí, todas as equipes
passaram a jogar com três no
meio-campo.
Alguns técnicos preferiam
manter os dois pontas e recuar
um atacante, o ponta-de-lança.
Voltando à atual seleção, uma
coisa é recuperar o futebol bonito e bailarino do passado. Outra
é repetir esquemas táticos ultrapassados.
O talento, a individualidade,
a descontração e a ofensividade
do passado não são incompatíveis com a velocidade, a marcação e a disciplina tática atual.
Complementam-se.
Nos últimos anos, a única evolução do futebol, em consequência da vitória valer três pontos,
foi a associação da ousadia com
a forte marcação.
Em vez de jogar atrás e atrair
o adversário para contra-atacar, algumas equipes passaram
a pressionar e recuperar a bola
no meio-campo e próxima à
área do outro time. Assim é
mais fácil chegar ao gol.
Dessa maneira, os jogadores
que participam da marcação no
meio-campo, automaticamente
tornam-se atacantes quando recuperam a posse de bola.
""Quem ataca é atacante."
(Armando Nogueira)
O futebol brasileiro e a seleção
não fazem isso.
Ao anunciar a convocação para o jogo contra os Estados Unidos, Leão escalou o time, repetindo João Saldanha em 1969.
No intervalo da partida retirou
Juninho, Christian e Vampeta.
No primeiro treino para a partida contra o México, o treinador escalou Edílson, Ricardinho
e Edmilson, além de Rivaldo e
Roberto Carlos.
No segundo treino, voltou com
o volante Vampeta no lugar do
atacante Edílson.
No jogo, Edílson retornou ao
time no lugar de Ricardinho. No
segundo tempo, o treinador
substituiu Rivaldo, Roberto
Carlos, Edílson e Ronaldinho.
Desse jeito o Brasil vai chegar
à Copa com as mesmas incertezas de hoje: desorganizado e
sem time. Leão repete os mesmos erros do Zagallo e do Luxemburgo.
O futebol brasileiro começou a
mudar. Dentro de campo surgem antigos e novos técnicos
com outras idéias, como Valdyr
Espinosa, Vadão, Geninho, Abel
Braga e outros. Espero poder
acrescentar o nome de Leão.
Fora de campo, as CPIs estão
desencadeando outros comportamentos.
Surgem novas propostas e
idéias, como as do Sócrates.
Há muita gente incompetente,
fisiologista e que não entende
nada de futebol.
Em todas as áreas. Aproveitam-se do esporte.
Essas pessoas terão de mudar,
ou se retirar.
Para sempre!
E-mail : tostao.folha@uol.com.br
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